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Clubes já têm R$ 10,5 bilhões e atraem investidores de longo prazo, diz lois, da Spinelli

 

Nem todos os marinheiros de primeira viagem entraram em pânico no meio da tempestade financeira que abalou as bolsas mundo afora. Sem deixar o barco afundar, muitos investidores individuais decidiram que não era hora de pular em alto-mar.

Era possível manter a calma e esperar dias melhores para continuar remando. Os mais destemidos chamaram amigos e familiares para enfrentar o mar bravio em clubes de investimento em ações. Isso, em plena crise. Nos últimos 18 meses, surgiram 1.028 novos clubes na BM&FBovespa. O que atraiu tantos investidores?

 

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Luis Bayarb, do Logus, cuida de R$ 950 mil e não investe em blue chips

 

A maré trouxe à tona muitas ações de boas empresas que estavam com preços pouco atrativos. Os novos clubes de investimento foram criados para aproveitar a desvalorização da maior parte dos papéis do mercado brasileiro – o Ibovespa perdeu 43% no ano passado. “Quem abriu clube no meio da crise tinha um conhecimento financeiro maior”, diz Raul Meyer, diretor da Ativa Corretora. Essa é uma pequena amostra da consciência que toma conta do investidor brasileiro.

Lições como “investir na baixa e vender na alta” já não ficam apenas nas apostilas dos cursos de educação financeira. “As pessoas estão começando a colocar as ações como projeto de vida e investimento para o longo prazo”, diz Manuel Lois, diretor da Spinelli Corretora. É esse espírito que une amigos e familiares para formar um clube de investimento. “Aproveitamos a mínima da bolsa, o interesse de três amigos e abrimos o clube”, conta Luis Bayarb. Ele faz a gestão do Clube Logus, criado em dezembro passado, hoje com 12 participantes e patrimônio de R$ 950 mil. No total, os 2.798 clubes existentes administram R$ 10,5 bilhões.

O Logus faz parte de uma nova geração de clubes de investimentos que confia em um dos participantes para gerir a carteira. Bayarb evita os papéis óbvios, como a dupla de blue chips Petrobras e Vale. “Está começando a cultura de mesclar ações de primeira e segunda linhas”, diz Lois. O Logus utiliza um software que ajuda a definir quais ações estão atrativas e podem gerar um retorno diferenciado.

“Ações de grande liquidez não entram”, afirma Bayarb, que está esperando o risco do mercado diminuir para concentrar os investimentos em cinco papéis – hoje, são 11. Nessa mesma linha, Mauro Martins, um economista de 71 anos, é quem faz a gestão do Clube MMInvest. Criado em março de 2008 com pessoas de sua relação pessoal, já tem R$ 400 mil. “Abrimos indiferentes ao momento da bolsa. Estamos interessados no longo prazo”, diz ele, que passa duas horas por dia analisando a economia mundial.

Alavancagem não faz parte da cartilha e só uma parcela está alocada em papéis de pouca liquidez. “Quando quiser entrar e sair, sempre tem negócio”, diz. O crescimento dos clubes exigiu atenção das corretoras, que são responsáveis pela administração e supervisão do cumprimento das regras. O sucesso na rentabilidade fez alguns deles extrapolarem seus limites, montando sites para divulgar a rentabilidade e atrair novos investidores.

Como clubes não podem fazer propaganda, as corretoras apertaram o cerco para evitar problemas. O monitoramento ficou mais rígido e o acompanhamento das novas adesões passou por um filtro. Isso porque muitos clubes começaram a atrair uma grande quantidade de dinheiro de diferentes partes do País. Alguns gestores receberam orientações sobre riscos excessivos. “Um clube estava muito agressivo em opções e conseguimos contornar o problema sem consequências para os demais cotistas”, comenta Lois.