20/12/2022 - 10:43
Reiniciar o sistema elétrico após cada queda de energia, proteger as instalações mal feitas antes de um novo ataque ou da chegada de temperaturas congelantes. Técnicos ucranianos realizam o trabalho de Sísifo para combater a guerra russa à infraestrutura ucraniana.
Em Kramatorsk, cidade industrial no leste da Ucrânia, três empresas são responsáveis pela manutenção e reparos de uma rede de energia já obsoleta, agora danificada pela ofensiva russa.
“Nós consertamos. Se eles destruírem, nós consertaremos novamente. É nosso trabalho”, explica Oleksandre, funcionário da empresa municipal, encolhendo os ombros enquanto solda um cano.
A poucos metros, uma escavadeira – a única disponível no município – cava uma trincheira.
– Sistema antiquado –
A empresa municipal emprega 40 técnicos, o dobro desde a invasão russa, e administra a rede de metade dos prédios de Kramatorsk, que tinha mais de 150 mil habitantes antes da ofensiva de Moscou.
Numa trincheira rodeada de fitas, dois grandes tubos garantem o aquecimento de dezenas de edifícios, à espera de serem cobertos. Danificados por um ataque no final de setembro, foram rapidamente consertados, mas a empresa não teve tempo de cobri-los novamente.
“Normalmente, isso já teria sido feito há muito tempo. Mas nos falta tempo e material, temos que lidar tanto com reparos quanto com a manutenção” de um sistema ultrapassado, admite o responsável técnico da empresa, Rinat Miluchov.
Aclamados como heróis no país desde o início da invasão por seu trabalho incansável e muitas vezes perigoso, esses técnicos recebem apenas entre 150 euros (159 dólares) e 200 euros (212 dólares) por mês – o salário médio na Ucrânia gira em torno de 350 euros (372 dólares) por mês.
“É necessário reiniciar manualmente o sistema sempre que há uma queda de energia, ou seja, várias vezes ao dia”, diz o responsável, que destaca o estresse de seus funcionários.
Isto sem considerar os danos à rede das reinicializações sucessivas ou não programadas.
“Em 20 anos de trabalho, já vi situações complicadas, mas o que vivemos atualmente não tem comparação”, reconhece Miluchov, antes de acrescentar após um breve silêncio: “Temos que nos acostumar com este novo ritmo”.
Esta palavra soa como um ‘leitmotiv’. “Podemos nos acostumar com todos os desastres, administrar os cortes de água ou de eletricidade… mas não com os bombardeios”, confessa Iulia, atrás de um balcão de sua mercearia sem luz.
“Se a situação não piorar, sobreviveremos ao inverno”, afirma Anna Prokopenko, de 70 anos.