Começou a bolsa de apostas para saber se a presidente Dilma Rousseff vai desembarcar, uma vez mais, no mês de outubro, em São Paulo, para uma cerimônia pública com o governador Geraldo Alckmin. Tudo indica que sim. Será, então, a terceira visita dela ao Estado. A presidente já tinha vindo à terra da garoa, em agosto, para o anúncio de unificação do programa federal de distribuição de renda, Bolsa Família, e o estadual, Renda Cidadã. Na manhã da terça-feira 13, o avião presidencial pousou em Araçatuba, a 532 quilômetros da capital paulista, onde Dilma se juntou a Alckmin para lançar a pedra fundamental do estaleiro Rio Tietê e firmar uma carta de intenções de investimento conjunto, de R$ 1,5 bilhão, na Hidrovia Tietê-Paraná. De lá, a dupla seguiu, no avião presidencial, rumo à capital para outro anúncio: a parceria no investimento da última parte do Rodoanel paulista, o trecho norte. Ao todo, o governo federal liberará R$ 2,7 bilhões para as obras no Estado.

91.jpg
Clima republicano: a presidente Dilma abraça o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (à esq.),
e cumprimenta seu ex-adversário na disputa presidencial, José Serra

No próximo mês, governo federal e estadual terão mais uma parceria por divulgar. Desta vez, para o programa Minha Casa Minha Vida. Os tempos mudaram, não há dúvidas. De trincheiras políticas opostas, Dilma e Alckmin deixaram de lado os broches e as bandeirinhas e assumiram a dobradinha, fundamental para a fluência de projetos imprescindíveis, principalmente na área de infraestrutura. “Não é possível que tenhamos em divergências pessoais ou políticas obstáculos para realizar investimentos imprescindíveis”, disse a presidente, na semana passada, ao ressaltar que tinha no governador tucano “um excepcional parceiro nestes oito meses de governo”. Alckmin, por sua vez, devolveu a gentileza: “Presidente Dilma, sinta-se em casa.” Elogios à parte, diante da responsabilidade que pesa sobre o Brasil em função de compromissos assumidos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, a presidente e o governador selaram uma ponte política para tirar gargalos da frente.  

Um verdadeiro contraste com o azedume vivido, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a disputa entre democratas e republicanos ajuda a manter o país em crise há três anos. Responsável por um terço do PIB, o Estado de São Paulo concentra projetos importantes, e é a “principal esquina do País”, observa Laurence Casagrande, presidente da Dersa, responsável pelas rodovias do Estado. O trecho norte do Rodoanel, por exemplo, fará a ligação entre o aeroporto internacional de Guarulhos e o porto de Santos, no litoral paulista, projeto este que beneficia toda a economia do País. O Estado entrará com R$ 2,2 bilhões, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai emprestar R$ 2 bilhões, e a União, R$ 1,72 bilhão. “O grande gargalo para os investimentos é a falta de recursos”, diz Lourenço. “Quando há um clima de cooperação entre Brasília e São Paulo, cria-se o ambiente propício para que apresentemos projetos e os recursos sejam liberados”, afirma o presidente da Dersa. “Todos ganham.” É verdade.

 

Projetos como a Hidrovia Tietê-Paraná, no qual São Paulo entrará com R$ 600 milhões e o governo federal com R$ 900 milhões, vão trazer ganhos diretos aos produtores agrícolas do Centro-Oeste. “Vamos dobrar a capacidade da hidrovia com as melhorias, como o alargamento das pontes e o aumento da profundidade dos canais”, diz Casemiro Tércio, presidente da Companhia Docas, responsável pela gestão de projeto. “Hoje o custo da soja é o menor do mundo nas fazendas de Goiás, mas até chegar aos portos perdemos esse diferencial com os gargalos logísticos”, explica Tércio. A Hidrovia será importante, ainda, para o transporte de matéria-prima de etanol da Petrobrás nos próximos anos.  São ganhos que, ao que parece, já estavam no radar da presidente. O primeiro sinal de que Dilma imprimiria um novo tom na relação com governadores tucanos foi dado no aniversário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em junho. 

 

92.jpg

 

 

Numa carta elogiosa, ela o classificou de o “presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”. Não faltaram descontentes no PT. Alas mais afeitas à polarização com o PSDB queixaram-se nos bastidores de que Dilma invalidara o discurso da “herança maldita”, difundido pelo ex-presidente Lula. Em público, lideranças do PT aprovam a conciliação. “Nosso discurso é de uma parceria republicana e vamos continuar a fazê-lo”, diz a senadora Marta Suplicy. Mesmo entre os tucanos, há um consenso de que o clima com São Paulo está mais leve. “É uma relação institucional, com o Lula havia mais confronto”, pondera o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP). O senador Aloysio Nunes (PSDB) minimiza o fato. “São positivas, mas as parcerias não têm nada de ‘nunca antes na história desse País’”, diz. “O próprio Lula foi à cerimônia de lançamento do Rodoanel”, afirma.

 

Nas próximas semanas, Dilma e Alckmin chamarão os holofotes com a unificação do programa habitacional paulista com o Minha Casa, Minha Vida, que deve ser concluída para beneficiar famílias com renda mensal de até R$ 1.600. Com a valorização imobiliária, as linhas de crédito de até R$ 65 mil da Caixa não atendem o público interessado. Para acertar o desequilíbrio de preço, o governo de São Paulo vai dar um subsídio de até R$ 20 mil sobre o teto do financiamento da Caixa, de R$ 65 mil. O secretário de Habitação de São Paulo, Sílvio Torres, explica que o acordo vai contemplar 70 mil das 180 mil casas que o programa federal vai destinar ao Estado. As parcerias, lembra ele, são uma questão nacional. “Errado seria não fazer.”

 

93.jpg