Às vésperas do feriado de 7 de Setembro, os investidores nas ações de empresas de energia elétrica, consideradas até então a maneira mais segura de investir na bolsa, sentiram-se como se um relâmpago tivesse caído sobre suas aplicações. Após a queda do raio, a constatação é de que os danos não foram tão assustadores como se temia. Passados dois meses da divulgação da Medida Provisória (MP) 579, que provocou uma forte turbulência sobre as cotações, o balanço das mudanças é surpreendentemente positivo. Houve perdas, claro, mas a mudança no marco regulatório do setor deverá ser benéfica para a maior parte das companhias no longo prazo. 

 

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E, para quem não tem medo de eletricidade, as novas regras abriram algumas oportunidades de investimento (leia mais sobre o setor elétrico). “O que provocou toda a turbulência foi uma alteração estrutural na formação de preços da energia que o mercado não entendeu”, diz Eduardo Morais, sócio da gestora de fundos paulista Claritas. “O argumento de que essas mudanças vão provocar um risco regulatório e afastar os investidores do setor é um pouco de exagero.” Recordando. Às vésperas do feriado de 7 de Setembro, a presidenta Dilma Rousseff anunciou em cadeia nacional a revisão das regras de concessão das empresas de energia elétrica, algo que seria formalizado quatro dias mais tarde com a edição da MP. 

 

O objetivo das mudanças é reduzir o custo da energia e aumentar a competitividade de toda a economia brasileira. Como resultado, as companhias que atuam na geração hidrelétrica, e que pagam ao governo pelo direito de construir usinas e explorar a água dos rios vão ganhar menos dinheiro, pois poderão vender sua energia por preços inferiores aos concorrentes. A notícia fez as ações desabarem na bolsa, com perdas que superam os 23% (veja quadro ao final da reportagem, com as recomendações dos bancos para cada papel). Como regra geral, quanto mais os resultados fossem dependentes da geração de energia elétrica, pior para a última linha do balanço e para os dividendos. 

 

A incerteza provocou um movimento generalizado de queda sobre as ações do setor, o que afetou tanto as empresas que serão, de fato, prejudicadas pela mudança – cujo caso mais evidente é o da Eletrobrás – quanto aquelas que passarão ao largo das alterações na lei. “Boa parte das pessoas estranhou a mudança, mas o fato é que o arcabouço legal do setor elétrico está muito mais definido do que antes das mudanças”, diz Morais. Os executivos da área, mesmo aqueles que viram os papéis de suas empresas desabarem, concordam com essa avaliação menos pessimista. “A redução nas tarifas é positiva e contribui para um crescimento da economia, em linha com as preocupações do governo”, diz Britaldo Soares, presidente do grupo AES. 

 

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Britaldo Soares, CEO do Grupo AES: “A redução nas tarifas

é positiva e contribui para um crescimento da economia,

em linha com as preocupações do governo”

 

“No caso da distribuição, a redução nas tarifas pode contribuir para uma queda na inadimplência e para um crescimento do mercado.” Nesse novo cenário, a principal mudança – e a menos agradável para os investidores – é que a velha fórmula em que as empresas de eletricidade pagavam, automaticamente, gordos dividendos, deixou de existir. “A rentabilidade vai se alinhar à redução das taxas de outros setores da economia”, diz Karina Freitas, analista da corretora Concórdia. Mesmo assim, o pregão não está desfalcado de oportunidades para quem busca apenas os proventos. “Empresas como a Cemig são uma boa alternativa”, diz Morais, da Claritas. “Ela é uma das mais bem geridas do setor, e mesmo com a revisão das concessões, deverá continuar sendo uma boa geradora de caixa nos próximos três anos.” 

 

Há, ainda, outros pontos positivos a considerar. O impacto sobre as empresas ainda não é definitivo, e a maior probabilidade é que a situação melhore para o acionista. Isso porque a Medida Provisória ainda terá de ser negociada e votada no Congresso – e, nesse processo, é bastante provável que a situação melhore para as elétricas. Segundo Karina Freitas, da Concórdia, os governos estaduais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná dependem bastante dos dividendos pagos por suas empresas, respectivamente a Cemig, a Cesp e a Copel. “Os governadores vão mobilizar suas bases para melhorar as condições e os prazos de renegociação”, diz ela. Esse cenário poderá gerar algumas oportunidades de investimento, pelo menos no curto prazo.

 

Quais ações comprar e quais evitar? Todos os analistas são unânimes que a companhia mais prejudicada será a Eletrobrás. Por ser controlada pelo governo federal, a empresa dificilmente deixará de cumprir as determinações de Brasília. Em uma conta aproximada, ela terá uma perda de R$ 14 bilhões. Não por acaso, suas ações lideraram as quedas. Outros papéis, especialmente os das companhias que obtêm a maior parte de seus resultados da distribuição de energia, como CPFL e Tractebel serão menos afetadas pelas mudanças e deverão continuar pagando bons dividendos. “Essas ações chegaram a cair bastante, mas recuperaram quase tudo o que perderam nos dias subsequentes à divulgação da medida, o que prova que o temor do mercado era exagerado”, diz Morais.

 

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Com reportagem de Patricia Alves