11/06/2020 - 18:07
O chefe do estado-maior dos Estados Unidos, general Mark Milley, disse nesta quinta-feira que se equivocou ao acompanhar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando este foi tirar fotos após a repressão a uma manifestação pacífica, um sinal de que as diferenças entre Donald Trump e o Pentágono se aprofundam. “Não deveria ter estado ali”, declarou o general, depois que o chefe do Pentágono, Mark Esper, distanciou-se de Trump na semana passada.
O incidente polêmico ocorreu no último dia 1º, quando Trump saiu da Casa Branca para tirar uma foto segurando a Bíblia em frente à Igreja de Saint John, vandalizada na véspera durante protestos contra a violência policial motivados pela morte de George Floyd.
“Minha presença naquele momento e ambiente criou uma percepção de participação militar na política interna”, declarou o general Milley. “Devemos respeitar escrupulosamente o princípio de um corpo militar apolítico, que está enraizado profundamente na essência da nossa república.”
As imagens do militar em roupa de combate junto a Trump foram usadas pela Casa Branca em um vídeo com tom eleitoral, o que consternou Milley, segundo uma fonte do Pentágono.
– Tomada de consciência –
Vários antigos chefes militares, entre eles o ex-secretário de Defesa Jim Mattis, expressaram-se contra a politização das Forças Armadas. “Eu jurei defender a Constituição. Nunca poderia imaginar que tropas que fizeram o mesmo juramento poderiam, sob qualquer circunstância, violar os direitos de seus cidadãos”, criticou Mattis.
O ex-secretário foi mais longe e disse que tampouco poderia conceber que altos comandos militares posariam para uma foto, de forma absurda, com o presidente.
A Casa Branca defendeu a foto de Trump afirmando que a mesma enviava uma mensagem contundente, e o comparou ao premier britânico durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill. Mas o episódio parece ter provocado uma tomada de consciência entre os altos comandos militares, que, pela terceira vez, expressaram publicamente suas diferenças com o Executivo.
– Precedentes –
“Não sou a favor de decretar estado de insurgência”, disse Mark Esper, referindo-se ao único texto que permitiria de forma legal ao presidente enviar soldados na ativa para dispersar mobilizações, em vez de usar a Guarda Nacional, um corpo de reservistas.
O chefe do Pentágono também expressou arrependimento: “Faço o possível para permanecer apolítico e evitar situações que possam parecer políticas. Às vezes, consigo. Outras vezes, não.”
Esta semana, Esper e o secretário do Exército, Ryan McCarthy, declararam-se abertos a estudar uma proposta para mudar o nome de 10 bases militares batizadas com nomes de generais da Confederação, grupo de estados do sul dos Estados Unidos que, durante o século XIX, lutaram pela secessão para manterem seus escravos. Trump expressou imediatamente sua oposição a esta ideia.
Esta não é a primeira vez que a Casa Branca é acusada de politizar o Exército. Em junho de 2019, durante uma visita ao Japão, Trump pediu que fosse colocado fora da sua visão um destróier lança-mísseis batizado em homenagem ao falecido senador John McCain, um crítico ferrenho de Trump.
O presidente americano também interviu junto à Justiça militar para exigir a exoneração do soldado Edward Gallagher de acusações por crimes de guerra, um caso muito defendido pela rede de TV conservadora Fox News.