03/02/2022 - 8:03
Em 2018, Jair Bolsonaro ascendeu da cadeira de deputado federal ao mais alto trono da República brasileira com a bandeira de acabar com a corrupção. Em sua posse, no 1º de janeiro de 2019, entoou: “Aproveito este momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade […]”. Ao presidente cabe agora cumprir sua palavra e libertar a Amazônia de criminosos que estão roubando terras públicas para enriquecimento pessoal.
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O dado que comprova o crime contra propriedade pública foi divulgado nesta quarta-feira (2) pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Segundo estudo comandado pela diretora de Ciência da organização, Ane Alencar, 51% do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, principalmente (83%) em áreas de domínio federal. As Florestas Públicas Não Destinadas foram as mais atingidas com alta de 85% na área desmatada, passando de 1.743 km² derrubados anualmente para mais de 3.228 km².
Em outras palavras, não é possível culpar somente o produtor rural pelo desmatamento da Amazônia. O fim da maior floresta tropical não ocorre somente em propriedades privadas com finalidade de exploração econômica, seja com bois ou grãos. O desmatamento é muito mais do que isso. É depredação do patrimônio público brasileiro. O que está acontecendo na Amazônia é crime de lesa-pátria. São brasileiros roubando impunemente o governo federal. Roubam na hora que se apropriam de terras públicas, no momento em que derrubam árvores e na hora que fazem desse patrimônio uma fonte de renda não oficial e, portanto, sem pagamento de impostos.
Cabe aqui a essência de perguntas feita em outro contexto por Bolsonaro à Anvisa, mas que ele agora poderia responder: “O que está por trás disso?”, “Qual o interesse dessas pessoas taradas [pela devastação amazônica]?” E mais: por que deixar cidadãos assaltarem assim impunemente os cofres públicos? Para os analistas a quem a DINHEIRO fez as perguntas, a resposta é uma só: a pergunta tem que ser feita ao presidente da República. O Planalto não respondeu às tentativas feitas até a publicação deste texto. Se o tivesse feito, talvez também explicasse um dado alarmante: entre agosto de 2018 e julho de 2021 (o que inclui toda a administração atual), o desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% em relação ao mesmo período de 2015 a 2018.