03/12/2021 - 8:00
O registro da queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre deste ano, ante aos três meses anteriores confirma que o ano de recuperação econômica prometida pelo governo não passou de promessa. Com a atividade da indústria dando sinais de fraqueza, o comércio patinando, o agro enfrentando barreiras comerciais e os serviços operando com preços reduzidos, a recessão técnica enfrentada neste momento foi a coroação de que as coisas não vão bem. E podem piorar.
Isso porque não basta esperar uma retomada da atividade só porque houve uma queda imprevista como a que a pandemia causou em 2020, é importante dar aos empresários e consumidores confiança de que, passada a crise sanitária, o país seguirá no eixo. E é essa certeza que o governo Bolsonaro tem dificuldade de passar. Para o ano que vem o cenário não se mostra tão diferente. Tradicionalmente, um ano de eleição presidencial já carrega uma dose própria de incerteza, e misturada com as dúvidas criadas ou ampliadas pela atual gestão, o resultado será mais um ano fraco.
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Para VanDyck Silveira, CEO da Trevisan Escola de Negócios, o ambiente não é favorável. “Em 2022 teremos uma queda de PIB de uns 2% com inflação de 7 a 7,5%”, disse. Ele, que foi um dos primeiros economistas a descartar a ideia de que 2021 seria um ano de forte retomada, reforça que um cenário de inflação alta e forte desemprego cria um ambiente ainda mais problemático para os mais pobres que são colocados em uma situação de maior vulnerabilidade.
Do lado do governo, o movimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, é tentar colocar panos quentes. Segundo ele, a queda no PIB foi localizada, e responde apenas pelos problemas enfrentados o agronegócio nos últimos meses. “Foi um acidente de percurso, um acaso, como chuva, vento. Um setor teve queda [agronegócio]. Para o próximo mês, o efeito disso passa, é transitório. A dor de cabeça é muito maior com a inflação”, disse ele em entrevista à CNN.
A inflação, que agora é uma preocupação, há alguns meses era tratada pelo ministro como sazonal, pressionada pela energia e barril do petróleo, com arrefecimento certo no curto prazo. Giuliano Marcondes Sá, professor de macroeconomia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entende que essa demora do governo em aceitar os desafios econômicos é pior que a dificuldade em si. “A inflação é um problema no mundo, mas Guedes tomou decisões que elevam preços, e não que os seguram”, disse. A principal delas foi o aval para revisão no teto de gastos e a retirada da única âncora fiscal que trazia ao mercado uma sensação de controle das contas públicas.
Se Guedes parasse de minimizar problemas e tentasse apresentar soluções antecipadamente, talvez o Brasil não ficasse tão descoberto quando a “gripezinha” do passado se tornasse uma pneumonia.