PAPÉIS AVULSOS

Os donos da voz

O balanço trimestral da Vale decepcionou. O lucro de abril a junho caiu 81,5% em relação ao segundo trimestre de 2008, para R$ 1,466 bilhão, abaixo do estimado pelos analistas. A geração de caixa medida pelo Ebitda caiu 66,9% no período, para R$ 3,463 bilhões. Mesmo assim, a ação preferencial da mineradora subiu 0,5% na quinta-feira 30, para R$ 32,01. Foi o papel mais negociado do dia, com 11,8% dos negócios a vista e giro de R$ 517,5 milhões. A ação ordinária subiu 1,24%. Ou seja, o mercado olhou para a frente. O péssimo desempenho trimestral sinaliza o fundo do poço para a empresa, que voltou suas baterias para a China com toda a força e espera uma retomada do crescimento até dezembro. ?Claramente vemos uma mudança de cenário no segundo semestre?, afirma o diretor-executivo de finanças e relações com investidores, Fabio Barbosa. As vendas para a China cresceram 42%, para 35,6 milhões de toneladas. Os chineses, que antes vinham ao Brasil retirar o minério de ferro, após a crise passaram a exigir a entrega em seus portos. A Vale não tinha um único navio, mas, qual Maomé, decidiu ir à montanha: comprou 15 embarcações usadas, encomendou 20 novas e fez contratos de longo prazo com transportadores marítimos. As negociações de preço com os chineses continuam. O Banco Fator manteve a recomendação de manutenção das ações, com preço-alvo de R$ 37,10 para junho de 2010. A Planner divulgou preço alvo de R$ 34,00, com recomendação neutra.

DESTAQUE NO PREGÃO

Muito além dos 55 mil pontos

A bolsa voltou a dar sinais de exuberância na semana passada. O Ibovespa chegou a superar 55 mil pontos na quinta-feira 30, mas devolveu um pouco e encerrou o dia em 54.478 pontos. A alta em 2009 é de 45%. Como reflexo do otimismo, a ação ordinária da BM&FBovespa (BVMF3) subiu 105% no ano, para alegria de Armínio Fraga, presidente do conselho de administração e sócio da gestora de investimentos Gávea. E por falar em ex-presidente de banco central, caso de Fraga, vale aqui uma pergunta a la Alan Greenspan, ex-Fed. Até que ponto essa exuberância da bolsa brasileira é racional? O mercado de ações costuma antecipar tendências antes de os investidores incautos se locupletarem no otimismo. Ou seja: crescimento do PIB e lucros maiores estão a caminho.

PALAVRA DE ANALISTA

A recuperação do Ibovespa é consistente com a da economia brasileira e mundial. O índice tende a subir ainda mais até o final do ano, prevê Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora Corretora. ?O segundo semestre será melhor para a economia e para as empresas de um modo geral?, avalia. Nas projeções dos analistas da Agora, o Ibovespa chegaria a 58 mil pontos em dezembro. Porém, os indicadores reais estão um pouco melhores que os projetados, o que abre espaço para uma alta ainda maior, de 60 mil a 62 mil pontos. Mas não se engane: todo o cuidado é pouco com as ações. ?A bolsa está volátil e vai continuar volátil”, diz Bandeira.

EDP ENERRGIAS
Aperto nos cintos continua

O presidente da EDP Energias do Brasil, António Pita de Abreu, foi elogiado pelos analistas de bancos que acompanharam a divulgação dos resultados da empresa, na quinta-feira 30. Menos pelo dinheiro que entrou no segundo trimestre ? Ebitda de R$ 344 milhões e lucro líquido de R$ 213 milhões ? e mais pelo que deixou de sair. O executivo comandou seis trimestres de redução de custos. No último, as despesas gerenciáveis caíram mais 12%, para R$ 179,6 milhões. Segundo Abreu, a inadimplência dos consumidores de energia elétrica tende a se reduzir no setor industrial. No residencial, houve um pequeno acréscimo. A ação ordinária (ENBR3) fechou em alta de 2,8% após a teleconferência com os analistas.

QUEM VEM LÁ

Ferrari quer entrar no pregão

Não há investidor que desconheça o nome Ferrari. Qualquer um que tenha dinheiro ou sonhe em ficar rico cobiça o luxuoso carro esportivo italiano. Todo brasileiro que gosta de Fórmula 1 lamenta o acidente com o piloto da Ferrari Felipe Massa. E os paulistanos mais abastados frequentam o restaurante de Máximo Ferrari. Poucos, no entanto, ouviram falar do empresário Reno Ferrari. Dono da Clarion Agroindustrial e de outros negócios Brasil afora, ele fatura cerca de R$ 1 bilhão e quer ser reconhecido pelos analistas, gestores e investidores. A Clarion, dona das marcas Monarquia, Amoroso, Parati e Namorado, registrou-se na CVM e na BM&FBovespa e fez sua primeira reunião com analistas. Mesmo sem ter ações em bolsa, a empresa quer dar transparência aos números para futuras captações. ?Quem quer ir ao mercado tem que mostrar a cara?, diz o presidente José Martins Pereira.

FIQUE DE OLHO: Quem está por trás da estratégia da Clarion no mercado de capitais? Segundo a empresa, é o banco Morgan Stanley.

TOURO X URSO

                                                                                                                                                                            
A recessão acabou no Brasil ? pelo menos, é o que dizem Bradesco e Itaú Unibanco. É mais um sinal positivo para a volta dos investimentos em todos os setores. A indústria, sempre um importante termômetro econômico, divulgará na terça-feira 4 sua capacidade de produção em junho. Em maio, o índice estava em 79,8%. O encontro do Banco Central Europeu, nos dias 5 e 6, pode trazer boas notícias do Velho Continente.

A temporada de balanços do segundo trimestre mostrou resultados abaixo do esperado para as empresas brasileiras de commodities e exportadoras. A valorização do real e a retração econômica internacional prejudicaram o desempenho dessas companhias. De todo modo, os balanços são fotografias momentâneas do passado. O fundo do poço pode ter ficado para trás. O urso, símbolo de baixa da bolsa, pode continuar hibernando.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA


Qual é a importância do planejamento financeiro e do investimento de longo prazo? Como formar capital para financiar o futuro dos filhos e a aposentadoria? As investidoras do Rio de Janeiro obterão respostas a essas questões na palestra que a BM&FBovespa realiza no próximo dia 12 com a consultora Cassia D’Aquino. Inscrições pelo e-mail confirmacao@bmfbovespa.com.br.

 

MERCADO EM NÚMEROS

PETROBRAS
US$ 12 bilhões
é a previsão da redução de custos feita pela Petrobras para a instala­ção de sistemas de produção na bacia de Tupi. A empresa fechou com o BNDES um empréstimo de R$ 25 bilhões para investimentos, na quinta-feira 30. O plano prevê investimentos totais de R$ 174,4 bilhões até 2013.

COMGÁS
35,7%
foi a queda no lucro líquido da Comgás no segundo trimestre, para R$ 79,7 milhões, na comparação com o mesmo período de 2008. A receita líquida de R$ 986,6 milhões é 2,6% maior.

VIVO
R$ 172,4 milhões
foi o lucro líquido da Vivo no segundo trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 59,4 milhões no mesmo trimestre do ano passado.

INDÚSTRIAS ROMI
98,5%
foi a queda no lucro líquido da Indústrias Romi no segundo trimestre deste ano, para R$ 505 mil. A receita líquida de R$ 104,1 milhões é 41,3% menor que a de 2008 no mesmo período.

BR FOODS
R$ 905 milhões
foi o valor que a BR Foods (ex-Perdigão) transferiu para a Sadia como adiantamento do futuro aumento de capital das empresas. Essa operação está prevista no prospecto da oferta de ações da BR Foods.

LOJAS RENNER
R$ 47,8 milhões
foi o lucro líquido das Lojas Renner no segundo trimestre deste ano.

PERRSOGNAGEM


A virada da CSU

A CSU Cardsystem é um caso exemplar de transparência. Quando a empresa estava nos seus piores momentos, nos anos de 2006 e 2007, com resultados ruins, dívidas em alta e muitas dúvidas sobre o futuro, Décio Burd, o diretor de relações com investidores, fazia questão de responder a qualquer pergunta. Aos poucos, a reestruturação deixou os números vermelhos para trás. Chegou a hora da virada. A companhia de processamento de cartões lucrou R$ 4,8 milhões no segundo trimestre, 125% a mais que no mesmo período do ano passado, e o endividamento já está menor do que a geração de caixa. A ação, em alta de 99% no ano, parece o único ponto de discórdia. ?Ainda não estamos felizes?, diz Burd, que falou com a DINHEIRO.

É o melhor resultado da CSU no mercado de capitais

Décio Burd, diretor de RI da CSU

DINHEIRO ? Por que os resultados da CSU ficaram acima da expectativa?
DÉCIO BURD ? Por causa da reestruturação. Estamos mostrando em resultados o que fizemos. O segundo trimestre está alinhado com o resultado do primeiro. O lucro líquido de R$ 9,5 milhões no semestre é 151% maior que no mesmo período do ano passado. É de R$ 0,20 por ação. É o melhor da CSU no mercado de capitais.

DINHEIRO ? A CSU registrou aumento de 1,4 milhão de cartões processados no primeiro semestre. São de novos clientes?
BURD ? Não, foram apenas emissões dos clientes atuais.

DINHEIRO ? A dívida está em queda trimestre a trimestre. Já se estabilizou?
BURD ?
Chegamos onde prevíamos. O endividamento é de R$ 77,5 milhões, uma redução de 21% em 12 meses. no curto prazo, ela é de R$ 46,4 milhões. Nossa dívida não tem operações em derivativos. É totalmente feita com base no CDI. Está segura e estamos administrando bem.

DINHEIRO ? Uma das maiores processadoras dos EUA, a FirstData, está chegando ao Brasil. Como o sr. vê a entrada de um novo competidor?
BURD ?
Estamos sempre preparados. Há uma notícia de que eles estão vindo, mas ouço isso há dez anos no mercado. não adianta apenas o escritório e um executivo. Se eu quisesse ir para os EUA, eu conseguiria ter um custo competitivo. Mas eles terão que entrar no mercado brasileiro, que trabalha com duas moedas, e adaptar todo o sistema deles. O custo é enorme. Estou mais preparado para estar lá, com custos menores, do que eles aqui.

DINHEIRO ? O desempenho da ação na bolsa agrada?
BURD ?
Ainda não estamos felizes. Temos quase 100% de valorização no ano e deveríamos estar contentes. Mas é muito pouco. Basta ver o valor de mercado da empresa, o número de cartões na nossa base, o nosso múltiplo Ebtida. O valor da ação está abaixo do que já estamos produzindo.

PELO MUNDO

 

SEM COMBUSTÍVEL   
O lucro semestral das maiores companhias de petróleo do mundo teve queda inesperada. Shell e ExxonMobil tiveram um terço do lucro registrado no mesmo período do ano passado. Peter Voser, CEO da Shell, afirmou que a companhia terá que fazer cortes substanciais no número de colaboradores para melhorar os resultados. Em Nova York, na quinta-feira 30, os papéis da Shell não oscilaram muito. Fecharam em alta de 0,13%.

VOO BAIXO
A companhia franco-holandesa Air France-KLM informou na quinta-feira 30 prejuízo de Us$ 600 milhões no segundo trimestre. No mesmo período de 2008, a empresa havia lucrado US$ 236,5 milhões. mesmo assim, em dia de otimismo na NYSE, as ações da empresa fecharam em alta de 3,6%.

PREJUÍZO CONFIANTE     
A Sony anunciou na última quinta-feira 30 prejuízo de US$ 390 milhões no segundo trimestre de 2009. Apesar do resultado ruim, a fabricante japonesa de eletroeletrônicos afirmou estar confiante na recuperação breve do setor. Isso animou o mercado e as ADRs da companhia fecharam em alta de 9,9% na NYSE.

GOODYEAR ACELERA
Apesar de ter divulgado prejuízo de US$ 221 milhões no segundo trimestre, a fabricante de pneus Goodyear apresentou uma das maiores altas na NYSE na quinta-feira 30. os papéis da companhia subiram 14% com a expectativa de uma retomada no setor automobilístico americano no próximo trimestre.