Estamos a menos de três meses do primeiro turno das eleições e os candidatos já estão autorizados pelo Tribunal Superior Eleitoral a fazerem campanha eleitoral. A partir de agora, os pretendentes a presidente da República, governadores, senadores e deputados já podem apresentar para o eleitorado seus planos de governo, plataformas e ideias. Em 2014 serão mais de 140 milhões de brasileiros habilitados a votar, um aumento de 4,43% desde 2010. O dado que mais chama a atenção é o crescimento da base de jovens entre 16 e 18 anos, que já representa 1,7 milhão de eleitores.

A mudança no perfil do eleitor exige de candidatos e responsáveis por campanhas um novo olhar, que deve considerar a interatividade e o uso de mídias e ferramentas que consigam atingir o novo eleitor. O uso das redes sociais será essencial e pode ser decisivo, desde que as estratégias sejam traçadas com sabedoria e inteligência. Para ilustrar a importância das redes, trago para essa discussão um exemplo recente, das últimas eleições na Índia, ocorridas neste ano. A escolha do primeiro-ministro indiano aconteceu no que ficou registrado como a maior eleição democrática do mundo, com cerca de 537 milhões de votos no total.

Destaque para o crescimento relevante do número de mulheres e jovens. Na Índia, 50% da população tem menos de 24 anos, mais de 40% de toda a população apta a votar tem entre 18 e 35 anos e 150 milhões de eleitores votaram pela primeira vez em 2014. Esses dados representam a força de uma geração cada vez mais crítica e conectada – 70% dos estudantes indianos possuem smartphones –, o que trouxe mais um ponto de atenção para os políticos. Pela primeira vez foi possível identificar uma sobreposição da população urbana – instruída e com amplo acesso à tecnologia – à Índia que ainda baseia seu voto em disputas de castas.

Para esses eleitores jovens, conectados e interessados em mudanças, as redes sociais representam uma plataforma de troca de informações, a maioria delas compartilhada por pessoas de confiança. Uma pesquisa da University of Cali­fornia, durante as eleições norte-americanas em 2012, revelou que influências so­­ciais, especialmente as compartilhadas via plataformas sociais e entre amigos próximos, são as principais formas de influenciar indivíduos a participarem ou não das eleições.

Os políticos indianos souberam utilizar esses dados e fizeram da eleição de 2014 a primeira eleição social do país. A plataforma do Facebook foi utilizada tanto para compreender as demandas da população quanto para disseminar as ideias e posturas pessoais dos candidatos. Além de informações sobre a campanha, com atualização de planos e projetos, a página de Narendra Modi, primeiro-ministro eleito, foi utilizada para discutir os problemas que mais incomodam a população e até para compartilhar conteúdos sobre o hinduísmo.

Essa humanização do conteúdo, que deixou de ser somente político, abriu um canal de comunicação direto, que permitiu que eleitores se identificassem com o partido e seu candidato, aumentando a popularidade e o apoio a ambos. Não foram as redes sociais que levaram Modi à vitória. Elas foram, sim, fundamentais, mas por serem as melhores mídias para o diálogo aberto, a conversa franca e a humanização dos candidatos, que passaram a ser vistos não mais como políticos distantes, mas como pessoas preparadas e preocupadas em mudar a vida da população para melhor. Modi estava disposto a ouvir e conseguiu compreender o pedido de mudança.

(Leonardo Tristão é diretor-geral do Facebook no Brasil. Acompanhe seu blog no portal.)