A presidente Dilma, em seu discurso na ONU, na semana passada, não deu margem a dúvidas quanto a sua opinião sobre práticas protecionistas: “O protecionismo deve ser combatido porque promove competitividade de forma espúria e fraudulenta”, afirmou diante de uma plateia de chefes de Estado de todo o planeta. Nesse pormenor, há uma distância grande entre o discurso da presidente e o que seu governo colocou em prática no setor automobilístico brasileiro, apenas alguns dias antes da estreia histórica nos salões internacionais. O aumento de 30% na taxação de IPI dos carros importados entra para aquele rol de medidas inconcebíveis, que jamais poderiam ser pensadas como política industrial para um país em sintonia com a globalização e o livre mercado. 

O IPI majorado implode a livre concorrência, prejudica diretamente o consumidor e, em nenhuma hipótese, irá promover a melhoria do carro nacional. Ao contrário. Ao instituir uma espécie de reserva de mercado, com um protecionismo descabido que privilegia apenas quatro montadoras, o governo faz o Brasil regredir no tempo, à chamada “era das carroças”, em que os modelos em circulação seguiam ultrapassados, inferiores às versões congêneres do mesmo fabricante lá fora. Está no manual básico da livre iniciativa: a falta de concorrentes provoca acomodação, estimula o cartel e retira do grupo de beneficiados a pressão por investimentos em avanços tecnológicos e eficiência. É o que pode voltar a acontecer por aqui se essa decisão não for rapidamente revogada. 

 

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Ao podar a atividade das fabricantes estrangeiras no mercado interno – que, de mais a mais, estavam dando passos firmes e graduais para ampliar sua participação aqui, inclusive com linhas de montagem para alguns modelos, como fizeram Mercedes, Hyundai e Mitsubishi, entre outras –, o governo também prejudicou toda uma rede de concessionárias, revendedores de autopeças e fornecedores que orbitavam em torno dessa atividade, com milhares de postos de trabalho colocados em risco. A alegação de que almejava proteger o emprego interno com a medida não passa de falácia, dado que boa parte dessas linhas industriais de veículos é altamente robotizada. E mesmo que fosse esse o sentido, por que eleger apenas um segmento empresarial, com tão poucos concorrentes? Qual a razão de um protecionismo dirigido, enquanto outras áreas de atividade seguem recebendo incentivos no País, inclusive de baixa de impostos, para avançar?  É vital que as autoridades brasileiras retomem o bom-senso o quanto antes e revisem essa derrapagem, evoluindo para um novo escopo de regime automotivo.