25/06/2025 - 14:35
Pyongyang compartilhou tecnologia e conhecimento em construção de bunkers com Teerã. Segundo especialista, tudo indica que regime esteja se movendo para aprender com os erros estratégicos que pegaram o Irã desprevenido.A Coreia do Norte foi um dos países que condenou os ataques dos Estados Unidos a três instalações nucleares do Irã, no último fim de semana, acusando o governo do presidente Donald Trump de violar a integridade territorial do Irã e a Carta das Nações Unidas.
O regime em Pyongyang, que já havia descrito os ataques com mísseis israelenses contra o Irã como um “ato hediondo”, pediu à comunidade internacional que “levante a voz de censura e rejeição unânimes contra os atos de confrontação dos EUA e de Israel”.
A Coreia do Norte, que tem armas nucleares, mantém boas relações com o Irã. Por décadas suspeitou-se que tenha havido cooperação militar entre os regimes em Teerã e em Pyongyang, inclusive no desenvolvimento de mísseis balísticos, que cientistas iranianos teriam aprimorado desde então.
Há cerca de 20 anos, a Coreia do Norte começou a enviar ao Irã engenheiros com experiência na perfuração de túneis profundos. Especialistas norte-coreanos supostamente projetaram e ajudaram a construir os túneis subterrâneos profundos e reforçados nas instalações nucleares iranianas de Natanz e Isfahan.
Desde o início da Guerra da Coreia, em 1950, a Coreia do Norte passou a esconder grande parte de seus principais recursos militares em bases subterrâneas. O regime deve agora estar empenhado em determinar a eficácia de seus bunkers subterrâneos, analisando o impacto das bombas GBU-57 lançadas pelos EUA contra alvos iranianos na Operação Martelo da Meia-Noite.
“Eles certamente observaram de perto o que aconteceu no Irã”, diz o analista Chun In-bum, um tenente-general aposentado da Coreia do Sul e membro sênior do think-tank americano National Institute for Deterrence Studies. “A prioridade agora será garantir que a mesma coisa não aconteça com eles.”
“Creio que as conclusões a que a Coreia do Norte chegará serão que eles precisam elevar seus recursos de armas nucleares e fortalecer ainda mais suas áreas de armazenamento”, afirma. Ele avalia que os norte-coreanos deverão adotar medidas de proteção adicionais, como uma melhor defesa aérea e opções de retaliação.
Aprender com os erros do Irã
O que o especialista descarta é que o ataque ao Irã faça a Coreia do Norte querer dialogar. “De jeito nenhum. Isso simplesmente não é da natureza deles.”
Mas ele avalia que a Coreia do Norte esteja tão espantada quanto os demais países do mundo com a “postura decisiva” do governo Trump e que também teria sido pega de surpresa com um ataque americano.
Tudo indica que o regime da Coreia do Norte esteja se movendo para garantir que o mesmo não aconteça com ele. “A Coreia do Norte aprenderá com os erros do Irã”, diz o professor de estudos internacionais Leif-Eric Easley, da Universidade de Mulheres Ewha, em Seul.
“No caso do Irã, Israel explorou os erros estratégicos e táticos de Teerã, usando inteligência, tecnologia e treinamento superiores para enfraquecer as defesas aéreas, o pessoal capacitado e as opções de retaliação do Irã”, destaca.
Pyongyang sabe que sua situação é completamente diferente da de Teerã, tanto em termos da geografia do país quanto de seus aliados: China e Rússia estão melhor posicionadas para ajudar Pyongyang do que Teerã.
E há ainda o status do próprio programa nuclear. “O programa nuclear de Pyongyang é muito mais avançado, com armas possivelmente prontas para serem lançadas em múltiplos sistemas de lançamento, incluindo ICBMs”, diz Easley. A Coreia do Norte tem condições de atingir o território americano, e Seul também está ao alcance de suas armas.
Kim e a ameaça de troca de regime
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, também deverá se apoiar em sua aliança com o presidente russo, Vladimir Putin, para obter as armas e tecnologias mais recentes e em quantidades suficientes para preservar seu regime.
“Não é coincidência que Moscou tenha se apressado em receber o ministro do Exterior do Irã após os ataques dos EUA, e que Putin tenha enviado Serguei Shoigu para se encontrar com Kim Jong-un enquanto o G7 se reunia no Canadá”, diz Easley.
“A coordenação da Rússia com o Irã e a Coreia do Norte mostra como a segurança em múltiplas regiões está cada vez mais interligada”, observa.
Chun, porém, diz que a prioridade de Kim agora é garantir sua própria segurança pessoal e o futuro da única ditadura comunista hereditária. Ele deve ter ficado profundamente alarmado com as insinuações de Trump de que os militares americanos sabiam onde o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, estava escondido e sobre uma mudança de regime em Teerã.
“Kim está muito bem protegido da ameaça de uma estratégia militar de decapitação, com véus de sigilo sobre sua localização e movimentos. Tenho certeza de que ele manterá esse sigilo e garantirá que as informações sobre seu paradeiro sejam as mais limitadas possíveis”, afirma.