A primeira mudança ocorreu no nome. Esqueça a Delphi Automotive Systems. Agora, a companhia norte-americana atende por Delphi Corporation. Não é uma simples vaidade corporativa. A nova assinatura revela a maior guinada na história da empresa que nasceu como uma subsidiária da General Motors, para a qual produzia peças e componentes eletrônicos. Livre das amarras da GM (ela foi vendida em 1999), a direção da Delphi partiu para um programa de diversificação. A meta era conquistar outros clientes no segmento automotivo, além de desenvolver produtos destinados a outras áreas: aeroespacial, telefonia, computação e sistemas militares de defesa, por exemplo. No primeiro caso, os frutos já são visíveis. No balanço de 2001, 32% das receitas líquidas de US$ 26 bilhões foram obtidas com vendas para concorrentes da GM. A divisão de novos negócios, contudo, mantém-se como uma espécie de calcanhar-de-aquiles. Sem muita visibilidade, colabora com apenas 10% do faturamento, apesar de o centro de pesquisas da Delphi ser considerado uma ?usina de idéias?, capaz de registrar, em média, uma nova patente por dia. A mudança da razão social é mais um instrumento com o qual a equipe comandada por J. T. Battenberg III, presidente da Delphi, quer deixar claro que os atributos da companhia vão além de sua força no setor automotivo. ?Chegou a hora de mostrarmos ao mercado nossa competência em outros setores?, diz Battenberg. De fato, sobram à empresa talento, criatividade e tecnologia. Falta, entretanto, mostrar isso ao mercado. Este trabalho está sendo feito através de uma maciça campanha de mídia, que estreou há duas semanas nos Estados Unidos, onde é apresentada a nova ?cara? da Delphi. A intenção é fazer movimento semelhante nos demais 42 países onde a corporação atua, incluindo o Brasil.

Battenberg avisa que não vai parar por aí. Seu plano estratégico é mais ambicioso. Para começar, ele pretende reduzir ainda mais a influência da GM na carteira de clientes. Até 2005, espera que a antiga controladora responda por apenas 50% das vendas de autopeças (em 1999 esse patamar era de 78%), abrindo espaço para as demais montadoras. O presidente da Delphi também não quer manter a marca ?escondida? sob o capô de veículos e utilitários. Dos laboratórios da companhia já saem engenhocas dignas de figurar em filmes de ficção científica, como consoles multimídias que reúnem DVD, som e games que podem ser acoplados ao banco traseiro do carro, usando-se apenas o cinto de segurança. A produção de disqueteiras de CDs é outro item que consta da lista de produtos. A Delphi também pegou carona no modismo dos veículos de duas rodas. A empresa assinou contrato para fornecer o sistema eletrônico do patinete motorizado da Segway.