O funcionamento da maioria dos Conselhos de Administração tem frustrado as expectativas de acionistas, dirigentes, analistas de mercado, potenciais investidores e consultores de empresas. Interessados em adotar algumas práticas da boa governança e em iniciar ou aprofundar o grau de profissionalização das suas empresas, alguns fundadores e empresários têm decidido começar esse processo através de um típico conselho consultivo e em alguns casos até mesmo estruturando um ou dois comitês de assessoramento.

Porém, após um breve período de lua de mel — quando orgulhosamente anunciam que agora a empresa possui um Conselho com membros independentes e em alguns casos até com celebridades — as rusgas começam a aparecer. Os sintomas são os mais diversos. As verdadeiras causas-raiz também são bastante variadas. De forma semelhante às desavenças conjugais, ambas as partes envolvidas são, e nem sempre se dão conta, corresponsáveis pela situação indesejada.

Para aprofundar o entendimento desse delicado tema, melhor colocar algumas hipóteses na forma de perguntas, utilizando a abordagem da maiêutica socrática, do que fazer afirmações que podem gerar desconforto e defensividade.

Assim, seria salutar se os bem-intencionados acionistas ou empreendedores procurassem se fazer certas perguntas e tentassem respondê-las para si próprio, de forma sincera, antes de iniciar o processo de implantação de um Conselho de Administração em sua empresa:

• Quais as reais razões que fazem com que sua empresa precise de fato de um Conselho de Administração? Você está convencido dessa necessidade ou acha que poderia continuar pilotando seu negócio sem essa entidade?

• O que você espera como contribuições de um conselheiro? Legitimar algumas decisões que você já mentalizou e precisa do aval de um órgão colegiado ou você busca um real questionamento, um contraponto que lhe permita refletir mais profundamente sobre alguns dos seus dilemas decisórios?

• Qual o seu grau de tolerância com a diversidade de perspectivas e com novas e inusitadas maneiras de encarar os seus desafios? Você está disposto a ouvir outras opiniões antes de tomar decisões de forma solitária e impulsiva?

• Você está recrutando conselheiros baseado na sua amizade pessoal, buscando profissionais da sua irrestrita confiança ou busca nomes que emprestam prestígio ou gostaria de fato de ter conselheiros com um nível comprovado de independência de posicionamento?

• Você gostaria de ter alguém que vai apoiar suas posições e seguir suas decisões ou recrutará alguém que vai ser diligente para se posicionar como protagonista e não simplesmente como coadjuvante no processo decisório da empresa?

Da mesma forma, aos candidatos a conselheiros torna-se bastante pertinente uma reflexão sobre algumas questões e as respostas para si mesmos de forma bem sincera:

• Qual a real motivação para assumir uma posição no Conselho de uma empresa? Está disponível e acha que essa seria uma boa alternativa para reingressar no mercado de trabalho? Ou está numa fase avançada e já pensa em uma transição para continuar ativo?

• Qual a sua atitude frente ao grau de risco que deve aceitar ao atuar em um Conselho? Como você pretende harmonizar a necessária prevenção dos diversos riscos inerentes em todos os negócios com o espírito empreendedor que deve prevalecer para garantir a competitividade das empresas?

• Você pretende ser um conselheiro diligente na busca de soluções ou atuará sem se preocupar muito com os detalhes e com as versões contadas pelos acionistas, executivos e demais colegas no Conselho?

Nunca é demais lembrar que o principal fator no sucesso ou fracasso de um Conselheiro diz respeito ao seu posicionamento perante os fatos que vier a enfrentar. Ser diligente ou negligente, eis a questão existencial a ser enfrentada para evitar o risco de ser considerado conivente, caso a empresa venha a trilhar caminhos inesperados ou indesejados.

César Souza fundador é presidente do Grupo Empreenda