O Dia dos Namorados será comemorado nesta quarta-feira, 12, e para alguns casais pode pairar a dúvida: como falar sobre dinheiro? A incerteza pode começar antes mesmo do primeiro encontro na forma de uma pergunta bastante antiga: afinal, quem paga a conta?

“Não existe regra”, afirma o educador financeiro Thiago Martello. “Na minha opinião pessoal, o homem deve efetuar o pagamento da primeira conta. Tenho 37 anos então aprendi assim.” Ele diz, porém, que o casal pode decidir combinar previamente e falar sobre pagar meio a meio caso haja necessidade. “Ou o rapaz pode chamar para uma coisa mais barata, como comer uma sobremesa ou ir em uma cafeteria”, sugere.

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“No primeiro encontro, talvez quem teve a iniciativa de convidar paga, até porque tem casais do mesmo sexo em que não dá pra ter uma regra”, opina a educadora financeira Milla Gaudencio. Porém, na sua vida pessoal, ela prefere outro acordo. “Acho que o meio a meio é sempre a melhor decisão”.

Quando é hora de falar sobre finanças?

Os especialistas consultados pela IstoÉ Dinheiro concordam que as conversas sobre dinheiro devem acontecer logo no início da relação. “Mas claro que de um jeito mais superficial. Não precisa entender detalhe por detalhe”, diz Martello.

“Não precisa necessariamente começar por saber o que a pessoa ganha, pode começar a entender os valores da pessoa”, diz Guadencio. Ela enumera algumas questões para conhecer melhor a vida financeira da outra pessoa: “Você compraria uma casa? Prefere alugar? Faz planejamento ou só gasta e depois olha?”

A educadora destaca que é importante ter seu próprio autoconhecimento financeiro. Para isso, indica um método de construir uma linha do tempo com memórias relevantes como primeiro contato com dinheiro, primeiro salário, se já teve nome sujo, etc.

“É um exercício que vai te ajudar a entender seu padrão de comportamento. Você pode até ir mais atrás e pensar como seu pai e sua mãe tratavam isso”, diz. Depois, os acontecimentos são classificados com emojis tristes e felizes, e é feito um saldo da vida financeira.

O autoconhecimento financeiro torna mais fácil entender pontos em comum e divergências, e inclusive observar em si repetições de padrões para deixar para trás.

“As pessoas acham que falar dinheiro é falar de matemática, mas na verdade é sobre comportamento, ancestralidade e trajetória de vida”, afirma Milla Gaudencio.

Para aprofundar o conhecimento sobre seu companheiro ou companheira, Martello destaca que existem quizzes disponíveis na internet para ajudar, com perguntas como o que faria com um prêmio de loteria e como você gosta de gastar seu salário.

E se o parceiro pedir dinheiro emprestado?

No começo da relação, Martello recomenda negar qualquer pedido de empréstimo, seja de dinheiro, cartão ou de nome, para evitar cair em golpes como o mostrado no documentário “O Golpista do Tinder”. O filme mostra Simon Leviev, um criminoso que se passa por magnata para tirar dinheiro de mulheres com quem se relaciona.

“Porque está apaixonada, a pessoa acredita em uma história e acaba colocando em cheque sua saúde financeira”, diz Martello. “O melhor é falar: não me sinto confortável de emprestar e se isso colocar a relação em cheque não faz sentido estar juntos. A fase de namoro não é hora de emprestar.”

Outra recomendação do educador financeiro é ler e discutir livros de finanças em dupla, como Casais inteligentes enriquecem juntos, de Gustavo Cerbasi. “Tem vários insights extremamente positivos.”

Estes métodos facilitam aquilo que os especialistas consideram mais essencial na organização das finanças de um casal: a conversa. “É normal, você pergunta: onde você mora? Da onde você veio? Como é sua família? Então fale de dinheiro também!”, diz Martello.

Milla Gaudencio recomenda o mesmo livro de Gustavo Cerbasi, e destaca um trecho em que o autor recomenda buscar alguém que combine na vida financeira, assim como algumas pessoas tentam compatibilizar horóscopo.

Brigas por conta de dinheiro

Mas e se o relacionamento já é antigo e começam a surgir brigas por conta de dinheiro? Os especialistas contam que é uma situação muito comum, surgida quase sempre como consequência de muitos anos sem falar do assunto.

O silêncio pode formar situações complexas, como uma pessoa estar no cheque especial e casada com alguém com finanças confortáveis, ou alguém estar incomodado com a diferença de salários do casal, querer um novo acordo sobre a divisão das contas e não saber como propor .

Milla Gaudencio considera que um bom passo para facilitar as conversas é manter as finanças separadas e apenas usar contas conjuntas para planejar sonhos compartilhados, como uma casa ou um carro. “Você pode ainda assim ter um acordo sobre gastos acima de um certo valor serem conversados.”

O objetivo é evitar controle dos gastos de um sobre o outro. Segundo a educadora financeira, em todos os casais há alguém mais gastador e outra pessoa mais controladora.

“Visitar suas emoções é importante”, recomenda a educadora financeira. “Entender os sentimentos, chamar para conversar, e buscar ajuda. Aí você vai entender até se juntos conseguem chegar em uma situação confortável.”

Martello diz que há outros profissionais que podem ajudar. Um exemplo são os terapeutas especializados em psicologia econômica. “Quando o casal está disposto e dedicado a saber que o parceiro não é o inimigo mas um aliado, quanto mais juntos esses casais tiverem, a chance de emergir é muito maior.”

Milla Gaudencio concorda. “Se vocês se amam e querem estar juntos, é preciso entender o que tem de ser feito para dar certo.”