05/10/2013 - 7:00
A expressão reflete um estilo contido e pragmático de investir e fazer negócios, postura que transformou a economia do país em um exemplo de sucesso dentro de um continente afundado na crise e no desemprego. Quem observar com atenção verá que nas companhias alemãs qualquer manobra é sempre bem calculada. Sempre. Aqui no Brasil, para quem olha de fora, tem-se a impressão de que as empresas alemãs decidiram abandonar e etiqueta da estratégia supercalculada de uns tempos para cá, principalmente no caso das montadoras de veículos.
Os alemães investirão cerca de R$ 15 bilhões até 2017. Na última semana,
a Mercedes-Benz anunciou uma fábrica no interior paulista
Em uma ofensiva quase sincronizada, a BMW, a Audi, a Mercedes-Benz e a Volkswagen fizeram, nos últimos seis meses, anúncios de investimentos vultosos que chegarão a quase R$ 10 bilhões nos próximos três anos. Pelas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o volume de recursos alemães no País chegará a R$ 15 bilhões até 2017, incluindo as empresas do setor químico e de tecnologia. As cifras não chamam a atenção apenas pelo volume, mas pelo momento em que têm sido anunciadas. A economia brasileira, girando a um ritmo abaixo do estimado pelo mercado e desejado pelo próprio governo, com um crescimento do PIB previsto para 2,5% neste ano, vive uma espécie de teste de confiança, fonte de inspiração para pautas catastróficas na imprensa internacional.
Uma recente reportagem de capa da revista britânica The Economist, que questiona os rumos da economia do País sob comando da presidenta Dilma Rousseff, ajudou a disseminar um clima de dúvida em relação ao futuro – ao qual se associou um número não desprezível de especialistas e profetas do caos –, mas parece não ter desencorajado os investimentos das grandes multinacionais, que conhecem nos mínimos detalhes a economia real dos países em que escolhem atuar. Curiosamente, a Mercedes-Benz e a Volkswagen – a primeira com a construção de uma fábrica no interior paulista e a segunda com a estreia de uma nova geração do modelo Golf – revelaram, na última semana, juntas, a intenção de investir mais de R$ 1 bilhão no País, a despeito da onda de pessimismo.
Ou os executivos dessas montadoras não leram a The Economist ou eles enxergam algo que os jornalistas da revista britânica ainda não viram. Certos ou equivocados, o fato é que os alemães não costumam, pelo que se sabe, beber água fervente e muito menos rasgar dinheiro. E, a julgar pela saúde de sua economia, acertam mais do que erram. Em 2002, o governo da Alemanha foi questionado por tirar de circulação o poderoso deutsch mark, o marco alemão, e aderir ao euro.
É verdade que a padronização monetária da União Europeia, formada por países com economias tão diferentes, gerou distorções que hoje são apontadas como as causadoras da crise na zona do euro. Mas o fato é que, durante quase uma década, o euro levou um ambiente de prosperidade sem precedentes ao Velho Continente. Para muitos, a moeda salvou economias que já estavam, havia muito tempo, condenadas ao colapso. De volta aos investimentos das empresas da Alemanha no País: só o futuro dirá se a aposta na economia brasileira é um tiro no escuro ou um disparo certeiro dos executivos alemães. O retrospecto, por enquanto, joga a favor deles.