29/04/2014 - 16:48
No último sábado 26, o mineiro Glover Teixeira desafiou o lutador americano Jon Jones pelo cinturão da categoria meio-pesado do UFC, campeonato de artes-marciais mistas (MMA). Depois de cinco rounds, todos dominados por Jones, o brasileiro perdeu a luta por pontos, dando adeus ao sonho de conquistar o título. Sua derrota é apenas mais um revés sofrido pelo UFC no País. Após um início avassalador com Anderson Silva, que fez do evento uma febre entre os brasileiros, a modalidade enfrenta seu maior desafio para expandir seus negócios.
Após derrotas de campeões carismáticos como Júnior dos Santos, o Cigano, e, principalmente, Anderson Silva, o Spider , o esporte já não conquista fãs tão rapidamente quanto antes. Os primeiros a perceberem o fenômeno são os donos de bares, que costumavam lucrar muito nos dias de luta. “Os clientes hoje nem sabem em quais dias serão realizadas as lutas”, diz Gabriel Gaiarsa, sócio do Rock n’ Roll Burger, bar e lanchonete paulistana que transmite todas as lutas da modalidade. De acordo com o dono do estabelecimento, o UFC serve agora como uma forma de manter os clientes por mais tempo, mas não funciona mais como um chamariz. Algo diferente do que ocorre nas filiais do restaurante americano Hooter’s. “Não sentimos nenhuma diferença”, afirma Marcel Grolmieh, CEO da empresa no Brasil. “Inclusive diversas marcas nos procuram para fazer ações nas casas nesses dias.”
Os números de audiência do UFC no Brasil estão caindo. A terceira temporada do reality show The Ultimate Fighter, transmitido pela Globo nas noites de domingo, vem registrando nove pontos de audiência em média, segundo monitoramento do Ibope, ante 15 pontos da primeira edição. No último combate transmitido pela emissora, a luta entre o brasileiro Vitor Belfort e o americano Dan Henderson, ocorrida em novembro de 2013, o ibope estacionou nos 10 pontos e 33% de share (percentual de televisores ligados no programa). Dois anos antes, a luta da estreia do UFC na Globo, a primeira disputa de cinturão entre os pesos-pesados Cain Velásquez e Cigano, ficou com 16 pontos e 43% de share.
É verdade que a quantidade de eventos no Brasil cresceu. Apenas em 2013, foram realizados sete eventos, contra três em 2012 e apenas um em 2011. O público total das lutas cresceu, de cerca de 45 mil em 2012 para 56 mil no ano passado. Por outro lado, com eventos menores e em cidades fora do eixo Rio-São Paulo como Natal e Goiânia, no entanto, a média de público caiu de 15,3 mil para 8,3 mil.
Nos Estados Unidos também é possível ver um movimento semelhante. Em 2011, o UFC assinou com a FOX a realização de diversos eventos em televisão aberta. O primeiro televisionado foi a mesma disputa de cinturão transmitida pela Globo, entre Cigano e Velásquez, teve audiência de 5,7 milhões de telespectadores. A transmissão mais recente, ocorrida neste mês de abril, entre o brasileiro Fabrício Werdum e o havaiano Travis Browne, alcançou 1,9 milhão de pessoas.
Dependência do Aranha
Os resultados dividem especialistas. “O UFC e o MMA se fixaram muito na figura do Anderson Silva”, afirma Clarisse Setyon, coordenadora de MBA de marketing esportivo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP). Para a professora, caso Anderson não recupere seu posto de melhor do mundo, o esporte vai sofrer uma queda parecida com a que o tênis teve no País, após a queda de Gustavo Kuerten, ex-número 1 do mundo no esporte. “Mesmo assim, não acredito que voltará ao auge visto em 2011 e 2012”, diz.
“De fato, o brasileiro é mais ligado ao resultado do que ao esporte em si”, afirma Otávio Carvalho, analista da Nielsen Sports. “Mas continuamos tendo uma grande repercussão, ainda mais por termos dois campeões na franquia: José Aldo e Renan Barão.” De acordo com a pesquisa da Nielsen Sports, o MMA vem se consolidando como terceiro esporte preferido no Brasil, com 6,2% de participação. Ainda bem distante dos líderes futebol (67,9%) e vôlei (23,9%). O estudo também aponta uma desaceleração no crescimento da modalidade. Em 2012, o avanço foi de 184%. No ano passado, não passou de 14,8%. “Agora, provavelmente, o UFC vai passar por um período de estabilização”, diz Carvalho.
A briga entre os treinadores do atual reality show da Globo também não contribuiu para a imagem do UFC. O brasileiro Wanderlei Silva e o americano Chael Sonnen, conhecido falastrão do evento, protagonizaram cenas de pancadaria, após diversas ofensas disparadas por Silva. As agressões foram criticadas pelos mais diversos escalões da franquia: desde o promotor Dana White até companheiros de octógono dos lutadores. “Isso trouxe uma imagem ainda mais violenta para o esporte”, diz Clarisse, da ESPM.
Guarda alta
O UFC no Brasil nega que o seu espaço esteja diminuindo e reitera que ainda espera expandir muito seus negócios no País, seu segundo maior mercado. “Continuamos esgotando nossas bilheterias e ainda temos muitos atletas próximos à disputas de cinturão”, diz Lílian Caparroz, gerente de relações públicas do UFC. Nem a Copa do Mundo tira o otimismo da executiva. “Vamos fechar 2014 com sete eventos aqui”, diz Lílian. “E provavelmente teremos um grande anúncio de combates neste ano.”
Mesmo que a volta de Anderson Silva, programada para 2015, não seja bem sucedida, o UFC aposta no seu cartel de lutadores e no crescimento de seus atletas dentro da organização. “Renovação é algo natural no esporte”, afirma a gerente. “Teremos outros grandes nomes para substituí-lo.”