05/06/2015 - 19:00
Ao divulgar os resultados de 2014 da Petrobras no dia 22 de abril, Aldemir Bendine, o presidente da estatal mais conhecido como Dida, pelos amigos, não tratou apenas das perdas com a operação Lava Jato, mas discutiu também um ponto bastante preocupante para o mercado: o endividamento da empresa. Pelas contas do mercado, o passivo, em grande parte corrigido pelo dólar, deveria avançar no início deste ano, e sua rolagem seria difícil. Metade dessa expectativa estava certa. Ao anunciar os dados do primeiro trimestre de 2015, no dia 20 de maio, a Petrobras comunicou um aumento de 18% na dívida liquida, que chegou a R$ 332,5 bilhões.
No entanto, na noite da segunda-feira 1, após o encerramento dos negócios, a estatal surpreendeu os investidores ao captar, sem dificuldades, US$ 2,5 bilhões (R$ 7,84 bilhões) no mercado internacional. Havia demanda para US$ 12 bilhões, apesar de o vencimento dos papéis estar agendado para junho de 2115, ou seja, daqui a cem anos. A estatal garantiu o sucesso da emissão e reabriu o mercado às captações brasileiras. No dia seguinte, terça-feira 2, Globo e BRF captaram recursos lá fora. A Globo levantou US$ 325 milhões por dez anos pagando 4,84% ao ano, e a BRF captou € 500 milhões por sete anos, pagando 2,82% ao ano.
Foi, é certo, uma captação cara. A Petrobras está pagando juros de 8,45% ao ano. Mesmo assim, os investidores gostaram. As ações preferenciais subiram 3,8% na terça-feira 2, e mantiveram esse patamar no pregão seguinte. “A emissão mostrou que a estatal não terá dificuldades para rolar sua dívida neste ano”, diz o analista Clodoir Vieira. A regularização do acesso ao capital externo garante a continuidade do programa de investimentos da Petrobras, especialmente a exploração do pré-sal. Equacionar as finanças depois de passado o furacão da Lava Jato é um dos dois maiores desafios de Bendine.
Para os analistas, a situação com os credores está equacionada. “Não há riscos de a Petrobras ficar sem possibilidade de captar, tanto no Brasil quanto no exterior, principalmente por ser estatal” diz Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora. “A divulgação do balanço tornou mais claras as condições de financiamento.” O outro grande desafio de Bendine é melhorar a governança da estatal. Enquanto faziam as últimas contas da captação, os executivos receberam a notícia de que o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) havia punido a estatal, suspendendo sua participação do instituto por 12 meses.
A Petrobras é uma das mantenedoras do IBGC. Segundo Heloisa Bendicks, superintendente-geral do IBGC, a decisão veio após um processo disciplinar do Instituto, iniciado no fim de 2014, e que condicionou a volta da Petrobras à adoção de diversas medidas para melhorar sua governança, promovendo a eleição de mais membros independentes nos comitês de auditoria e de remuneração, e também tornando o Conselho de Administração mais eficaz. Na terça-feira 2, a empresa anunciou seus novos conselheiros (leia mais aqui).
Até agora, os acionistas têm dado um voto de confiança à nova administração. Os papéis preferenciais da Petrobras vêm oscilando violentamente nas últimas semanas, devido às mudanças de humor dos investidores internacionais, mas mesmo assim ainda conseguem exibir uma alta de 28% no ano, até a quarta-feira 3. “Petrobras é uma ação com bom potencial de valorização”, diz Vieira, sem estabelecer, porém, um preço-alvo para os papéis. “Mas é uma aplicação recomendada apenas para investidores capazes de suportar uma volatilidade elevada, pois ainda vai demorar para as cotações se estabilizarem.”