O número de trabalhadores domésticos sem carteira assinada diminuiu 3,3% no trimestre de junho a agosto de 2025 em comparação com o trimestre anterior, apontam dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ). Foi o único tipo de ocupação que registrou redução, com a saída de 145 mil pessoas, passando de 4,345 milhões para 4,200 milhões neste tipo de atividade.

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Segundo o economista William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a diminuição no contingente de trabalhadores domésticos está relacionado com a chegada do desemprego à mínima histórica de 5,6%.

“Em momentos mais difíceis da economia, as pessoas migram para os serviços domésticos. O que podemos estar presenciando é o movimento contrário, onde os trabalhadores identificam melhores oportunidades de trabalho, com melhores condições e rendimentos, e deixam os serviços domésticos”, avalia Kratochwill.

No trimestre analisado, o setor de serviços domésticos foi o único a apresentar redução. Outros setores como indústria, comércio e construção apresentaram estabilidade em ambas as comparações (trimestral e anual). Já agricultura, administração pública, saúde e educação registraram crescimento na comparação trimestral.

Parte da diminuição está sim relacionada a uma questão de rotatividade. “Hoje há mais opções para essas pessoas que trabalhavam como domésticas para trabalharem em outras áreas”, sintetiza o economista Bruno Imaizumi, da 4intelligence.

Neste cenário, o rendimento real do trabalhador doméstico cresceu 0,37% no trimestre de junho a agosto de 2025 em comparação com o trimestre imediatamente anterior, passando de R$ 1.342 para R$ 1.347. Já o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos chegou a R$ 3.488 no trimestre de junho a agosto de 2025.

Relação com trabalho doméstico mudou

Os números deste trimestre ficam atrás apenas dos registrados durante os anos de 2020 e 2021, período da pandemia da covid-19. Mudanças geradas pelo isolamento social geraram alterações de hábitos que perduram até hoje.

“Há mais pessoas trabalhando de maneira remota ou híbrida, o que faz com que elas estejam mais em casa e façam algumas atividades domésticas, não necessitando a contratação de domésticos”, analisa Bruno Imaizumi, da 4intelligence.

Professor de finanças do Ibmec, o economista Giberto Braga destaca que houve mudanças culturais mais amplas, anteriores a pandemia, que também alteram o setor de trabalho doméstico. Ele cita “famílias menores, sem a necessidade de serviços domésticos, e novas gerações que são auto-suficientes”.

Trabalho formal x informal

A classificação de trabalho doméstico da Pnad leva em conta postos como faxineiro, cozinheiro, motorista, jardineiro, babá, governante e cuidadores, porém considera apenas empregados formais, ou seja, com carteira de trabalho assinada. Assim, grande parte dos profissionais são contabilizados como parte da força de trabalho informal, que teve um aumento de 0,9% na comparação trimestral, totalizando 38,878 milhões de pessoas.

Gilberto Braga analisa que, nos últimos anos, profissionais domésticos passaram também a formalizar seu trabalho através do regime de microempreendedor individual (MEI), prestando serviços como diaristas de faxina ou até em outros setores de serviços gerais.

No período observado pela última Pnad Contínua, houve aumento na informalidade devido ao trabalhador por conta própria sem CNPJ, que chegou a 19,1 milhões de pessoas, alta de 1,9% em relação ao trimestre até maio e de 2,9% frente ao mesmo período de 2024. “Isso é um sinal de que as pessoas estão apostando no trabalho autônomo, são trabalhadores com menor de escolaridade, geralmente nas atividades de comércio e alimentação. Uma parcela de desalentados pode ter migrado, em parte, para a informalidade”, analisa Kratochwill.

Desaceleração do mercado de trabalho

Economista do FGV Ibre, Rodolpho Tobler acredita que o recuo no trabalho doméstico está relacionado também a um cenário de desaceleração econômica mais amplo que já começa a se realizar.

“Os dados de empregos formais saídos que saíram ontem pelo Caged já mostram um pouco dessa desaceleração. O emprego formal tem crescido em um ritmo menor nos últimos meses”, analisa Tobler. “As pessoas devem estar já fazendo um certo ajuste nas suas costas e talvez reduzindo um pouco esse consumo.”