A administradora de cartões MasterCard e sua rede credenciadora de estabelecimentos, Redecard, estão vivendo um verão diferente. Na estrada. Com o mercado de pagamentos eletrônicos perto do ponto de saturação nos principais centros brasileiros, executivos das duas companhias trocaram paletós e gravatas por roupas de briga e partiram para áreas menos exploradas do País. Os bandeirantes do crédito procuram cidades de pequeno e médio portes que possam entrar no mapa da indústria de cartões. Em muitos casos, trombam com uma infra-estrutura precária, que dificulta a instalação das maquininhas leitoras de cartão chamadas POS. Falta de energia elétrica e de rede telefônica estão entre os problemas mais freqüentes. Mas não entre os incontornáveis. Para esses casos, a Redecard desenvolveu soluções interessantes, como terminais ?movidos? a bateria e/ou integrados à rede via rádio. Distâncias e dificuldades de acesso também são desafios nesse processo de popularização do cartão. Horas passadas em um barco no rio Amazonas e aventuras a bordo de jipes 4X4 na Bahia foram incorporados à rotina do pelotão de desbravadores da MasterCard. Executivos até outro dia presos a seus escritórios hoje contam histórias sobre apuros passados ao cruzar uma aldeia indígena no Maranhão. Um avião foi alugado para ajudar neste mapeamento, que já permitiu a inclusão de 467 novos municípios na rota dos cartões.

?Não foi difícil perceber que, para muitos comerciantes, esse seria o primeiro contato com a tecnologia?, diz David Zini, diretor comercial para a região Nordeste da Redecard. Freqüentemente, as conversas começam com uma explicação sobre o funcionamento do cartão de crédito e terminam em dicas de gestão. ?Ensinamos a utilizar o cartão e também a fazer negócios?, conta Zini. Na semana passada, a DINHEIRO acompanhou uma incursão da equipe de Zini a Aratuba, cidade cearense distante 100 quilômetros de Fortaleza, que serve de passagem para ecoturistas. Zona comercial, aqui, são os três quarteirões da rua principal, onde se concentram as lojas. Com baixa taxa de urbanização e PIB per capita de R$ 1,4 mil, boa parte dos habitantes depende de empregos públicos. Redecard e MasterCard conseguiram afiliar três estabelecimentos locais. O volume de vendas ainda é pouco significativo, mas a introdução dos pagamentos eletrônicos no município já dá o que falar.

Há o ?causo? do comerciante que conseguiu um microfone e um alto-falante e hoje percorre Aratuba divulgando a novidade: ?Compre agora, com cartão de crédito, e pague depois.? Já o dono do armazém de secos e molhados olha com esperança para o terminal POS recém-instalado e reclama do sistema de caderneta de fiado que até hoje é obrigado a manter. Os dois livros verdes, de capa dura, no qual são anotadas as compras da clientela ainda são um mal necessário. Muitas vezes, o valor pago pelo freguês de caderneta não corresponde ao total da compra no mês. É prejuízo, claro, mas no interior do Ceará quem não faz fiado perde o cliente.

Neste período de verão e férias, fica mais evidente o aumento do volume de negócios que o cartão pode gerar para as economias locais. Visitantes estrangeiros, vindos principalmente de Portugal, da Itália e dos Estados Unidos, têm dificuldades com pagamentos. Nem sempre há bancos ou casas de câmbio em pequenas cidades de interesse turístico. Mesmo a famosa praia cearense de Canoa Quebrada conta apenas com um caixa eletrônico. Por isso mesmo, o cartão ?pegou? fácil. Não só nas pousadas e nos restaurantes, mas também nas barracas de praia e nos bugues, o dinheiro de plástico é amplamente aceito. Bom para o turista, que não precisa carregar um bolo de dinheiro no bolso. E para o comerciante. ?Um ponto que aceite cartão e esteja bem sinalizado pode ter um acréscimo de 20% nas vendas?, diz Sérgio Batista, diretor da MasterCard Brasil.

A experiência brasileira de disseminação dos cartões deve agora ser exportada. Leland Englebardt, vice-presidente da MasterCard International, diz que esse projeto preenche os requisitos necessários para ser implementado em países na mesma fase de desenvolvimento do Brasil. ?O Leste Europeu e alguns mercados da Ásia têm características semelhantes. Queremos fortalecer o cartão, para que ele seja utilizado em qualquer lugar, para pagar qualquer coisa.?

59% dos terminais leitores de cartão estão no Sudeste

O MISTÉRIO DA BANDEIRADA ELETRÔNICA

Pagar táxi com cartão não é bem uma novidade. Os quiosques para acerto antecipado nos aeroportos aceitam dinheiro de plástico, e já há motoristas que carregam terminais sem fio da Visa ou da MasterCard. Mas uma empresa surgida do nada neste mês de janeiro afirma ter desenvolvido um sistema capaz de popularizar o uso de cartões no trânsito. Tanto a empresa como o sistema atendem pelo nome Taxipass. Sua inovação é um taxímetro hi-tech, ligado a um terminal POS (leitor de cartão), GPS, modem e impressora. O equipamento transmite as informações da corrida para o terminal, que é conectado ao banco emissor e à administradora do cartão. ?Feito o pagamento, tem-se automaticamente um recibo com o valor pago e os endereços de saída e chegada?, explica Marcello Betone, apresentado ao mercado como o empresário que desenvolveu este sistema, ?com um grupo de investidores?.

Quem são eles? Betone diz que os sócios capitalistas pedem que seus nomes sejam mantidos em sigilo. E explica que um dos investidores mantém ?relacionamento muito forte? com um banco de investimentos. Mas ainda não apresentou à casa o projeto da Taxipass. ?No momento do lançamento oficial, os investidores vão aparecer?, promete Betone, que diz ser executivo e sócio da empresa. Corintiano e bem-humorado, ele admite que a situação lembra a da MSI, misteriosa parceira internacional do clube paulista. ?Mas eu não sou o Kia Joorabchian?, brinca, referindo-se ao iraniano que representava no Brasil aquele grupo de investidores sem rosto.

O sistema da Taxipass está sendo testado em cinco táxis de São Paulo. Depois do lançamento, em março, a expectativa de Betone é de que cinco mil motoristas instalem o equipamento em seis meses. Para isso, terão de desembolsar R$ 2,5 mil pelo supertaxímetro, ou alugá-lo por R$ 80 mensais. Não é muito dinheiro só pelo privilégio de aceitar cartão? ?Não, se o taxista puder transformar seu carro em um shopping de serviços?, responde Betone. Além de aumentar em até 30% (segundo estimativa da Taxipass) a quantidade de corridas, o sistema pode ser adaptado para funcionar como correspondente bancário e posto avançado para check in em vôos domésticos. Depois de São Paulo, a Taxipass planeja chegar ao Rio até abril, antes de seguir para Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza e Curitiba. Betone diz que até três países demonstraram interesse no sistema: Austrália, Nova Zelândia e… China.