07/08/2008 - 7:00
A PRIMEIRA LIÇÃO QUE O INVESTIDOR aprende nas aulas de educação financeira é pensar no longo prazo, mesmo que algum revés apareça pelo caminho. Quando essa instabilidade acontece logo nos primeiros passos, a persistência passa a ser a lição número dois. Afinal, dinheiro atrai dinheiro, mas leva algum tempo. Raymundo Magliano Neto, Robert Dannenberg e Carlos Vallim, sócios da empresa de eventos Trade- Network, precisaram colocar em prática o que era ensinado pelos palestrantes convidados por eles para a feira Expo Money. A estréia em São Paulo, em 2003, atraiu nove mil visitantes. O sucesso de público não se refletiu no caixa. Os sócios amargaram uma conta de R$ 900 mil no vermelho. Eles nem cogitaram enterrar de vez a idéia de levar conhecimento a um público carente de informações financeiras. Naquele momento, os investidores individuais na Bovespa não passavam de 100 mil pessoas, cinco vezes menos que hoje. Mas era preciso atrair patrocinadores. E copiar o mercado de ações: se os bons fundamentos continuassem a ser cumpridos, a alta do papel aconteceria em pouco tempo.
Cinco anos mais tarde, o faturamento mudou de cor e está em R$ 9 milhões por evento. A marca Expo Money virou uma referência no mercado financeiro e está presente em dez capitais. A regionalização é um dos pontos fortes. A organizadora consegue identificar as diferentes necessidades de cada uma das cidades visitadas. Não são todas que estão preparadas para receber uma carga maior de informações sobre investimentos como o público paulista. Nos dias 6 e 7 de agosto, a Expo Money desembarca em Brasília com uma proposta basicamente de educação financeira. “Pelas nossas pesquisas, o brasiliense está mais endividado que os moradores de outros Estados”, diz Magliano Neto. É essa mobilidade que consegue atrair um número cada vez maior de visitantes.
O balanço deste ano deve registrar que mais de 55 mil pessoas acompanharam as palestras de professores e profissionais de investimentos. Foi lá que surgiram alguns nomes que hoje são destaque na consultoria financeira, como Gustavo Cerbasi, e fazem parte da parceria com a editora Campus-Elsevier, que levou as exposições para as estantes. Desde o ano passado, uma série com 15 títulos com variados temas podem ser comprados pelos investidores. Outros seis estão no forno para este ano. “Existia uma lenda de que brasileiro não fala sobre o próprio dinheiro. Mas o que ele precisava era ouvir o que os especialistas tinham a dizer”, diz Dannenberg.
Os três sócios conseguiram equilibrar os poucos pontos em comum entre eles. Magliano Neto é quem está mais próximo dos investimentos. Ele trabalhou como corretor de valores mobiliários e tem no berço um importante DNA. Seu avô Raymundo Magliano e seu pai, Raymundo Magliano Filho, são ícones do mercado e presidiram a Bovespa. Dannenberg e Vallim trazem na bagagem o conhecimento da área de eventos, acumulada em mais de dez anos à frente da Fenasoft, a exposição do setor de informática. São eles os responsáveis por bater na porta dos patrocinadores com o projeto debaixo do braço. “Para viabilizar o evento, tínhamos que convencer os patrocinadores que atrairíamos novos investidores”, diz Vallim. E essa semelhança é a mais importante para o negócio: acreditar que os investidores individuais passarão a ser mais importantes do que os institucionais para as companhias abertas. O recente balanço da saída de recursos este ano da Bovespa mostra que a Expo Money caminha no trilho certo. Enquanto os estrangeiros retiraram R$ 6,7 bilhões das empresas brasileiras, os investidores pessoa física seguraram uma queda maior da Bolsa ao colocar o mesmo montante. A lição que eles têm a ensinar, contrariando o ditado popular, é faça o que eu digo e o que eu faço.