Ter Jorge Gerdau Johannpeter por perto é o sonho de todo presidenciável brasileiro. A figura do empresário, referência de gestão de resultados e símbolo de eficiência no País, parece com a de um avalista disputado. Tem sido assim na largada das eleições presidenciais deste ano. Sua presença é celebrada em jantares e encontros que os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos vêm mantendo com o empresariado. Seu trânsito em todos os setores do espectro político é inegável. Integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo, ele se transformou em um dos principais conselheiros econômicos da presidenta Dilma Rousseff, com quem mantém relações de amizade desde os tempos em que ela iniciava sua carreira política no Rio Grande do Sul. Foi colega de Dilma no conselho de administração da Petrobras, que deixou há pouco mais de um mês, onde participou da controvertida aprovação da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

O empresário gremista de 78 anos gosta de dizer que ajuda a todos, mas se nomeia membro do partido Brasil S.A. Suas preocupações com a falta de investimentos no País e com o volume da carga tributária foram ouvidas no primeiro debate com os pré-candidatos do PSDB e do PSB no Fórum de Comandatuba do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), na Bahia. Nessa ocasião, o presidente do conselho de administração da Gerdau, grupo siderúrgico que leva seu nome, falou à DINHEIRO. Leitor do filósofo florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), o barão gaúcho do aço sorri quando afirma que estudou muito as lições que indicam as saídas para o Brasil. E que a idade o ajuda como observador do cenário que o País se prepara para viver de novo. “Aprendi na minha vida que a competência gerencial a gente contrata”, afirma Gerdau.

DINHEIRO – O sr. costuma dizer que é do Partido Brasil S.A. E tem acompanhado as apresentações dos presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos, em jantares e debates com o empresariado. Qual dos candidatos mais o empolga?
JORGE GERDAU –
Eu não tomo posição, porque não abro meu voto. Os dois tiveram posições muito interessantes. O importante é que eles reconhecem que o Brasil, dentro deste cenário de dificuldades do mundo, precisa aumentar as taxas de investimento. O índice do Brasil está abaixo de 20% do PIB. Para aumentarmos o crescimento econômico, que é o único modo de enfrentar os problemas sociais, é preciso ter mais investimento. É você trabalhar com mais vigor na elevação do índice poupança interna e, em segundo lugar, ampliar ainda mais a confiança dos capitais internacionais, para ajudar a investir em infraestrutura.

DINHEIRO – Como o sr. compara a proposta dos candidatos com o governo Dilma? No que o Brasil precisa mudar realmente?
GERDAU –
O mundo mudou. O Brasil tem de fazer mudanças, justamente nesse campo do índice de investimentos. Repito: nós estamos abaixo dos 20% e precisamos crescer no mínimo 4% ao ano. Isso só vamos conseguir se aumentarmos a taxa de investimentos. É uma macropolítica econômico-financeira bastante complexa. E isso tem de ser feito, senão não vamos crescer mais que ao nível atual de 2%. Temos de crescer 4%, 4,5% para poder ter capacidade de atender às demandas sociais, em frentes como saúde, educação, segurança, logística e mobilidade urbana.

DINHEIRO – Qual seria esse primeiro passo?
GERDAU –
Tem de haver um aumento do superávit financeiro, para que os capitais internacionais aumentem sua entrada no Brasil.

DINHEIRO – Como o sr. vê a política econômica do governo?
GERDAU –
Ela está ajustada a um quadro. Nós andamos bem, logo depois da crise. Mas esse modelo de antecipação de consumo e de financiamento ao consumidor você executa uma vez, duas vezes, e depois não muda mais. Então, temos de achar novas fórmulas. A melhor fórmula é investir maciçamente em infraestrutura.

DINHEIRO –O sr. estava no conselho de administração da Petrobras quando foi aprovado o contrato de compra da refinaria de Pasadena. Agora, acaba de deixar o conselho. Naquela época foi um bom negócio?
GERDAU –
Se é um bom negócio a gente só sabe depois que foi feito o tal negócio. Mas foi certo. Naquele momento, havia excesso de gasolina, abundância de álcool e a Petrobras estava com superávit e capacidade de produção de gasolina. O petróleo do Brasil é um petróleo pesado. Para aumentar a renda da Petrobras era preciso fazer a refinaria lá fora para poder exportar, em vez de vender petróleo pesado e gasolina valorizada.

DINHEIRO – Como é possível livrar a Petrobras dos resultados ruins?
GERDAU –
Ela não está tendo prejuízo. A Petrobras está tendo resultados menores. Mas está tendo lucro. Perdeu valor de mercado com a queda das ações porque, no combate à inflação, existe o debate: sobe o preço da Petrobras ou segura a inflação? Isso é um tema. A questão seria levá-la a um preço internacional. O combustível tem de subir a patamares internacionais. Hoje, estamos importando parte do combustível que consumimos internamente. Por isso, caso a cotação internacional caia, devemos corrigir para baixo o preço no País.

DINHEIRO – Isso implicaria despolitizar a Petrobras?
GERDAU –
Despolitizar a Petrobras é impossível, porque é uma empresa de controle de governo. Numa empresa estatal, a política é definida pelo governo. Se fosse uma empresa privada, ela trabalharia só por regras de mercado. Como é uma empresa de governo, o comando das políticas é do controlador. E o controlador, sendo governo, segue as suas macropolíticas. Quando o pessoal me pergunta, eu digo: quem compra ação de empresa estatal está condicionado ao controle do governo.

DINHEIRO – O que mais se deve olhar?
GERDAU –
Para comprar uma ação, eu sempre digo: você tem de olhar três coisas. A primeira é qual é o produto. A segunda é em que país, e procurar identificar se esse país tem vocação no mercado. Em terceiro lugar, qual é o conselho de administração, a di­­retoria da empresa. É preciso verificar se esse conselho é sério, se é confiável. Dá para acreditar nos donos ou não? É tão simples. E, além disso, se ela é privada ou estatal. Outra questão: ter papéis de empresa sem controle acionário é bom ou é ruim? E aí, quando temos o governo como controlador, você está sujeito a esse processo político e não somente econômico. Dá para escrever um livro sobre isso. Quando uma empresa estatal abre o capital, será que ela ainda deveria ter políticas só de governo ou deveria ter políticas de mercado?

DINHEIRO – O sr. escreveria esse livro?
GERDAU –
Eu não (risos).

DINHEIRO – Ainda no cenário eleitoral, como o sr. vê o movimento “Volta, Lula”?
GERDAU –
Aí são dois estilos. A Dilma tem um processo eminentemente gerencial, técnico, duro. O presidente Lula tem uma condição eminentemente política. Então, Dilma e Lula quase que são extremos, mas eu diria que os dois se complementam. E, consequentemente, existe um saudosismo dessa atitude muito política do presidente Lula.

DINHEIRO – Um saudosismo dentro do próprio PT?
GERDAU –
Principalmente. É um tema interessante. No processo que o Brasil vive hoje, o que se está precisando é de ordem mais técnica-gerencial do que política. Agora, você não vence nada sem condução política. Isso é um tema de uma dimensão e de um interesse fantásticos. Acho muito curioso esse processo. É um quadro que tem de ser muito analisado. Com esses três candidatos, você tem perfis. Um deles um pouco mais pra lá, o outro um pouco mais pra cá…

DINHEIRO – Mas, como o sr. disse, existe uma necessidade gerencial. Tecnicamente, a presidenta Dilma teria essa formação. Mas as coisas não estão indo bem…
GERDAU –
Eu aprendi na minha vida que a competência gerencial a gente contrata. A condução política é indelegável. Tenho estudado muito isso. Olho, analiso. Tenho essa experiência de acompanhamento, e a idade ajuda.

DINHEIRO – O sr. é leitor de Nicolau Maquiavel?
GERDAU –
Eu leio Maquiavel. Eu usei uma frase de Maquiavel no evento (o debate dos pré-candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos no Fórum de Comandatuba, na Bahia). Tu não escutastes? A dureza, o mal tem que ser feito no começo do governo; depois a gente diz sim, no final. Porque você tem dureza e tem votos. Depois disso, vai dizendo sim aos pouquinhos. Maquiavel explica isso maravilhosamente. Vale a pena ver uma série que passou na televisão paga há não muito tempo, Os Bórgias. Ali eles falam de Maquiavel. Há capítulos bem interessantes.

DINHEIRO – Acha que Maquiavel está fazendo falta neste momento?
GERDAU –
Maquiavel sempre faz falta. É um saber humano, filosófico e político. E uma sem-vergonhice absoluta. É sábio para o político. O político precisa ter sábios ao seu redor.