Reforma: nova legislação dá mais garantia aos bancos e estimula o aumento dos empréstimos.

Crédito imobiliário, no Brasil, sempre foi coisa de um banco (Caixa Econômica Federal), uma taxa (TR + 12% ao ano) e muita burocracia. Com a queda gradual dos juros e as mudanças na legislação do setor, criou-se um novo cenário que, enfim, incendiou a competição entre os bancos ? e abriu um leque de alternativas para seus clientes. Os gigantes financeiros entraram de cabeça
numa disputa que resulta agora em taxas cada vez menores, prazos cada vez mais longos e elevação dos percentuais máximos a serem financiados. Com isso, a expectativa do mercado é de que os recursos destinados ao financiamento imobiliário no País fechem o ano em R$ 19,3 bilhões ? um valor 43% superior ao registrado em 2005.

Só o Bradesco pretende aumentar suas linhas de crédito para imóveis em 185% neste ano, em relação a 2005, o que o levaria à marca dos R$ 2 bilhões emprestados. Para chegar lá, o banco aumentou o prazo máximo de financiamento de 15 para 20 anos, elevou o limite para comprometimento de renda de 25% para 30% e ampliou o percentual financiável de 70% para 80% do valor do imóvel. No caso do Real, o financiamento agora pode ser de até 100%, desde que o comprador ofereça como garantia um outro imóvel residencial de sua propriedade. Assim, ao adquirir a segunda casa ou o segundo apartamento, o cliente não precisa se desfazer de bens ou resgatar investimentos para dar entrada no financiamento.

Outra novidade do banco é um serviço de assessoria, que se encarrega do levantamento e da avaliação de todos os documentos exigidos para a concessão do empréstimo. ?Assim evitamos o aborrecimento com as idas e vindas entre o banco, a imobiliária e os cartórios?, diz Hus Morgan, superintendente de Crédito Imobiliário do Real. Embora pague uma taxa extra pelo serviço, o cliente tende a ganhar com o encurtamento do processo, já que elimina o desperdício de tempo com a obtenção de documentos errados ou certidões inválidas.

Morgan, do Banco Real: Assessoria se encarrega de levantar os documentos
para o empréstimo.

A agilidade é também uma bandeira do Itaú, que garante ser o mais rápido do mercado na liberação do empréstimo. O banco da família Setubal se compromete a fazer a análise de crédito em 24 horas, contratar o financiamento em 15 dias corridos e liberar os recursos cinco dias após receber o contrato assinado pelas partes. ?Resolvemos tudo em pouco mais de duas semanas?, assegura Luiz Antônio Rodrigues, diretor de Crédito Imobiliário do Itaú.

O interesse dos bancos em ampliar suas carteiras de financiamento de imóveis ganhou impulso depois da introdução, em 2004, de uma nova legislação para o setor. Ao facilitar, entre outras coisas, o arresto de bens dados como garantia em empréstimos, ela aumentou a segurança (e abriu o apetite) de quem empresta. É graças às novas leis que já se encontra no mercado financiamento com juros a partir de 7% ao ano, como o oferecido pela Nossa Caixa para imóveis de até R$ 40 mil. A mesma instituição acaba de lançar um consórcio imobiliário, modalidade de compra com características que podem ser vantajosas para o cliente. Exemplo: quem é sorteado recebe uma carta de crédito sem prazo de validade ? enquanto, nos financiamentos convencionais, as cartas oferecidas normalmente têm apenas 30 dias de validade. Se o tomador do empréstimo não fechar o contrato de compra e venda dentro desse período, tem de submeter-se novamente ao processo de aprovação do crédito. Além disso, as prestações do consórcio são fixas, o que permite ao investidor saber exatamente que valores desembolsará ao longo de todo o contrato.

Típica dos consórcios, essa opção por parcelas prefixadas está sendo incorporada a novos planos de financiamento dos principais bancos do País. Bom negócio? Nem sempre, segundo os especialistas. Nos financiamentos com prestações fixas, as taxas de juros podem chegar a 18% ao ano, superando em muito a taxa média de 12% cobrada na maioria dos contratos convencionais (reajustados pela TR). Para decidir se esse tipo de financiamento vale ou não a pena, é importante levar em consideração a perspectiva de variação futura da TR e o prazo de duração do empréstimo.