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 O botão da sorte o presidente Fabio barbosa (ao centro) faz a abertura simbólica da bolsa e mira o aumento das agências do banco

O Santander veio para fazer barulho. Os espanhóis desembarcaram no País com apetite para abocanhar a liderança do mercado bancário brasileiro e incomodar os gigantes estabelecidos: Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco.

Ainda não conseguiu. Mas às 10 horas da quarta-feira 7, em alto e bom som, o grupo de afro-reggae Bate-Lata entrou no salão da BM&FBovespa e fez sua batucada como cartão de visita para a estreia da instituição na bolsa. Vinte e nove minutos depois, o presidente Fabio Barbosa disparou por 35 segundos a campainha que marca, simbolicamente, o começo das negociações das ações.

“Não havia melhor momento para nossa oferta de ações”, comemorou ele no seu discurso. A captação chegou a R$ 14,1 bilhões, ganhou o título de maior valor conseguido por uma empresa no mercado de capitais mundial no ano e elevou o Santander à quinta posição em valor de mercado entre as companhias brasileiras.

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Quem participou do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) tinha a expectativa de ver o papel subir já no seu primeiro dia de negociação. Na noite anterior à estreia, o pacote da unit do Santander, formado por 55 ações ON e 50 PN, valia R$ 25,20. Era natural esperar uma valorização de, pelo menos, 7,3% do preço de lançamento de R$ 23,50.

Porém, no final do pregão, a queda de 3,7% fez o papel fechar cotado a R$ 22,62, apesar de o Ibovespa ter ficado estável (-0,05%). O desempenho foi semelhante ao da empresa de tecnologia Tivit, que estreou em setembro na bolsa e caiu 3,3% na primeira negociação. A Visanet, outra estrela que foi ao mercado de capitais em junho, bombou 13,3% logo de cara. “O Santander foi uma surpresa porque a demanda dos investidores foi bem maior do que a oferta inicial”, diz Nicholas Barbarisi, sócio da Hera Investments.

No rateio para os pequenos investidores, era possível comprar R$ 3 mil. Eles, que são considerados os flippers do mercado por negociarem suas ações logo depois da largada, parece que perderam a vez. Na fila vendedora do primeiro dia, as corretoras do JP Morgan, Morgan Stanley e Credit Suisse, que são a porta de entrada para investidores estrangeiros e institucionais, encabeçavam as ordens para queimar os papéis.

Será isso uma indicação de decepção com os números do banco ou um movimento de quem já considera a bolsa brasileira acima de seu potencial? Nem uma coisa nem outra. A ação do Santander andou colada aos seus pares na BM&FBovespa. Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco despencaram 2,2%, 3,1% e 3,6%, respectivamente. É um comportamento que o investidor vai sentir daqui para a frente.

“O setor bancário vai andar colado”, diz Mauro Calil, especialista em formação de patrimônio. As corretoras estão proibidas de comentar sobre essa oferta do Santander e vão cumprir a quarentena imposta pela Comissão de Valores Mobiliários. DINHEIRO conversou com alguns profissionais do mercado que enxergam um potencial de valorização de até 20% para o papel em 12 meses. O desempenho no primeiro dia não deve ser visto como um sinal de falta de potencial de valorização. “Somos o país dos banqueiros.

No curto prazo fica difícil analisar se vai subir ou descer, mas o spread dos bancos é maravilhoso e em cinco anos a perspectiva para o setor é ótima”, diz um analista. “O Santander vai ser um papel obrigatório na carteira de grandes fundos e fundações. E já vem com a dimensão mundial que nem Bradesco nem Itaú Unibanco ainda têm”, reforça outro especialista. O presidente Fabio Barbosa lembrou que o banco iniciou o processo de consolidação do setor com a compra do Real há dois anos.

E a integração das duas instituições vai até a metade do ano que vem, inclusive com uma parte da captação bilionária sendo utilizada para a abertura de novas agências. “O banco ainda está em processo de fusão e é cedo para avaliar como um bom investimento sem esse resultado final”, afirma Barbarisi. Nesses próximos dias de negociação, o investidor poderá comparar os indicadores dos quatro principais bancos.

Em um relatório ao qual DINHEIRO teve acesso, entregue para um grupo de investidores em setembro, o preço da ação sobre o lucro da companhia (PL), que mede o tempo de retorno do capital investido, o Santander era o menos atrativo entre os brasileiros. De lá para cá, muita coisa mudou. E a ação do banco espanhol, quando você ler essa reportagem, já pode ter dado a virada que esse texto, escrito na quartafeira 7, não acompanhou.