Todo silêncio é pouco nas imensas caves em que os cognacs Rémy Martin repousam, dentro de barris ancestrais, na região de Cognac, sudoeste da França. O precioso líquido, feito a base de um vinho de uvas ácidas e aromáticas, que passa duas vezes pelo processo de destilação, necessita de paz e tranqüilidade para envelhecer com classe e manter a tradição de mais de dois séculos, que deu à Rémy Martin o título de melhor produtora de cognacs do mundo. Os cuidados na fabricação da bebida ? feita de maneira tão artesanal quanto em 1724, ano em que a empresa foi fundada ? começam na escolha dos carvalhos utilizados na produção dos barris, que armazenarão o cognac por oito, 20, 60 anos. As árvores são escolhidas uma a uma na floresta de Limousin, em Limonges, no centro da França. Todas atendem ao principal pré-requisito: ter mais de um século de vida.

 

O sucesso da Rémy Martin acompanha a sua existência. Em 1738, o rei da França Louis XV, ardoroso apreciador de cognac, concedeu ao sr. Rémy Martin uma licença real para que ele expandisse suas áreas de plantio. Surgia o Rémy Martin Accord Royal, bebida envelhecida por 12 anos, com uma forte cor de cobre e uma mistura de aromas de canela, cravo e baunilha. Mais do que isso. Surgia a própria Rémy Martin como a marca preferida do rei, dos nobres e de seus descendentes. A sua soberania entre os cognacs de outras fabricantes da região (atualmente, uma em cada três garrafas vendidas no mundo é Rémy Martin) foi garantida pela obsessiva preocupação com qualidade e exclusividade de seus produtos.

O melhor exemplo disso é o Rémy Martin Louis XIII, o top de linha da marca, envelhecido por mais de 60 anos em um depósito especial, isolado de turbulências. Sua garrafa em cristal Baccarat, com design de vidro de perfume, é réplica de um frasco do século XVI, encontrado no local da batalha de Jarnac. A garrafa não sai por menos de R$ 4 mil. O Louis XIII é considerado um verdadeiro objeto de desejo entre os apreciadores da bebida. Os cognacs, em geral, também são absolutamente reverenciados pelos amantes de charuto. O principal motivo para os aplausos à essa sofisticada parceria é que ambos, o charuto e o cognac, requerem um certo tempo para o consumo. O cognac começa a liberar seus melhores aromas após uma hora de permanência no copo.

 

A degustação do cognac, aliás, merece um parágrafo à parte. Existe todo um ritual a ser seguido. A começar pelas taças, que devem ser em formato de balão e pequenas o suficiente para caber na palma da mão. Reflexos de luz ambiente, como a de lareira ou vela, valorizam a beleza da cor âmbar do cognac. Sem agitar a taça e com o calor da mão (atenção: esquentar o cognac no fogo é considerado ?pecado mortal? entre os especialistas, pois acaba com a harmonia da bebida), o cognac libera aromas de flores, baunilha e damasco. Agora, o momento esperado. O cognac deve ser bebido lentamente. Quanto mais velho, mais tempo deve ser gasto
para degustá-lo.

As regras de apreciação do cognac remetem ao século XVI. Naquela época, um vinho rústico, produzido com as uvas cultivadas na atual região de Cognac, era exportado para o norte da Europa. Como as distâncias eram curtas, a bebida era consumida logo após sua fermentação. Com a abertura do comércio para o Oriente, o vinho não resistiu às longas viagens. Depois de quebrar a cabeça para arranjar uma forma de aumentar a durabilidade do vinho, os fabricantes descobriram que a destilação, com duas passagens pelo alambique, tornava-o não perecível e com alto teor alcoólico. O envelhecimento prolongado em tonéis de carvalho era o toque final para garantir a textura aveludada e o sabor marcante de frutas, além de aromas de nozes, damasco e tabaco.