10/11/2020 - 12:58
O presidente eleito Joe Biden prometeu durante sua campanha eleitoral transformar a Arábia Saudita em um pária por suas violações aos direitos humanos, mas analistas acreditam que o reino possui armas diplomáticas para evitar uma crise aberta com os Estados Unidos.
A derrota de Donald Trump expõe o reino e o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman ao questionamento americano pelos aspectos autoritários de sua política e pela polêmica intervenção na guerra do Iêmen, opinam os especialistas.
Durante o governo Trump, os Estados Unidos se abstiveram de criticar Salman quando se foi questionada a sua responsabilidade no escândalo do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, além da prisão de opositores do regime.
Joe Biden, entretanto, acusou Trump, cujo genro Jared Kushner tem laços pessoais com o príncipe herdeiro, de ter dado a Riade um “cheque em branco”.
O atual presidente eleito prometeu em campanha solicitar explicações da Arábia Saudita sobre o assassinato de Khashoggi em 2018, além da venda de armas durante a guerra no Iêmen, chegando a ameaçar o país de torná-lo um “pária”.
No entanto, analistas consideram improvável que as relações entre os dois países mudem, pois eles têm interesses comuns na “luta contra o terrorismo” e na estabilidade do mercado de petróleo.
De acordo com especialistas, Biden pode precisar de Riade em questões como o combate à influência do Irã na região e o ressurgimento do Estado Islâmico, além de ser um cliente importante para a indústria militar americana.
“O governo Biden certamente adotará uma linha mais dura em relação aos direitos humanos, mas é improvável que abandone a colaboração com a Arábia Saudita”, disse à AFP David Rundell, ex-diplomata americano que trabalhou em Riade.
– Política ou retórica? –
Riade dá a impressão de desconfiar da promessa de relançar o acordo nuclear iraniano de 2015, estratégia prometida por Biden em contradição com a retirada unilateral decidida por Trump em 2018.
“Biden precisa da Arábia Saudita para agregar a adesão da região a vários assuntos, como o novo acordo com o Irã, o combate ao terrorismo ou as relações entre israelenses e palestinos”, resumiu o analista saudita Ali Shihabi.
O próximo presidente expressou seu apoio aos acordos para normalizar as relações entre Israel e vários países árabes, incluindo o Bahrein. Um acordo que certamente não teria sido possível sem a aprovação do príncipe Salman, que poderia ser usado em uma possível negociação.
Apesar de tudo, as pessoas próximas aos prisioneiros sauditas têm grandes esperanças em Biden, “é hora dos Estados Unidos restaurarem a ordem internacional e do príncipe Salman ser responsabilizado por violações dos direitos humanos na Arábia”, ressaltou à AFP Walid Al Hathlul, irmão do militante Loujain Al Hathlul, preso há dois anos.
“Tudo vai depender da hostilidade política, e não da retórica, que o governo Biden tem com a Arábia Saudita”, afirmou Cinzia Bianco, analista do Conselho Europeu das Relações Exteriores.