Nos últimos oito anos, as centrais sindicais e o governo Lula mantiveram o mais longo período de harmonia da história recente. Embalada por uma economia aquecida, a taxa de desemprego despencou de  13,1% para 5,7%, segundo o IBGE, com a criação de 15 milhões de empregos. O ponto alto da lua de mel foi durante a rodada de negociações coletivas do ano passado, quando a disparada no faturamento das empresas garantiu que 97% das categorias conquistassem reajustes salariais. 

 

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Interesses distintos: o ex-presidente Lula chamou as centrais sindicais de oportunistas, enquanto Paulinho da Força (centro) cobra de Dilma

o cumprimento de uma promessa de campanha. Para Vaccarezza, líder do PT na Câmara, é hora de responsabilidade com as contas públicas

 

A sintonia, no entanto, chegou a um impasse na última semana com os debates sobre o reajuste do salário mínimo, em meio à discussão sobre o tamanho do ajuste fiscal. As centrais sindicais e a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff entraram em rota de colisão. 

 

De um lado, os sindicalistas pleiteiam um aumento dos atuais R$ 510 para R$ 580, a partir de março. De outro, o governo admite um mínimo de R$ 545, e reclama que os sindicatos não estão respeitando a fórmula de reajuste do mínimo (reposição da inflação de um ano antes mais a alta do PIB de dois anos anteriores) que eles mesmos ajudaram a criar no governo passado.

 

Não por acaso, o ex-presidente Lula chegou a dizer na segunda-feira 7 que as centrais estariam sendo “oportunistas”. Já os sindicatos alegam que a presidente está descumprindo um compromisso de campanha eleitoral. 

 

“Depois que José Serra propôs um piso de R$ 600, o governo indicou que um mínimo de R$ 580 era viável”, disse à DINHEIRO o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. 

 

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Cena rara: após oito anos de calmaria, sindicatos colocam trabalhadores nas ruas para protestar contra proposta

de reajuste do mínimo. Na quarta-feira 9, 15 mil metalúrgicos fizeram manifestação em São Paulo

 

“Não queremos mudar as regras.” O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, argumenta, entretanto, que a conversa da então candidata Dilma não incluiu uma promessa de R$ 580, mas a sinalização de que a cifra seria avaliada com base na realidade das contas públicas. “É preciso ter responsabilidade e comprometimento com o esforço do governo em domar a inflação”, disse Vaccarezza.

 

O ponto-chave da negociação são, de fato, as contas públicas. Cada R$ 1 de reajuste do salário mínimo representa aumento de R$ 300 milhões nos gastos do governo com aposentadorias e benefícios sociais. 

 

Na ponta do lápis, isso significa que a proposta de reajustar o piso em R$ 35, para  R$ 545 , aumentará em R$ 10,5 bilhões os gastos da Previdência Social, a metade dos R$ 21 bilhões que seriam necessários no caso de um mínimo em R$ 580. 

 

“Aumento dos salários também é aumento de arrecadação”, alegou o deputado Paulo Pereira (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical. “Além disso, o corte de gastos do governo não pode ser financiado pelo bolso do trabalhador.”

 

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Depois de uma manifestação em São Paulo na última quarta-feira 9, a Força prometeu que repetirá atos contra a proposta do governo, que, inclusive, já está no Congresso para ser votada na quarta-feira 16. “Paulinho está confundindo o papel de deputado da base com o de presidente de sindicato.

 

Ele fala em tom de ameaça”, disse um líder sindical que preferiu permanecer anônimo. A posição final do presidente da Força será conhecida esta semana, uma vez que a votação será nominal. 

 

Será o grande teste do governo para medir não só a fidelidade de Paulinho como de todos os partidos que se aliaram à presidente durante a campanha eleitoral. Até o momento, há cinco propostas na mesa – além do piso proposto pelas centrais e pelo governo, há uma proposta de R$ 560 do PDT (partido de Paulinho e que é da base), outro de R$ 565 do DEM e outra de R$ 600 da bancada peessedebista, valor que na última semana foi aprovado no Estado de São Paulo pelo governador Geraldo Alckmin.