01/05/2023 - 16:10
Primeiro de Maio para quem? Se você é funcionário público, acredite, comemore. Se é CLT, acredite, comemore. OK… Generalizações sempre são injustas – afinal, a minoria de jogadores de futebol profissional no Brasil ganha acima de um salário-mínimo. Assim, dizer ‘funcionário público’ como se todos fossem da elite do funcionalismo é inverdade tanto quanto acreditar que apenas por ser CLT o cabra não é tratado como animal. Mesmo levando isso em conta, essas duas categorias ainda seguem acima de todas as demais. Para estas, há um balaio que reúne subutilizados, trabalhador por conta própria ou informais. A esse Blocão Trabalhista, resta o Brasil real. Pelos números relacionados ao primeiro trimestre de 2023, divulgados na sexta-feira (28) pelo IBGE, há o lado péssimo: 9,4 milhões de brasileiros querem fazer algo e ter alguma renda e não conseguem. Pelo lado bom, o índice de 8,8% de desocupação caiu 2,3 pontos porcentuais em relação ao primeiro trimestre de 2022 e é o menor índice para o período desde 2015 (quando ficou em 8,0%).
O problema de olhar a economia sempre e somente pelo prisma dos números e porcentuais é que lemos 8,8% (2023) versus 11,1% (2022) como algo positivo. Ou lemos igualmente de forma positiva que no primeiro trimestre agora o crescimento sobre o último trimestre de 2022 foi pequeno – de 7,9% para 8,8%. Afinal, é sabido que fins de ano têm sempre mais gente trabalhando que nos começos de ano. Esse é um jeito de ver que tudo vai caminhando bem. Devagar, mas caminhando. O outro lado de enxergar o tenebroso cenário é individualizar a desgraça. Entre outubro-novembro-dezembro do ano passado e janeiro-fevereiro-março deste ano 860 mil brasileiros perderam a fonte de renda.
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Quando juntamos a ciranda-tripé de PIB/Desocupação/Inflação a gente sabe que somente um equilíbrio suave entre um ponto e o vetor seguinte fará a seta embicar para cima no crescimento, para baixo no desemprego e levemente para cima no IPCA. Algo que, desculpe insistir Soberano Lula III, dependerá de sua política de gastos. Atacar o Dragão da inflação, como aquele seu antigo suposto adversário Fernando Henrique Cardoso fez, será decisivo. Derrubar esse monstro sem-deixar-dúvidas pede responsabilidade fiscal – a mesma que o senhor entregou por oito anos quando foi duas vezes presidente. E ela fará o juro cair. Não o BC. Neste momento, há uma falsa dicotomia nacional de ‘inflação de demanda ‘ou ‘inflação de oferta’. Algo que não faz mais boi dormir. Nem o Fed cede a esse papinho. Nem o BCE. Nem o BC. Talvez só na Argentina, e em alguns de seus gabinetes, adultos ainda brinquem dessa maneira, senhor presidente.
Por fim, mas o mais importante de tudo, entre janeiro e março deste ano 977 trabalhadores vítimas de trabalho semelhante à escravidão foram resgatados no Brasil. A alta foi de quase 140% sobre os três primeiros meses de 2022. Festejamos a elevação do número porque a vigilância aumentou ou lamentamos essa sina maldita? A lista dos contratantes é pública. Num projeto falido de Nação – em que a cada 24 horas entre 1º de janeiro e 31 de março, em média 11 pessoas foram tiradas de trabalhos degradantes ao ponto de se assemelharam à escravidão – não há nada que festejar no Primeiro de Maio. Soberano Lula III: antes de tentar a paz na Ucrânia, o senhor tem muita lição dentro de casa a ser feita.