25/04/2012 - 21:00
Por conta exclusivamente de seus seguidos governantes e de arroubos nacionalistas fora de hora, a Argentina está se convertendo num celeiro de ofensas à livre iniciativa e às regras de mercado. Depois do calote da dívida, que por anos marcou negativamente sua imagem e promoveu uma longa estiagem de investimentos externos em virtude da desconfiança global, eis que a presidenta Cristina Kirchner decidiu de um dia para o outro, surpreendendo o mundo, aplicar uma expropriação golpista contra a petrolífera YPF, até então controlada pelo grupo espanhol Repsol. Foi o ponto alto de uma série de decisões antipáticas ao empreendedorismo na região.
No rastro, e em paralelo, ainda suspendeu a licença de funcionamento da multinacional Bunge, que atua no setor de alimentos e commodities, e incrementou diversas medidas protecionistas contra empresas brasileiras que enfrentam o caos na fronteira e enormes dificuldades para a liberação de seus produtos comercializados naquele mercado, quebrando acordos do Mercosul. Não há nenhum sinal de que o ímpeto estatizante da presidenta irá parar por aí. A favor de sua cruzada, Kirchner tem contado inclusive com amplo apoio da população e de parlamentares que, curiosamente, parecem identificar no capital internacional o vilão responsável pelo mau desempenho da economia, elevando ainda mais as barreiras contra o desembarque no seu parque produtivo.
Os riscos de instabilidade para negócios naquele país vêm aumentando gradativamente com essa política populista, que revive os piores defeitos do movimento justicialista da era Perón. Um retrocesso. Na escalada de equívocos, contratos são rasgados gerando insegurança jurídica e números macroeconômicos são maquiados para esconder o real estágio dos problemas internos. A Argentina, sem recursos sequer para bancar os investimentos de que a YPF necessita, derrapa na política de preços controlados dos combustíveis e vai encontrar enormes dificuldades para captar recursos externos que banquem o seu óleo. Nesse cenário, não dá para descartar também a ameaça de contaminação de outras economias do continente. Algo que vem em péssima hora, justamente quando o parque industrial brasileiro angaria credibilidade e habilita-se a um papel de destaque na plataforma de empreendimentos globais.