15/03/2022 - 17:39
A depressão é um problema universal, crescente e negligenciado que exige urgentemente ser tratado como uma questão de saúde pública, principalmente pelos países mais pobres. Esta é uma das conclusões de uma ampla pesquisa internacional divulgada no final de fevereiro pela revista científica The Lancet.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, das quais 81% vivem em países de baixa renda, como o Brasil. O órgão aponta que 5% dos adultos no mundo sofrem com a doença e que os ministérios da saúde gastam menos de 2% de seus orçamentos em tratamentos e prevenção de doenças mentais.
+ A quetamina se banaliza contra a depressão nos EUA
+ Depressão atinge 5% da população mundial, diz estudo; veja os sintomas
Segundo o estudo Tempo para uma Ação Unida Sobre a Depressão, conduzido por 25 pesquisadores de 11 países de diversas áreas de atuação, até 80% das pessoas afetadas pela depressão sequer sabem de seu diagnóstico. A detecção e o tratamento precoce são essenciais no combate à depressão.
“A Comissão enfatiza a importância da detecção e diagnósticos precoces de depressão, que dependem do acesso à saúde, apoio e não estigmatização social e do ambiente de trabalho. Há motivo para esperança: a grande maioria dos indivíduos com depressão recuperam-se quando obtêm suporte e tratamento adequados”, afirma o estudo.
Embora seja universal e atinja igualmente a todos os indivíduos, a depressão tem maior prevalência em pessoas vulneráveis socialmente: população LGBTQIAP+ e negra, refugiados e economicamente desfavorecidas.
“A Comissão convoca a uma perspectiva de saúde pública da depressão que aponta a estrutura social como determinante à severidade, profundidade e duração de suas consequências. Parte desta perspectiva deve incluir ajuda às populações já estigmatizadas ou criminalizadas, como a população LGBTQIAP+, pessoas com histórico de perseguição racial, indígenas e outros grupos étnicos”, pontuam os cientistas.
Ainda há argumentos econômicos ao tratamento da depressão: o tratamento pode dar chance a milhões de pessoas tornarem-se saudáveis e, consequentemente, mais produtivas.
“Não há outra condição de saúde que seja tão comum, tão onerosa, tão universal ou tão tratável quanto a depressão, mas que receba pouca atenção política e recursos”, argumenta, por nota, o psiquiatra brasileiro Christian Kieling, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O estudo defende a capacitação de diversos profissionais, não apenas médicos e psicólogos, para ajudar a enfrentar a depressão.
A pandemia causada pela Covid-19 acentuou o problema da doença no mundo. Há estudos que indicam que, quanto mais tempo uma pessoa fica fora de suas atividades rotineiras e sociais, mais chances tem de sofrer impacto em sua saúde mental.