Loft, Quinto Andar, Kavak, Vtex, Mercado Bitcoin. Além dos valores expressivos que essas empresas movimentam elas têm outro fator em comum: em um curto espaço de tempo, todas anunciaram demissões em massa. Somente a Loft cortou 364 pessoas nesta semana. Outras 159 já haviam sido demitidas em abril. Somando os dois grupos, mais de 500 pessoas foram desligadas nos últimos quatro meses.

Segundo levantamento do Layoffs Brasil, neste ano mais de 2 mil profissionais que trabalhavam em startups perderam seus empregos. Demitidos. Por trás dos números secos da estatística, o pouco cuidado das empresas com a responsabilidade social e com a governança dos negócios, dois pilares cruciais de avaliação de risco de negócio nas boas práticas ESG. Antes de continuar, porém, vale um parêntesis: demissões fazem parte de qualquer negócio, mas neste caso esconde um lado perverso de um estilo de gestão que construiu reputações de bons lugares para se trabalhar baseadas no frágil argumento de ambientes descontraídos com pufes, mesas de sinuca e cerveja de graça.

Cenário hostil esfria boom brasileiro de startups e demissões já somam mais de 3 mil

Voltando ao ESG. Sobre governança, há que se questionar essas startups sobre o planejamento de crescimento e necessidade real de contratações em massa. Como estratégia de marketing, é manchete garantida divulgar que 300, 400, 600 pessoas devem ser contratadas em um ano. Mas como investidas de grandes ou relevantes fundos de investimento essas empresas têm compromisso com os acionistas e têm também responsabilidade com a sociedade. Há uma grande diferença entre as metas de crescimento desejadas e as factíveis, fruto de um crescimento planejado com rigor. Ter uma governança rigorosa é o primeiro passo para reduzir riscos de negócio.

Mas há também um lado social de extrema relevância. No LinkedIn explodem depoimentos de pessoas que deixaram empregos sólidos em companhias estáveis seduzidos por promessas de crescimento rápido, autonomia e agilidade na tomada de decisões. De repente, são cortadas em poucos meses após o início. Muitas vezes, em salas virtuais lotadas de pessoas. Já ouvi de executivos de C-level que sua diretoria deve ser rápida em agilizar as demissões, cortando funcionários nos três meses de experiência em caso de qualquer eventualidade. Três meses! No fundo, o discurso: “Se errou, erre rápido”. Mas não dá para jogar dessa maneira com o projeto de vida das pessoas.

Diante desses dias tenebrosos, as startups precisam assumir suas responsabilidades e erros. Não dá para se esquivar, como a fala do presidente da Kavak, Roger Laughlin, ao Estadão do dia 6 de julho, atribuindo o corte — estimado em 300 pessoas pelo mesmo jornal — a uma estratégia para “manter a empresa saudável” e como resultado da manutenção de “uma nota de corte alta, que resulta em cortes por performance”. Manter a empresa saudável e com alta performance, como reza as leis da boa administração, é fazer um planejamento sólido, consistente e factível e com contratações responsáveis. É governança e responsabilidade com seus funcionários.