A semana passada trouxe poucas notícias positivas para a presidenta Dilma Rousseff. Uma nova pesquisa confirmou que sua popularidade caíra 22 pontos em relação ao mês anterior, o Congresso continuou resistindo à sua proposta de reforma política e os indicadores econômicos mostraram uma atividade em ritmo mais lento do que o desejado. A presidenta, porém, colocou em prática uma importante decisão. Para afastar o pessimismo que vinha ganhando corpo nos últimos meses, Dilma trabalhou para ajustar a sintonia com os empresários. O palco escolhido foi a reunião que marcou os dez anos do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), na quarta-feira 17, em Brasília.

 

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Reunião do conselhão na quarta 17: discurso com diagnóstico correto agradou a líderes

como Marcelo Odebrecht (no alto, à esq.), Jorge Gerdau (à dir.), Trabuco, do Bradesco (no centro, à esq.),

e Maurílio Biagi (no centro, abaixo), para quem o encontro pode ser “um divisor de águas”

 

Criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva justamente para estreitar o diálogo entre o setor produtivo e o governo, o chamado Conselhão perdeu prestígio nos últimos tempos. Quando assumiu o cargo, há dois anos e meio, Dilma manteve sua participação nas reuniões, mas prestava pouca importância ao fórum. Agora, sua avaliação é outra. ?Este é um canal muito importante, conectado com o Brasil real?, afirmou em discurso de 52 minutos, no qual garantiu que a inflação está sob controle e que o governo vai se esforçar para aumentar os investimentos e manter a estabilidade fiscal. ?Só podemos gastar aquilo que temos para gastar.? 

 

Dilma lembrou, ainda, que a inflação de julho caminha para perto de zero, ajustando-se à meta anual. O discurso presidencial surpreendeu ? positivamente ?, embora tenha recebido apenas aplausos protocolares ao final. Na verdade, para boa parte dos empresários presentes, o diagnóstico apresentado está correto, mas há dúvidas quanto à capacidade de colocar as promessas em prática. E não deixa de haver quem questione a própria persistência do diálogo agora retomado. São questões que só serão de fato respondidas com o tempo. Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, gostou especialmente da promessa de responsabilidade fiscal. ?A política fiscal adequada dá mais segurança para o investidor?, disse ele. 

 

Para o empresário Maurílio Biagi Filho, Dilma finalmente percebeu que precisa dialogar mais, justamente para melhorar a gestão econômica. ?Essa reunião foi um divisor de águas?, afirmou. Apesar de reconhecer as dificuldades, a presidenta criticou o excesso de pessimismo que se vê hoje no Brasil. E, nisso, ela teve o apoio de muitos na plateia. ?O pessimismo passou do ponto, ele não reflete o Brasil?, disse Marcelo Odebrecht, presidente do Grupo Odebrecht. ?É exagerado, o Brasil tem capacidade de enfrentar essa crise?, concorda Biagi. Os sinais de desaceleração inflacionária também foram reconhecidos pelo presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau. 

 

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Operação resgate: Mantega ouviu de de empresários que era preciso melhorar

a comunicação para não frustrar expectativas

 

?Essa perspectiva dá margem de gestão ao governo?, afirmou. O movimento de reaproximação com os empresários já havia começado cinco dias antes, quando o ministro Guido Mantega recebeu na sede do Ministério, em São Paulo, um time de pesos-pesados da economia. Entre eles, os presidentes da AmBev, João Castro Neves, e do banco BTG/Pactual, André Esteves, e Abílio Diniz, que acumula a presidência do Conselho de Administração da BRF e do Pão de Açúcar. Trabuco e Marcelo, que estiveram com Dilma em Brasília, também participaram do encontro, no qual Mantega estava mais disposto a ouvir do que falar. Em pauta, as impressões desse grupo sobre a conjuntura e o futuro. Não houve reclamações estridentes, mas um recado foi dado: o governo tem que melhorar a comunicação para não frustrar expectativas. Como tudo leva tempo para andar, fica a impressão de que o governo fala muito e faz pouco. 

 

?As coisas demoram a acontecer por dificuldades naturais, por isso é preciso saber trabalhar expectativas?, disse à DINHEIRO um empresário presente à reunião. No encontro, Abílio Diniz, que aos 76 anos era o veterano do grupo, lembrou que o País já teve dias bem piores. ?A situação da economia é difícil, mas não é tão complicada como se fala, os fundamentos continuam bons?, afirmou. Na semana passada, Mantega estava às voltas com a reprogramação orçamentária, que precisa ser entregue, nesta segunda-feira 22, ao Congresso, adequada à nova previsão de receita e despesa. Até quinta-feira 18, não havia uma decisão final sobre uma nova tesourada no orçamento, afinal de contas, não é hora de desestimular o crescimento ? o setor público contribui com um terço do PIB, e um ajuste malfeito pode jogar contra. 

 

Com ou sem cortes, a confiança do setor produtivo caiu neste mês. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, da Confederação Nacional da Indústria, caiu para 49,9 pontos em julho, de um índice de 54,8 pontos no mês anterior. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, considerado uma prévia do PIB calculado pelo IBGE, também registrou queda em maio, em relação ao mês anterior. No acumulado de 12 meses, porém, o índice está em 1,74% e, nos cinco primeiros meses do ano, em 3,01%, o que indica uma recuperação da atividade produtiva. Ao restabelecer uma ponte com os empresários, o Planalto pode contribuir para essa retomada. Mas, para atingir a meta, é preciso seguir os conselhos ouvidos nos encontros das últimas semanas. Não custa nada.

 

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