Em que pese toda a grita ideológica e escárnio dos senhores do capital sobre a posse da ex-presidente Dilma Rousseff no NBD, o “banco do Brics”, há por trás da escolha de Lula uma estratégica e bem calculada movimentação para catapultar o Brasil para outra dimensão no plano do sistema financeiro internacional. Além, de quebra, auxiliar nos desembolsos necessários da Instituição para projetos nacionais. Lula quer o NBD liderando e orquestrando um desenvolvimento de comércio lastreado nas próprias moedas dos integrantes do bloco, fora do padrão dólar ­— ideia que está determinado a levar adiante e que já havia manifestado em sua viagem à China na semana passada. Não está descartada sequer a alternativa de uma moeda única do grupo do Brics, e a própria China gosta da proposta. Na posse de Dilma, Lula reclamou: “Quem é que decidiu que era o dólar? Por que não podemos negociar lastreado na nossa moeda?”. Para o mandatário, o mundo está mal acostumado e, de certa forma, refém dos ditames americanos nas transações globais. Ele almeja pilotar uma fórmula de financiamento distinta nas relações multilaterais, tendo o NBD como ponto de partida e orientou Dilma a trabalhar nessa hipótese. Do mesmo modo, estimativas preliminares apontam que o NBD com Dilma deve emprestar algo da ordem de R$ 5 bilhões ainda neste ano para projetos do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito, a ser executado pelo BNDES. Essa inter-relação entre os dois organismos de fomento deve se estreitar daqui para frente. Até então, o NBD, embora comandado por um brasileiro, o diplomata Marcos Troyjo, vinha tendo uma atuação apagada, quase marginal, não apenas no desembolso de empréstimos ao Brasil como também quanto ao seu desempenho com os demais parceiros. Era queixa recorrente a da sua insignificância no plano do sistema financeiro como alavanca de suporte ao Brics. No total, a instituição possui hoje cerca de US$ 32 bilhões em empréstimos concedidos. Criado em 2015, com sede em Xangai, o NBD nem de longe conseguiu competir até aqui, de igual para igual, na relevância e peso de desembolsos, com entidades como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Muitos críticos reclamam da falta de experiência técnica e de capacidade de Dilma Rousseff para tocar tal empreitada, mas todos estão carecas de saber que não é exatamente isso que conta na cadeira de mando de um organismo de tal envergadura. O traquejo político vale muito. A estreita relação da ex-presidente com Lula será o ponto-chave para uma projeção maior do NBD. Por exemplo, no campo social. O demiurgo de Garanhuns quer o banco agindo com maior firmeza para exterminar a chaga da pobreza, concentrando financiamentos em infraestrutura dos países mais carentes da América Latina e do Caribe. Para ele, o NBD será um instrumento vital nesse sentido, organizando os esforços e empenhos dos membros ricos do bloco na direção correta. De uma forma ou de outra, o que se pode notar é que Lula enxergou no NBD uma ferramenta para os seus planos globais e a instituição, certamente, também deve ganhar com isso.

Carlos José Marques
Diretor editorial