13/12/2022 - 1:25
O mundo deve “repensar a segurança nuclear” — declarou o ministro ucraniano da Energia, German Galushchenko, em entrevista à AFP, ao enumerar os riscos de acidentes na central nuclear de Zaporizhzhia, perto da frente de guerra.
“É uma questão direcionada para todos os países do mundo”, disse ele na noite de segunda-feira (12), durante sua viagem para a conferência de apoio à Ucrânia, em Paris.
Entre as demandas a serem apresentadas na conferência, Galushchenko citou material de apoio para os ucranianos passarem o inverno, um período que a população enfrentará com até 50% da infraestrutura energética, danificada por ataques dos últimos meses, assim como o início do serviço de reconstrução.
A produção de eletricidade na Ucrânia depende em mais de 50% da energia nuclear, e o país não pretende abrir mão dela.
“Temos projetos de novas centrais, contratos já assinados, e vamos continuar com a nuclear, porque temos muita experiência e milhares de profissionais”, explicou.
Ele ressaltou que é urgente rever os manuais civis de segurança nuclear que não previam o que aconteceu na Ucrânia.
“Ninguém pensou nisso, porque todos os riscos contemplados foram acidentais”, como a colisão de um avião e a capacidade do reator em resistir ao choque, disse o ministro.
“Temos que considerar as ameaças militares. É absolutamente novo, não apenas para nós, mas para o mundo inteiro. Temos que refletir juntos (…) Esta guerra muda totalmente nossa visão de segurança e proteção nuclear”, afirma.
“Não é um problema de proteção nuclear apenas da ucraniana. Qualquer míssil pode voar mil quilômetros e atingir um reator nuclear (…) Esta situação nos leva a repensar, totalmente, o que devemos fazer do ponto de vista de segurança”, acrescentou.
– “Jogo louco” –
Localizada no leste do país, Zaporizhzhia é a maior usina da Europa com seis reatores. Atualmente está sob ocupação russa.
As discussões para desmilitarizar a área não avançam, e o entorno do complexo continua sendo alvo de bombardeios.
As forças russas “bombardearam diversas vezes as linhas que conectam Zaporizhzhia com a rede elétrica, e a usina sofreu apagões cinco vezes”, disse o ministro.
Uma usina nuclear precisa de um constante fornecimento elétrico para resfriar o combustível, mesmo que desligada como Zaporizhzhia está desde setembro.
Cada uma dessas vezes, “os geradores diesel se colocaram em movimento” em “um cenário parecido com o de Fukushima”, compara o ministro, em referência à catástrofe ocorrida em 2011 na usina japonesa.
“Bombardearam as linhas ucranianas, a usina pôs seus geradores a diesel em funcionamento, e isso significa que estamos a um passo do acidente”, insistiu.
Os geradores possuem reserva de combustível para dez dias.
“É um jogo louco em torno da segurança nuclear (…), um jogo perigoso”, acrescenta.
Em Zaporizhzhia, a segurança é garantida por funcionários ucranianos que vivem, segundo o ministro, “sob pressão diária, moral e física”. Ele também cita o cansaço e os episódios em que técnicos são alvejados por franco-atiradores durante o trabalho de reparo das linhas.
“Temos que temer um ataque de míssil na usina de Rivne, ou na usina de Khmelnitsky? Não sei, não ficaria surpreso se isso acontecesse, porque já tivemos um míssil caindo a 100 metros de um reator no sul da Ucrânia, acidentalmente, ou não”, disse ele, referindo-se a outras usinas nucleares no país.
“Mas, quando você usa 100 mísseis, pode haver um acidente, e um míssil pode cair em qualquer lugar”, alertou Galushchenko.