11/09/2002 - 7:00
O mineiro Urias Francisco Cintra, dono da fabricante de sapatos masculinos Democrata, está prestes a realizar o sonho de dez entre dez empresários do setor. Depois de se tornar fornecedor de marcas nacionais de ponta como Crawford, Capodarte e Birello, ele vai vender sapatos de couro na Itália. A Democrata, que atualmente produz 1,2 milhão de
pares ao ano e faturou R$ 38 milhões em 2001, acaba de fechar contrato com a italiana Etica Enterprise para distribuir seus produtos na terra
dos tradicionalíssimos Ferragamo e também na França, na Bélgica
e na Alemanha. ?Vamos disputar o mercado de preços
intermediários, ou seja: na faixa entre 90 e 150 euros
(entre R$ 270 e R$ 450)?, diz Cintra.
O melhor, comemora o empresário, é que os sapatos serão vendidos nesses países com a marca Democrata. A empresa já exporta 20% de sua produção. Está presente na Venezuela, Bolívia, Uruguai, Equador, México e Portugal. Mas no mercado de maior visibilidade, o norte-americano (que fica com a metade das exportações), as etiquetas levam os nomes de varejistas locais. Não que isso seja um problema. As vendas nos Estados Unidos estão até crescendo. A rede Johnston & Murphy, por exemplo, vendia os sapatos feitos pela Democrata em apenas 11 de suas 120 lojas. Agora, já avisou que os colocará em todas as demais e também nos 260 pontos de venda do magazine Dillard?s, com quem acaba de firmar uma parceria. Outro importador americano, a Harbor Footwear, que comprou 80 mil pares da Democrata em 2001, encomendou 100 mil este ano a fim de substituir a compra que antes fazia de um produtor italiano. Cintra investiu R$ 500 mil numa de suas três fábricas de Franca para antender a demanda.
A Democrata emprega 1.700 funcionários nas suas seis plantas ? três em Franca (SP), duas em Sacramento e Cássia (MG) e
uma em Camucim (CE). Tem 5% do mercado nacional de sapatos masculinos top (aqueles com preço médio de R$ 99), que movimenta cerca de R$ 800 milhões ao ano. E a fala mansa e o corpo frágil
de Cintra escondem uma fera do setor. Todos os dias ele percorre a linha de produção e é capaz de pegar na mão de um funcionário
para ensiná-lo a costurar. Foi ele quem trouxe da Itália a moda
dos sapatos de bico quadrado. ?Uma loja de São Paulo devolveu
um lote inteiro de 600 pares porque não conseguiu vender nada.
Mas hoje o pessoal já se acostumou?, diz.. Agora são os italianos que vão comprar a moda brasileira.