O designer Willy Chavarria lamentou a controvérsia que eclodiu nesta semana após o lançamento de uma de suas criações, um modelo de sandálias em colaboração com a Adidas, que provocou acusações de “apropriação cultural” por parte de autoridades mexicanas.

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O modelo de sandálias Oaxaca Slip-On, desenhado por Chavarria, foi inspirado um estilo tradicional de sandálias da região de Oxaca, conhecido como huarache, e que tem raízes indígenas.

Mas, segundo autoridades mexicanas, a empresa e o designer não procuraram obter autorização para o nome e tampouco reconheceram os autores originais. A controvérsia envolveu até mesmo a presidente do México, Claudia Sheinbaum, que acusou grandes corporações internacionais de se apropriarem de criações de comunidades indígenas. Autoridades também pediram a suspensão da venda do produto.

Após a controvérsia se estender por vários dias, Chavarria, um americano com raízes mexicanas, finalmente abordou a controvérsia no sábado,9.

“Lamento profundamente que este design tenha se apropriado do nome e não tenha sido desenvolvido em parceria direta e significativa com a comunidade de Oaxaca”, disse Chavarria em um comunicado.

Ele afirmou reconhecer que as sandálias “não corresponderam ao respeito e à abordagem colaborativa” merecidos pela comunidade de Villa Hidalgo Yalalag, vilarejo mexicano conhecido como local de origem das sandálias huaraches.

Já a empresa alemã de artigos esportivos afirmou em uma carta divulgada na sexta-feira, 8, que “valoriza profundamente a riqueza cultural dos povos indígenas do México e reconhece a relevância” das críticas. A empresa também disse que solicitou uma reunião com autoridades locais do México para discutir como pode “reparar os danos” causados às populações indígenas.

Críticas

Sites especializados no mercado de tênis e outros sapatos esportivos haviam reportado nesta semana sobre o lançamento das sandálias num evento da Adidas em Porto Rico. O modelo foi descrito como inspirado nas sandálias huarache e um tributo às raízes mexicanas de Chavarria.

No entanto, imagens do calçado rapidamente provocaram reação de políticos mexicanos da região de Oxaca, que pediram a suspensão da venda do produto e acusaram Chavarria e a Adidas de “apropriação cultural”.

“Isso não é apenas um design, é cultura, história e identidade de um povo originário e não vamos permitir que seja tratado como mercadoria”, disse o governador de Oaxaca, Salomón Jara, em um vídeo publicado na rede X.

Por sua vez, a Secretaria de Cultura e Artes de Oaxaca destacou em comunicado que a adoção sem consentimento de elementos culturais dos povos originários para fins comerciais constitui “violação de seus direitos coletivos”.

O órgão pediu ainda a “suspensão imediata da comercialização” do novo modelo, a abertura de um processo de diálogo e reparação de agravos da comunidade de Yalalag e o reconhecimento público da origem do design.

Ainda nesta semana, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum entrou na controvérsia, afirmando: “Grandes empresas costumam tomar produtos, ideias e designs das comunidades indígenas; estamos analisando a parte jurídica para poder apoiá-los”.

Tema sensível no México

Nos últimos anos, o México denunciou a apropriação cultural e o uso não autorizado da arte de seus povos indígenas por grandes marcas e designers ao redor do mundo.

Em 2023, foi a vez da empresa chinesa Shein, acusada de apropriação cultural de elementos da cultura e da identidade do povo Nahua, do estado de Puebla. À época, o governo mexicano se queixou de danos econômicos e morais para este segmento da população.

“Trata-se de um princípio de consideração ética que, local e globalmente, nos obriga a chamar a atenção e colocar em discussão pública um tema que não pode ser adiado: proteger os direitos dos povos originários que historicamente foram invisibilizados”, afirmou a Secretaria de Cultura do Governo do México na ocasião.

Outros acusados de plágio e apropriação cultural de povos mexicanos nos últimos seis anos incluem a designer francesa Isabel Marant e as marcas de luxo Zimmermann e Carolina Herrera.

Discussão global

Acusações semelhantes também afetaram a imagem da Prada em julho. A grife italiana estreou na passarela da Semana de Moda Masculina de Milão rasteiras descritas como “sandálias de couro”.

Mas, para críticos de moda, artesãos e políticos indianos, tratava-se de uma cópia das tradicionais Kolhapuri – sandálias artesanais que levam o nome da cidade de Kolapur, em Maharashtra, no oeste da Índia, e remontam ao século 12.

Há mais de 25 anos, países em desenvolvimento e povos indígenas vêm pressionando por leis de propriedade intelectual que protejam melhor, da exploração por terceiros, a flora, a fauna, saberes tradicionais e herança cultural locais.

Mais recentemente, porém, tem crescido o clamor, inclusive no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), para que se responsabilizem as companhias que cometem esse tipo de abuso na indústria da moda.