Uma onda de demissões em massa atinge todo o mundo. Em 2023, segundo o site Layoffs.fyi, que computa as demissões ao redor do mundo, já ocorreram mais de 108 mil desligamentos. Nos Estados Unidos, esta semana, o McDonald’s decidiu fechar temporariamente os escritórios em um processo de preparação para informar os funcionários sobre um plano de demissões. Na semana passada, a Disney anunciou uma primeira rodada de cortes e ao menos 300 funcionários foram dispensados. O plano da companhia é demitir cerca de 7 mil trabalhadores.

No Brasil, um clima ruim toma conta dos bastidores da TV Globo. Nesta semana, profissionais renomados e com mais de 20 anos de casa foram desligados. A justificativa é baseada em corte de custos, uma vez que os profissionais demitidos tinham altos salários. Entre eles, os jornalistas César Galvão, Fabio Turci e Zelda Mello, repórteres de São Paulo; Fábio William, ex-repórter do Jornal Nacional e âncora do DF1 e Márcia Corrêa, editora-chefe do Bom Dia São Paulo com 33 anos de casa. Também foram dispensados Marcelo Canellas e executivos que atuavam atrás das câmeras.

Eduardo Tchao fazia reportagens há 37 anos e foi demitido junto de Mônica Sanches, Leila Sterenberg, editores do Jornal Hoje, da GloboNews e profissionais do site G1. O narrador esportivo Cleber Machado e a apresentadora Fernanda Gentil foram cortados da emissora na semana passada.

O que fazer?

Para o especialista em mercado de trabalho e CEO da Companhia de Estágios, Tiago Mavichian, passar por uma demissão não é fácil, mas é possível sair mais forte da situação.

“Cada pessoa reage de uma maneira, mas, dentro do possível, o ideal é aproveitar a oportunidade para receber algum feedback, alguma pista do que poderia ter feito diferente. Pode ser que a empresa argumente que o motivo foi corte de custos, alegando que outros colegas também foram demitidos, porém, algo fez com você fosse um dos escolhidos, mesmo que não tenha sido o único. Por isso, o ideal é olhar para uma demissão da forma mais racional possível e buscar extrair algum aprendizado”, afirma Mavichian.

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O CEO da Companhia de Estágios e a psicóloga, especialista e professora em Gestão de Pessoas, Cristiana Zappalá, orientam como os profissionais podem superar as dificuldades e se recolocarem mais rápido no mercado de trabalho:

  1. Atualize-se. “É preciso tanto atualizar seu currículo, que será seu ‘cartão de visitas’ a partir de agora, como atualizar seus conhecimentos técnicos e sobre si mesmo. É muito importante ter conhecimentos atualizados da área que buscará atuar como também saber bem seus pontos fortes e fracos. Parece clichê, mas em qualquer contato com novas organizações, saber ‘vender-se’ bem é um diferencial, e isso passa em conhecer bem você mesmo”, afirma Cristiana Zappalá.
  2. Identifique o que você precisa melhorar. “Faça uma retrospectiva mental sobre a sua jornada na empresa, reflita sobre suas atitudes e o quanto de fato se empenhou para que o valor das suas entregas fosse percebido. Será que você se acomodou e seus conhecimentos ficaram defasados? Será que você deveria ter escutado mais os seus colegas de equipe? Fazer esse exercício permitirá que você reconheça quaissão as habilidades comportamentais e técnicas que deve aprimorar, além de te ajudar a lidar com a sua demissão de uma maneira mais estratégica e sensata”, orienta Tiago Mavichian.
  3. ”Há um ditado na área de gestão de pessoas que diz: “entramos pelo currículo, mas nos mantemos (ou não) pelo comportamento”. E os especialistas, na hora da entrevista de seleção, buscam “pistas” dos problemas ocorridos no passado para escolherem melhor o tipo de problema que querem lidar, se vierem a te contratar. A dica, então, é ressignifique o que aconteceu e aprenda com a experiência da sua recém-saída. Não fale mal da organização anterior, nem das pessoas, nem fique se lamentando nas entrevistas de emprego ou no novo local de trabalho. Isso é profissionalismo e conta muito positivamente na hora de se recolocar no mercado de trabalho”, afirma Zappalá.
  4. Tenha um plano de ação. “Para se recolocar e ter um desempenho melhor no próximo emprego, a dica é montar uma agenda diária com as atividades que precisa colocar em prática. Além de procurar cursos e outras formas para aprimorar conhecimentos, o primeiro passo é atualizar o seu currículo. Insira a última empresa, o seu cargo e as principais atividades, resultados e contribuições desenvolvidas. Coloque tudo o que for relevante. Na maioria dos casos, hoje não se usa mais currículo impresso. Porém, é importante deixá-lo pronto para enviá-lo por e-mail ou WhatsApp para recrutadores, sempre que necessário, ou mesmo para usá-lo como referência para preencher formulários e cadastros de processos seletivos online. Não adianta procurar oportunidades, conseguir uma entrevista ou mobilizar seus contatos sem ter feito isso. Evite queimar a largada. Mantenha a calma”, diz o CEO.
  5. Acione sua rede de contatos (network). “Brincadeira à parte, arrumar um novo emprego é como arrumar um novo namorado. Os aplicativos – sites de vagas – funcionam, mas o risco de não dar certo é grande. As indicações que surgem a partir das pessoas que te conhecem e/ou conhecem seu trabalho têm uma chance muito maior de dar certo, pois indicação pessoal é muito mais confiável do que um currículo de alguém desconhecido”, afirma a psicóloga.
  6. Seja estratégico. “Tenha clareza de como gostaria que o seu próximo emprego fosse. Leve em consideração a área de atuação, segmento, local de trabalho, cultura e valores da empresa, tudo isso é importante para otimizar o seu tempo. Assim você consegue traçar um plano de ação mais assertivo e evita passar por novas frustrações. Afinal, se aceitar a primeira oferta de emprego que passar pela sua frente, pode acabar se decepcionando mais tarde. Se tiver dúvidas, procure especialistas em orientação de carreira e invista mais em autoconhecimento”, orienta Mavichian.
  7. Mostre que está disponível. “Com as etapas anteriores em dia, comunique aos seus contatos que você está procurando uma nova oportunidade de trabalho. A forma mais fácil de fazer isso hoje em dia é por meio de uma publicação nas redes sociais, principalmente no LinkedIn, cujas postagens têm foco profissional. Aí vai um ponto de atenção: não fale mal da empresa ou do chefe que te demitiu e, menos ainda, vitimize-se. Não precisa dizer expressamente que foi demitido nem explicar o porquê. A ideia é apenas contar que não está mais na antiga empresa, o que aprendeu nela, mostrar suas habilidades e dizer o que está buscando para o seu futuro profissional”, afirma o CEO.
  8. Amplie seu networking. “Depois de postar nas redes sociais é importante ter uma postura mais ativa. Não espere que um emprego bata na porta, pois dificilmente isso vai acontecer. Entre em contato com as pessoas que você tem mais proximidade como, por exemplo, amigos, ex-colegas de trabalho e professores. Lembre-se de fazer isso com naturalidade, sem parecer oportunista. Além disso, participe de eventos da sua área de atuação, converse e interaja o máximo que for possível com o seu networking”, orienta o especialista em mercado de trabalho.
  9. Potencialize suas chances. “Há plataformas digitais que concentram um grande volume de vagas de emprego e isso aumenta as suas possibilidades de ser encontrado pelas empresas e ser convidado para participar de um processo seletivo. Faça uma lista dos mais relevantes e se cadastre em cada uma delas. Depois, relacione as empresas em que você gostaria de trabalhar e confira se os sites delas disponibilizam alguma maneira de cadastrar o seu currículo em campos como “trabalhe conosco” ou “banco de talentos”. Dê preferência para portais que são bem avaliados no Google e evite, por exemplo, os que vendem cursos ou serviços atrelados a uma promessa de vaga”, afirma Tiago.
  10. Tenha foco. “Confira diariamente seus e-mails porque essa é a forma mais provável que empresas e sites de empregos usam para entrar em contato com candidatos. Fique atento também ao seu WhatsApp, outro meio de comunicação muito usado nessa fase. Ao identificar oportunidades que podem dar match com o seu perfil profissional, leia atentamente as descrições, analise quais são os requisitos solicitados e preencha todos os campos necessários para se candidatar. Agora, um ponto de atenção: se a maioria das vagas de seu interesse pedem conhecimentos e habilidades que você não possui, acelere seu desenvolvimento. Matricule-se em um curso e atualize seu currículo, mostrando que está investindo em aprender. Assim, você aumenta a sua empregabilidade!”, orienta o especialista.
  11. Tudo em seu tempo. Mantenha a paciência e seja persistente. “O tempo que você levará para conquistar um novo emprego está relacionado a uma série de fatores, como o quanto você se dedica à recolocação, nível de conhecimento, volume de vagas na sua área e bons relacionamentos no mercado de trabalho. Considere que o seu trabalho neste momento é procurar um emprego. Se você seguir estes passos, com certeza, em breve, você estará comemorando com amigos e familiares seu novo emprego”, conclui Mavichian.