A lição vem da antigüidade. Os faraós já propagavam aos quatro ventos que há épocas de vacas gordas e épocas de vacas magras. Se você está entre os mais de 20 mil investidores que colocaram dinheiro na Fazendas Reunidas Boi Gordo sabe o quanto o ditado dos soberanos do antigo Egito ainda é atual. Depois de obter lucros exorbitantes, de 42%, enfrenta uma entressafra brava que ameaça todo o seu investimento. Agora, um mês após a empresa pedir concordata, resta se armar judicialmente e ver o que irá sobrar do rombo de R$ 1,2 bilhão. O desenrolar do caso, no entanto, deve ser acompanhado com muita atenção não só pelos prejudicados (os atuais credores). Afinal, a história frustrante como, por exemplo, a do empresário paulista Rubens José Paulella, que aplicou R$ 360 mil num contrato de investimento coletivo da Boi Gordo e não conseguiu resgatar o dinheiro, serve de lição para qualquer investidor.

1 – Rentabilidade exorbitante. ?Desconfie de negócios que garantam lucros muito acima do mercado?, alerta o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Enquanto as aplicações em renda fixa propiciam lucro médio de 20% ao ano, a Fazendas Reunidas Boi Gordo garantia um rendimento de 42% no prazo de 18 meses. A grande diferença na margem de ganhos já serve como indício para você suspeitar da aplicação. Não existe mágica no mundo das finanças: quanto maior a chance de ganho, maior também a margem de risco.

2 – Lucro passado não é garantia futura. É fato, a empresa já havia remunerado muito bem os seus antigos clientes.

?Conhecia pessoas que haviam investido e já tinham recebido o dinheiro de forma correta?, conta o empresário Paulella. Foi aí que ele se enganou. Quando o assunto é finanças, os lucros anteriores não querem dizer muita coisa. De uma hora para outra, como aconteceu, o sistema de ganhos pode falhar. Na hora de resgatar os promissores lucros, o investidor ficou apenas com o estorvo de um processo de concordata que também apresenta números estratosféricos: 12 mil páginas em 60 volumes.

3 ? Pesquise os riscos. Apostar em boi gordo tem dois riscos:
você perde dinheiro numa crise no mercado de carne ou, o mais comum, se a empresa escolhida não estiver com as contas em dia. Você iria pensar duas vezes antes de colocar o seu dinheiro na
Boi Gordo se apurasse o histórico do negócio no Brasil.
Em 98, a Gallus Agropecuária quebrou deixando um rombo de
R$ 35 milhões. O trauma, no entanto, foi rapidamente esquecido assim que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a regulamentar o setor.

4 ? Fiscalização não evita quebradeira. A regularização passou a ser um dos apelos publicitários da Boi Gordo para
atrair investidores, porém, isso não basta. ?Os bancos também são fiscalizados e quebram?, compara Miguel de Oliveira, da Anefac. Com certeza, evita maiores estragos, mas não imuniza.

5 ? Acompanhe os balanços. Se você tem investimento em médio e longo prazo ? como os contratos da Boi Gordo ? não deve nunca colocar o dinheiro e esquecer. ?É fundamental continuar acompanhando a situação financeira da empresa?, diz Oliveira. Assim, você pode evitar ser pego de surpresa numa quebradeira e tem a chance de tirar o dinheiro antes, mesmo sem lucro. Na época de vacas magras, perde menos quem tira o gado do pasto primeiro.

6- Aproveite as pistas. Em março, a CVM proibiu uma nova emissão de contrato da Boi Gordo. A negativa foi um bom
alerta para os investidores. Se você estivesse atento poderia perceber que já naquela época alguma coisa já não estava indo bem naqueles pastos.

7- Verifique as condições da concordata. No processo de concordata, o primeiro passo é conferir se o seu nome está na lista de credores da empresa e se o valor estipulado para o pagamento está correto. Mais um problema para os credores da Boi Gordo. Isso porque a empresa deliberadamente descontou os 10% da sua taxa de administração, mas não incluiu nos cálculos os prometidos 42% de rendimento. A distorção pode ser contestada por meio de uma impugnação judicial. Procure um advogado.

8 ? União faz a força. Os custos judiciais para acompanhar e contestar um processo de concordata são elevados. A recomendação dos especialistas é que isso seja feito por meio de uma associação de investidores. Outra vantagem é que o grupo pode agilizar o processo, evitando que seja analisado caso a caso.

9- Escolha da Associação. Os credores da Boi Gordo, por exemplo, criaram cinco associações. Para evitar mais problemas, você deve escolher a que melhor atende aos seus objetivos e, de
preferência, aquela constituída formalmente, com estatuto registrado em cartório.

10 ? Cruze os dedos. Depois de tomar todas essas providências, você tem pouca coisa a fazer. Resta cruzar os dedos e torcer para que a empresa devolva o seu dinheiro durante o período de concordata. Caso contrário, se chegar a pedir falência, saiba que terá poucas chances de ver a cor do investimento. No processo falimentar, os clientes são os últimos da lista a receber. Assim, quando chegar a sua vez, provavelmente, a Fazendas Reunidas Boi Gordo não terá mais caixa nem patrimônio para fazer o pagamento.