30/10/2022 - 12:45
Como em um episódio da série “Borgen”, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, luta para manter-se no cargo nas eleições legislativas de terça-feira que podem dar o poder a um de seus adversários.
Com um cenário político fragmentado entre 14 partidos, nenhum dos grandes blocos será capaz de alcançar a maioria de 90 entre os 179 assentos do Folketing, o Parlamento dinamarquês, segundo as pesquisas.
O “bloco vermelho” de esquerda, liderado pelos social-democratas de Frederiksen, aparece com 49,1% nas pesquisas, o que lhe daria 85 assentos, frente a 40,9% ou 72 assentos, do “bloco azul” de partidos de direita.
“Trata-se de conquistar o centro, porque os que convencem o centro ficam com o cargo de primeiro-ministro”, explicou o cientista político Kasper Hansen, professor da Universidade de Copenhague.
No centro estão os Moderados, um partido novo fundado pelo ex-primeiro-ministro liberal Lars Lokke Rasmussen, e as pesquisas apontam que terá 10% dos votos, 18 cadeiras, cinco vezes mais que nos pesquisas de setembro, o que surpreendeu os analistas.
Rasmussen, um político experiente, se negou a apoiar algum dos blocos antes da votação.
Seu companheiro de partido Jakob Engel-Schmidt disse que estão “prontos para trabalhar com o candidato que facilite a maior cooperação em torno do centro para adotar as reformas necessárias”.
Os Moderados buscam reformas na saúde e aposentadorias.
– Duras negociações –
Em seu esforço para atrair os eleitores do centro, os social-democratas anunciaram sua intenção de cruzar as linhas que tradicionalmente dividem a política dinamarquesa e flertam com a ideia dos Moderados de um governo de coalizão centrista.
“Isso é o oposto do que ela (Frederiksen) estava dizendo antes, e acho que é porque ela sente que pode perder o poder”, comentou à AFP Martin Agerup, diretor do centro de estudos liberal CEPOS.
Mas a direita, liderada por dois candidatos ao cargo de primeiro-ministro, não fez tal oferta para atrair o centro.
Sem uma clara maioria de ambos, poderiam tentar formar um governo após a eleição, algo que poderia funcionar a favor de Lokke Rasmussen.
“Ele é um cara feroz nas negociações”, disse Agerup.
A trama soa como algo saído do drama político de sucesso “Borgen”, cujo nome remete à sede dos poderes Executivo e Legislativo na Dinamarca, onde a líder de um partido centrista imaginário manobra sutilmente para se tornar primeira-ministra.
– Direita populista dividida –
Mas ficção à parte, os social-democratas, a maior força política do país, tentam se apresentar como “o partido certo para tempos incertos”, segundo Rune Stubager, professor de ciência política da Universidade de Aarhus.
Seu enfrentamento da pandemia de covid-19 foi amplamente elogiado, apesar de determinarem o sacrifício de visons no país por temores de uma variante do coronavírus, que acabou sendo ilegal.
E com a economia em dificuldades, tomaram medidas para que a população possa suportar a alta dos preços.
Agora propõem um imposto sobre as emissões de carbono à agricultura e um aumento salarial para o setor público, enquanto seus aliados fazem campanha pela proteção da biodiversidade e apoio às crianças e setores vulneráveis.
No cenário político, há um consenso sobre a preservação da política de imigração restritiva, questão pouco discutida.
A direita populista anti-imigração poderia ganhar mais cadeiras nesta eleição, mas está dividida entre três partidos que juntos têm 15,5% das intenções de voto nas pesquisas.