14/10/2025 - 18:34
As Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) prometem continuar sendo vedetes do mercado em meio ao embate pelo ajuste fiscal entre governo e Congresso. O principal motivo foi a retirada de pauta pela Câmara dos Deputados da Medida Provisória (MP) 1.303/2025, editada pelo governo federal como alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), como forma de elevar a arrecadação e equilibrar as contas públicas. Com isso, a MP perdeu a validade.
Apresentada em junho, a MP do IOF, como ficou conhecida, estabelecia o recolhimento, a partir de 2026, de 5% de Imposto de Renda (IR) sobre a rentabilidade de aplicações incentivadas com isenção de tributação, como as LCIs e os CRIs.
Embora compreendam a necessidade do governo federal de buscar fontes alternativas de recursos para equilibrar as contas públicas, empresas participantes do mercado financeiro — sobretudo gestores de patrimônio — exaltaram a manutenção da isenção de IR para os títulos incentivados, sob o argumento de que esses papéis contribuem para dinamizar a economia.
“Trata-se de instrumentos que financiam setores capazes de sustentar o emprego e a renda da população”, afirma Waldomiro Plácido Neto, diretor de Finanças, Serviços Qualificados e Distribuição da Qore Investimentos. “A manutenção da isenção de IR desses papéis para pessoas físicas reforça sua atratividade.”
No longo prazo, a expectativa dos agentes financeiros é que o mercado de CRIs e LCIs deva continuar crescendo, sustentado pela demanda por crédito imobiliário, mas com maior atenção às mudanças fiscais e ao equilíbrio das contas públicas, uma vez que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que o governo estudará com calma as medidas a tomar diante da caducidade da MP do IOF.
Crescimento do volume de investimentos
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o montante financeiro nas mãos dos gestores de patrimônio chegou a R$ 540,3 bilhões ao final do primeiro semestre de 2025. O valor corresponde a um aumento de 7,1% na comparação com o fechamento de 2024.
A renda fixa cresceu 9,4%, totalizando R$ 245,5 bilhões. Com isso, a fatia destinada a essas aplicações nas carteiras dos gestores manteve-se praticamente estável, passando de 44,5% para 45,4%. Entre os destaques estão os títulos incentivados, que, no conjunto, avançaram 15,6%, somando R$ 67,3 bilhões.
As LCIs registraram alta de 43,1% e fecharam o semestre com montante de R$ 17,3 bilhões, enquanto as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) tiveram aumento de 19,7%, totalizando R$ 13,7 bilhões. O crescimento dos CRIs foi de 9,6%, para somar R$ 10,1 bilhões.
Por outro lado, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) recuaram 4%, totalizando R$ 6,1 bilhões. O avanço das Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) foi tímido (1,3%), fechando o semestre em R$ 4,4 bilhões. Já as debêntures incentivadas cresceram 6,5%, para R$ 15,7 bilhões.
“Os gestores se apoiaram em uma estratégia de diversificação para contornar os desafios das conjunturas econômicas doméstica e internacional, com avanços importantes tanto na renda fixa quanto na renda variável”, diz Tatiana Itikawa, superintendente de Representação da Anbima.
Entre os demais produtos de renda fixa, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) terminaram junho com o total de R$ 36,6 bilhões, alta de 31,9%. Os títulos públicos registraram crescimento de 10,7%, somando R$ 42,9 bilhões. Na contramão, os fundos de renda fixa tiveram um leve recuo de 1%, para R$ 58,9 bilhões.
A retração dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) foi de 3,5%, totalizando R$ 11,5 bilhões. Já as debêntures tradicionais terminaram junho com R$ 10,6 bilhões, queda de 11,4% em relação ao fechamento de 2024.
Segundo a B3, o estoque de LCIs e LCAs registradas na bolsa de valores brasileira cresceu de forma expressiva no primeiro semestre de 2025 e liderou a expansão de 15% nos produtos de captação bancária. As LCIs saltaram 25% no período, totalizando R$ 454 bilhões, enquanto as LCAs subiram 24%, alcançando R$ 588 bilhões.
Entre os demais ativos, o CDB teve crescimento de 9%, com estoque de R$ 2,6 trilhões. Os Recibos de Depósito Bancário (RDBs) avançaram 12%, atingindo R$ 532 bilhões. Já a Letra Financeira (LF) apresentou a maior variação percentual, com alta de 29% e estoque de R$ 890,5 bilhões. Os Depósitos Interfinanceiros (DI) também cresceram 15%, somando R$ 697,3 bilhões.
No total, o estoque de produtos de renda fixa bancária chegou a R$ 5,7 trilhões em junho de 2025, ante R$ 5 trilhões no mesmo mês de 2024.
Dívida corporativa
Nos seis primeiros meses de 2025, a B3 também registrou 6,5% de aumento no estoque de títulos de renda fixa corporativos, em comparação com o primeiro semestre de 2024. O montante, considerando as ofertas públicas, somou R$ 1,7 trilhão em estoque no mês de junho, com crescimento em todas as modalidades.
Os produtos de dívida corporativa são títulos emitidos por empresas que utilizam o mercado de capitais para captar recursos e financiar seus projetos. O valor inclui debêntures, CRAs, CRIs e Notas Comerciais (NC).
As notas, títulos emitidos pelas empresas que representam promessa de pagamento pelo emissor, foram as que registraram maior crescimento no semestre, com aumento de 17%. O estoque saltou de R$ 68 bilhões, em junho de 2024, para R$ 80 bilhões, em junho de 2025.
Já o estoque de debêntures alcançou R$ 1,3 trilhão, o que representa aumento de 6% em relação a junho de 2024. No acumulado do primeiro semestre, o estoque de CRIs alcançou R$ 239 bilhões, um aumento de 5%, enquanto o estoque de CRAs chegou a R$ 159 bilhões, o que representa crescimento de 4% na mesma base de comparação, segundo o levantamento da B3.
“A manutenção da taxa de juros em patamar mais elevado favorece o mercado de renda fixa, beneficiando os investidores com alta remuneração e, consequentemente, oferecendo boas oportunidades de captação às empresas para financiamento de seus projetos”, explica Leonardo Betanho, superintendente de Produtos de Balcão da B3.