É um momento histórico para vários ativos financeiros, e a peculiaridade que salta aos olhos é o mercado de risco ganhando força junto com o mercado de segurança. Isso só é possível por conta de uma fórmula complexa de decisões políticas e de eventos exógenos tecnológicos. A seguir, confira o trade da desvalorização das moedas (debasement trade).

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O “debasement trade” é a aposta de que governos com dívida alta e pouca vontade política de ajustá-la vão, na prática, diluí-la ao longo do tempo via inflação acima do juro real, monetização indireta e outros mecanismos de repressão financeira. Não é sobre colapso instantâneo da moeda, é sobre perda contínua de poder de compra e transferência silenciosa de riqueza do credor para o devedor soberano.

O motor macro é simples: déficits crônicos, trajetória de dívida/PIB ruim e bancos centrais pressionados por considerações fiscais. Quando a política fiscal e a monetária operam fora da “região de estabilidade”, o sistema parece estável. Até que se percebe que não está.

Em ambientes assim, a curva longa de juros reais tende a ser comprimida, a confiança na moeda forte desgasta nas margens e o investidor busca “ativos de diluição”, por exemplo, ouro, bitcoin e, em menor grau, commodities amplas e ativos reais.

Acima o gráfico do Bitcoin, Ouro e Prata na mesma escala % de valorização anual (01/01/2025 até o presente dia). Por que isso está no radar agora?

A tese saiu do nicho e virou fluxo. Em 2024–2025, casas como o JPMorgan descreveram explicitamente a alta de ouro e bitcoin como “debasement trade”, ancorada em déficits elevados, incerteza geopolítica e diversificação longe do dólar. Agora a narrativa acelerou com shutdown parcial nos EUA e dólar mais fraco, enquanto ouro renovou máximas históricas e o bitcoin voltou a disparar.

Esse é em essência um trade de hedge, ele só falha se a combinação fiscal-monetária voltar para dentro da zona de estabilidade: consolidação fiscal crível, taxas de juro reais persistentemente positivas e fortalecimento institucional do Banco Central. Falha também em choques de aversão a risco que fortalecem o dólar, ironicamente.

Para finalizar, uma linda correlação entre ouro e Bitcoin desde 2024.