18/12/2020 - 14:43
Ondas de rádio procedentes de um planeta gigante gasoso situado fora do sistema solar teriam sido detectadas pela primeira vez, destacando a presença de um campo magnético protetor, revela um estudo.
O sinal foi observado através do radiotelescópio europeu LOFAR, uma rede de 50.000 antenas distribuídas por toda a Europa e que opera a baixa frequência, uma área de energia ainda pouco explorada.
A emissão provém de um sistema já conhecido, o Tau Bootis, situado a 50 anos-luz do sistema solar. Contém uma estrela dupla e um exoplaneta gigante gasoso que orbita perto: um “Júpiter quente”, denominado Tau Bootis-b.
Até o momento conheciam-se a massa e a órbita de vários exoplanetas, mas não se tinham campo magnético. Este escudo, que protege das radiações dos ventos estelares, se encontra ao redor da Terra e de Júpiter.
No entanto, a emissão de rádio captada pelo LOFAR “é uma assinatura muito precisa do campo magnético”, explicou à AFP Philippe Zarka, do Observatório de Paris, um dos principais autores do estudo publicado esta semana na Astronomy & Astrophysics.
Estas ondas são muito difíceis de detectar, pois os campos magnéticos costumam ser fracos e sua fonte de emissão, distante.
A equipe internacional de pesquisadores observou três sistemas extrassolares (Tau Bootis, 55 Cancri e Ups), que contêm gigantes gasosos que, por estar perto de sua estrela, são provavelmente emissores potentes.
Pegando como modelo o sinal de rádio de Júpiter, atenuado ao máximo, a análise de uma centenas de horas de observação apontou para a esperada assinatura de Tau Bootis.
“Há 98% de probabilidade de que o sinal seja confiável”, comentou Philippe Zarka, destacando que persiste uma pequena dúvida sobre a possibilidade de que o sinal emane de sua estrela. “Para estar realmente seguros, faltaria 99,9% de probabilidade. Será preciso continuar com as observações, o que está ao nosso alcance”, acrescentou o astrofísico.
Se for confirmada, esta “seria uma primícia que validaria a técnica de detecção de rádio e, portanto, um passo para a caracterização dos exoplanetas”, ressaltou o pesquisador.
Cerca de 4.000 exoplanetas foram detectados desde a descoberta do primeiro, o 51 Pegasi-b, há 25 anos.
A existência de uma “bolha” magnética ao seu redor é um ingrediente propício ao desenvolvimento de uma forma de vida, segundo Philippe Zarka. Mas existem outros critérios, como a temperatura e, no caso de Tau Bootis-b, a sua seria alta demais para abrigar vida.