07/08/2015 - 20:00
É fácil saber quando há uma crise nas bolsas de valores. Analistas aparecem na televisão. As agências de notícias, os jornais e as revistas de economia – DINHEIRO entre elas – destacam fotografias de investidores preocupados ao redor do mundo. No entanto, um mercado mais importante do que o acionário está, neste exato momento, atravessando sua maior crise desde 2008. Indicadores de preços importantes estão em seus menores níveis nos últimos seis anos (veja quadro na pág. 60), e não há sinais de retomanda no curto prazo. Essa crise pouco perceptível está ocorrendo com as matérias-primas básicas, as chamadas commodities. Minérios como ferro, níquel ou cobre, alimentos como grãos de soja, ou fontes de energia como petróleo e carvão, são menos glamourosos do que ações da Apple ou do Google. Mesmo assim, em conjunto, eles movimentam mais dinheiro do que os papéis das empresas, e seus indicadores são ruins.
Pressionadas por uma desaceleração da economia global, capitaneada pela China, e por uma valorização do dólar, as cotações estão em baixa. Mais do que isso, não há sinais de mudança dessa trajetória no curto prazo, pois um dos principais vetores que influenciam as cotações voltou a se mover. “Os preços das commodities costumam oscilar na direção contrária dos juros nos Estados Unidos, e as taxas americanas devem começar a subir em setembro, depois de passar sete anos próximas de zero”, diz Paulo Nogueira Gomes, economista chefe da gestora de investimentos AZ Futura, associada à italiana Azimuth.
Esse cenário é ruim para o Brasil, pois o equilíbrio de sua balança comercial depende muito das exportações de minérios e de commodities agrícolas. Também é um ambiente especialmente danoso para o investidor. O resultado de cinco das dez ações mais negociadas na Bolsa – Petrobras PN e ON, Vale PNA e ON, e Gerdau PN – é diretamente influenciado pelo mercado de commodities. Outros nomes relevantes como BRF e Minerva também dependem desses preços internacionais. Não por acaso, papéis importantes têm apresentado quedas sistemáticas ao longo dos últimos meses. No ano, até a quarta-feira 5, as ações preferenciais da Gerdau recuaram 34% após caírem 46,7% em 2014. Desde o fim de 2013, as preferenciais da Vale perderam 60% de seu valor.
Apesar da miríade de notícias negativas, os especialistas concordam que, como toda crise, a que está ocorrendo gera algumas oportunidades para os investidores. “A reação do mercado foi exagerada e alguns papéis caíram demais”, diz Rafael Giovani, diretor operacional da corretora carioca Um Investimentos. “A economia americana está dando sinais de expansão, e 50% da receita da Gerdau vem de atividades nos EUA.”
Há outro ponto que pode beneficiar esses papéis. “É certo que uma baixa das commodities afeta os resultados das empresas, mas a situação não é assim tão simples”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora paulista TOV. “Boa parte das receitas dessas empresas vêm da exportação, e uma alta do dólar melhora automaticamente os resultados.” Um bom exemplo são as ações do setor de papel e celulose. No ano, as ações da Fíbria, que exporta praticamente toda a sua produção, já subiram 50,6%. Gomes, da AZ Futura, concorda. “Quase todos os analistas fizeram suas projeções para Fíbria com um dólar a R$ 3,35”, diz ele. Com a moeda caminhando para um patamar superior a R$ 3,50, há espaço para quem quiser arriscar. “As ações não deverão repetir a valorização dos últimos meses, mas ainda podemos ver altas de 10%”, diz ele. O mesmo raciocínio vale para empresas que não se dedicam apenas à produção de celulose, como Klabin e Suzano.
No entanto, mais do que em outros setores, essas ações são papéis que submetem o investidor a fortes emoções. As cotações das commodities estão sujeitas não apenas às oscilações da demanda, mas também aos movimentos especulativos dos grandes fundos de investimento internacionais. “É preciso tomar um cuidado adicional com os riscos”, diz Silveira.