Apostar nos investimentos vinculados à inflação. Redobrar o cuidado com as ações. Evitar as tentações do câmbio. Essas são as correções de rota recomendadas pelos especialistas para o que resta de 2011, tendo em vista as mudanças de quadro nas últimas semanas. “O cenário para o investidor está radicalmente diferente”, diz o gestor de recursos Alexandre Póvoa. Segundo ele, tudo começou com a inesperada decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir os juros em meio ponto percentual, no final de agosto. A redução pode ser a primeira de várias, e essa expectativa já entrou nas contas do mercado. No fim de julho, a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central (BC) junto a uma centena de bancos, indicava que o mercado financeiro previa juros de 12,50% na virada de 2011 para 2012. No levantamento mais recente, essa estimativa recuou para 11%. “O mercado está considerando que os juros reais devem cair bastante até o fim do ano”, diz Georges Catalão, diretor de investimentos da empresa carioca de administração de recursos Lecca. Não foram apenas os juros que caíram.

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As estimativas para o crescimento da economia brasileira no ano fechado de 2011 recuaram de 3,95% em julho para 3,52% em setembro. Ainda que pareça pequena, essa redução significa R$ 16 bilhões a menos em bens e serviços produzidos neste ano. Como o comportamento dos juros e da economia real são as variáveis mais importantes na tomada de decisão de qualquer investidor, DINHEIRO ouviu os profissionais do mercado para saber quais as correções de rota recomendadas. O primeiro ponto é aumentar a proteção contra a inflação – e até ganhar com ela, investindo nos títulos públicos corrigidos pelo IPCA. “Eles estão sendo os mais procurados pelo investidor, ao contrário do que ocorria no início do ano”, diz Eric Cardoso, diretor da corretora paulista Renascença. Em janeiro, dos R$ 360,3 milhões em títulos públicos vendidos para os pequenos investidores por meio do Tesouro Direto, 54,8% foram de papéis prefixados. Em agosto, os preferidos foram os papéis corrigidos pelo IPCA, com 46,2% do total.

Esse movimento está em linha com as recomendações dos especialistas, que sugerem trocar aplicações de renda fixa prefixadas pelas corrigidas pela inflação. “As novas reduções de juros vão afetar o rendimento dos títulos prefixados”, diz Rodrigo Dias, sócio da butique de investimentos mineira Araújo Fontes. Apesar de as ações estarem amargando quedas sucessivas – no ano, até 21 de setembro, a queda do Índice Bovespa é de 19,2% – os especialistas recomendam não descartar as ações. Segundo Marco Aurélio Barbosa, analista-chefe da corretora paulista Coinvalores, a baixa da bolsa pode trazer ações com preço muito baixos, logo, com potencial de valorização, embora não se espere uma alta significativa no curto prazo. Barbosa recomenda especialmente as ações de empresas exportadoras. “Elas serão beneficiadas com a alta do dólar no curto prazo”, afirma Barbosa. Outro ponto a favor da bolsa é que os juros mais baixos tornam mais atraentes as companhias que são boas pagadoras de dividendos, como bancos e empresas de eletricidade, desde que o investidor tenha em mente que esses papéis são apostas de longo prazo, pensadas para um horizonte de alguns anos, pelo menos.  

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Em terceiro lugar, o investidor deve evitar cair na tentação do dólar. Em setembro, até o dia 21, a moeda americana no mercado à vista registrava uma valorização de 15,2% (leia mais sobre o dólar na matéria Psiu! O dólar subiu! ). No entanto, os especialistas não esperam que essa alta se sustente nos próximos meses. Segundo o boletim Focus, a estimativa para o dólar no encerramento de 2011 é de R$ 1,65. “A alta recente do dólar está ocorrendo em um cenário de fundamentos sólidos para a economia brasileira”, diz Marcelo Saddi, diretor da SulAmérica Investimentos. “Eu não apostaria no dólar como investimento”. Apesar de os fundos cambiais estarem apresentando bons ganhos, com uma valorização média de 11,7% até o dia 19 de setembro, a ordem é tomar cuidado. “Esses fundos voltaram a captar dinheiro depois de muito tempo parados”, diz Marcelo Pacheco, gerente-executivo da BB DTVM, cujos fundos corrigidos pelo dólar exibiam um retorno médio de 12% em setembro. “Já há um certo exagero nesse movimento”, adverte. 

 

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