Tentar desligar pela primeira vez um computador equipado com Windows 8 pode ser uma experiência embaraçosa até mesmo para um nerd. O novo sistema operacional da Microsoft passou por uma mudança radical, especialmente na tela de entrada e no modo de organização das informações. Uma das principais alterações foi justamente a eliminação do tradicional botão “Iniciar”. Sem ele, é difícil adivinhar o que fazer, inclusive desligar o PC. Basta pesquisar em fóruns da internet ou redes sociais para constatar que esse tipo de coisa irritou milhares de usuários. Está claro que a Microsoft se descuidou e agora tem de lidar com uma avalanche de reclamações. A situação levou-a a admitir na semana passada que “elementos-chave” do produto serão alterados. Por quê? Para o sistema se parecer mais com os modelos anteriores. 

 

71.jpg

 

Seis meses depois do lançamento da mais recente versão de seu carro-chefe, Tamy Redler, diretora da divisão Windows, anunciou ao jornal Financial Times esse recuo vexatório. Ela também disse que a empresa cometeu erros em sua estratégia, como a falta de treinamento aos vendedores, que não souberam instruir os consumidores adequadamente. “Está muito claro que deveríamos e podíamos ter feito mais”, disse Tamy. Além disso, a Microsoft se esqueceu de conversar com os fabricantes de PCs. A nova interface, principal novidade do sistema, privilegia telas sensíveis ao toque, mas quase nenhum modelo estava disponível com esse recurso quando o Windows 8 foi lançado, em outubro de 2012. Os poucos aparelhos preparados foram colocados com preços astronômicos no mercado. O Yoga, da chinesa Lenovo, por exemplo, custava R$ 9 mil no Brasil, valor que poucos consumidores parecem dispostos a pagar.

 

A falta de atrativos do Windows 8 causou um estrago tremendo no mercado de computadores. Segundo a consultoria IDC, as vendas desse segmento tiveram uma queda global de 14% no primeiro trimestre de 2013, em relação ao mesmo período do ano anterior. Foi o maior declínio na história do levantamento, iniciado em 1994, e marcou o quarto trimestre seguido de baixa. No Brasil, a queda foi ainda maior, de 25%, segundo a GFK. A Microsoft, no entanto, ainda tem muita lenha para queimar. No primeiro trimestre deste ano, a empresa registrou um resultado robusto, com lucro de US$ 6,06 bilhões, uma alta de 19% sobre o mesmo período de 2012. O mérito se deve, em parte, à divisão de negócios que comercializa o pacote de programas Office, cujas receitas chegaram a US$ 6,3 bilhões, um crescimento de 8% em três meses.

 

Aparentemente, basta um número piscar em azul nos resultados para a empresa assumir uma atitude arrogante. Bill Gates, o lendário fundador da Microsoft, avaliou que os consumidores estão frustrados com o iPad e os tablets Android, pois estariam “sentindo falta do Office”. A afirmação de Gates não se respalda nos números, já que, somados, foram vendidos 47,3 milhões de unidades desses aparelhos, entre janeiro e março, 40 vezes mais que as 900 mil unidades do Surface, tablet da Microsoft, equipado com o Office. Essa postura tem dificultado a modernização da Microsoft. Parece que foi ontem que essa era a maior empresa de tecnologia do mundo, em valor de mercado. Hoje, ela está em terceiro lugar, atrás, vejam só, de Google e Apple, as companhias por trás dos tablets criticados por Gates. E, por falar em Windows 8, para desligar o PC com esse sistema, o prezado leitor deve levar o mouse até o lado direito da tela, esperar subir uma barra com opções e clicar em configurações. Depois, aperte o “Power” para, finalmente, encontrar a opção desligar. Facilitar para quê?