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Lá vem o pato?

As equipes de análise das corretoras de valores e dos bancos começam a revisar, para cima, suas projeções para o Ibovespa no final de 2009. Diante da alta das últimas semanas, que levou o índice a superar a marca de 53 mil pontos, os analistas, que antes previam um nível de 55 mil pontos em dezembro ? alta de 46,5% no ano ?, começam a refazer as contas. Antes da crise do subprime se agravar, alguns mais otimistas falavam em meta de 85 mil pontos para o Ibovespa. Quem lhes deu ouvidos e comprou ações durante a euforia pré-crise perdeu dinheiro. De 73 mil pontos no pico, em maio, o Ibovespa escorregou para até 29.435 pontos em outubro (-40%). É hora, portanto, de ter muito cuidado. Como as instituições financeiras precisam de ordens de negociação para ganhar comissões, desconfie das previsões exageradas. Ao receber a projeção do seu analista, questione os fundamentos que a embasam. Existem realmente perspectivas econômicas favoráveis para bons resultados das empresas nos próximos meses ou a alta reflete apenas o novo fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil? Os investidores estrangeiros, que compraram 80% das ações vendidas em IPOs antes da crise, voltaram com tudo. Vêm para o longo prazo ou apenas diversificam o portfólio, posicionando-se para ganhos rápidos antes da próxima partida? As pessoas físicas não são mais os patos habituais da bolsa. Muitas esperaram a alta recente para realizar lucros. Mais do que nunca, cautela e canja de galinha (e não de pato) pode fazer bem ao seu bolso.

 

DESTAQUE NO PREGÃO

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Mistério na Localiza

O controlador da Localiza, José Salim Mattar Júnior, deu uma tacada ambiciosa na semana passada. Vendeu 7% da locadora de automóveis por R$ 168 milhões. A jogada aconteceu para a quitação de uma dívida pessoal com o UBS Pactual. Em 2007, Mattar Júnior comprou a participação de três sócios e aumentou sua posição de 15% para 20%. O ponto interessante nessa história é que a diferença entre o empréstimo e a quitação é um prejuízo de R$ 34 milhões para o bolso do controlador. Por que ele fez essa operação, se tinha até 2012 para realizar a quitação? Um dos fatores que pode ter movido Mattar Júnior é o aumento de preocupação com os veículos seminovos, que representam metade da receita da Localiza. A idade média de utilização aumentou de 12 para 16 meses. Essa depreciação já deve constar nos próximos balanços. A participação do controlador caiu para 13%.

 

PALAVRA DE ANALISTA

Na quinta-feira 4, a ação da Localiza subiu 5,13%, para R$ 12,30, enquanto o Ibovespa se valorizou 2,64%. De acordo com Renato Prado, analista do Fator Corretora, José Salim Mattar Júnior aproveitou o desempenho do papel no ano, que está em alta de 74,6%. A decisão mostra a preocupação com o desempenho da empresa no segundo semestre. ?As perspectivas no curto prazo não são boas?, diz Prado. O papel é atrativo para quem pensa no longo prazo. ?A administração é boa e a integração das operações de locação para o varejo, locação de frotas e venda de seminovos é diferenciada das concorrentes?, afirma Prado. O preço-alvo do Fator é de R$ 15,80.

 

ENERGIA

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Mudanças na Cosan

Em fato relevante enviado à CVM no dia 3, a Cosan anunciou que apresentará a seus acionistas o plano de reorganização societária. A empresa incorporará a Curupay Participações e ofertará 132,56 ações ON por ação ON da Curupay. O patrimônio líquido da companhia (avaliado em R$ 334 milhões) será absorvido pela Cosan, que terá seu capital social ampliado para R$ 4,15 bilhões. Com a incorporação, a Rezende Barbosa passará a deter 11,89% do capital social da Cosan. Segundo o conselheiro Pedro Cerize o objetivo do empresário Rubens Ometto é transformar a Cosan em um dos maiores players de energia renovável do mundo. ?E ele quer que a Esso seja o espelho da Cosan para o mundo. Somente quando alcançar essa meta, ele venderá sua parte na companhia?, afirmou.

 

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QUEM VEM LÁ

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O salto do flipper

A nova onda de ofertas primárias (IPOs) e secundárias de ações que se avizinha já tem os primeiros candidatos a surfistas: Visanet, Gafisa, Hypermarcas, MRV e Natura. Essas empresas pretendem aproveitar a janela de oportunidade aberta com a enxurrada de dólares para o Brasil nas últimas semanas ? o saldo de investimentos estrangeiros na BM&FBovespa, até 29 de maio, bateu recorde histórico e alcançou R$ 13 bilhões. O ambiente, no entanto, é muito diferente do da précrise do subprime, quando qualquer coisa vendia na bolsa. A demanda era tanta que os investidores oportunistas, os chamados flippers, subscreviam papéis novos para vendê-los no primeiro pregão. A bolsa e as empresas limitaram a atuação dos flippers. Desta vez, com a demanda menos exuberante, eles podem até ser bem-vindos.

FIQUE DE OLHO: Os preços das ações a serem emitidas nos próximos meses devem ser mais realistas do que os dos IPOs de 2006 e 2007.

TOURO X URSO

 

Os investidores estrangeiros estão descartando as más notícias. O pedido de concordata da GM não provocou correria nas bolsas mundiais. Para a BM&FBovespa, essa é uma grande notícia. O capital internacional voltou a ser relevante nos pregões, com mais de 30% de participação. A balança comercial americana de abril será conhecida na quarta-feira 10. Mesmo dia da divulgação do livro bege do FED.

A semana promete ser preguiçosa no mercado brasileiro. A tendência da bolsa é de realização dos lucros das últimas semanas. O investidor precisa ficar atento à divulgação da inflação em maio, na segunda-feira 8, e do PIB brasileiro no primeiro trimestre. Esses dois indicadores podem influenciar a decisão do Copom, que informa sua decisão sobre a taxa básica na quarta-feira 10. Não haverá pregão na quinta-feira 11, em razão do feriado de Corpus Christi.

 

EDUCAÇÃO FINANCEIRA
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Sua corretora quebrou um dia depois de você mandar comprar ações pela primeira vez? Entregaram o papel errado? Deixaram de executar uma ordem de compra ou venda? Não fique triste. Para dar confiança ao investidor, a BM&FBovespa tem uma espécie de seguro contra ações ou omissões dos agentes financeiros e de custódia: o Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP). Ele cobre até R$ 60 mil por operação.

 

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MERCADO EM NÚMEROS

LUPATECH
R$ 320 milhões
é o montante da emissão de debêntures conversíveis em ações da Lupatech.

MAGNESITA
R$ 5,50
é o novo preço-alvo para a ação da Magnesita (MAGG3), segundo projeção do Credit Suisse para os próximos 12 meses. A anterior era de R$ 6. A revisão incorpora a compra da LWB.

KLABIN SEGALL
R$ 29,7 milhões
foi o montante recebido pela Klabin Segall pela venda do projeto Horizontes, localizado no Butantã (São Paulo), para a Cyrela.

CSU
800 mil ações
é o plano de recompra de papéis da CSU CardSystem. As ações serão postas em tesouraria para posterior alienação ou cancelamento.

CELESC
R$ 1,80
é o valor dos dividendos que a Celesc pagará aos acionistas ordinaristas. Para os preferencialistas, o valor por ação é de R$ 1,98

TOTVS
R$ 3,5 milhões
foi o valor pago pela Totvs por 40% das ações da R.O. Resultados em Outsourcing. A Totvs já possuía 60% do capital da empresa.

BRADESPAR
R$ 800 milhões
é a emissão de debêntures da Bradespar aprovada pelo conselho de administração da companhia. Os papéis não serão conversíveis em ações.

 

PERSONAGEM
Lições da crise

A relação entre as empresas de capital aberto e o mercado ainda precisa avançar. Um ponto crítico foi a comunicação caduca de algumas companhias durante a crise. João Pinheiro Nogueira Batista, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) é um crítico feroz das empresas que veem na comunicação uma oportunidade apenas para os dias ensolarados. Faltou a elas estratégia para informar de maneira correta o que se passava internamente. Da mesma maneira, Batista vê nas poison pills (cláusulas restritivas, ou ?pílulas de veneno?) uma punição para as famílias que se preocupavam ao extremo com ofertas hostis. Muitas perderam bons negócios pelo excesso de restrições dos contratos.

 

A comunicação é um instrumento de gestão na hora da crise

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JOÃO NOGUEIRA BATISTA presidente do conselho do Ibri

 

DINHEIRO – Muitas empresas se retraíram nessa crise. Faltou colocar em prática a governança corporativa?
JOÃO NOGUEIRA BATISTA – Não é falta de governança. É falta de costume com uma postura de transparência. Muitas têm a visão torta de que comunicação é só para os momentos bons. Na verdade, ela é mais útil em momentos de crise. A comunicação é um instrumento importante de gestão na hora da crise. O que ocorre é uma visão oportunista de comunicação, ao invés de ser uma filosofia das empresas.

DINHEIRO – Como mudar isso?
BATISTA – A mudança só ocorre com treinamento e costume.

DINHEIRO – A remuneração dos executivos das empresas abertas deve ser divulgada, como propõe a CVM?
BATISTA – Sempre que o dinheiro está em jogo, pode gerar conflito de interesses. O argumento da falta de segurança é besteira. A transparência é necessária. Da mesma forma que quem está no setor público precisa mostrar o Imposto de Renda, empresários de companhias de capital aberto têm ônus e bônus. O problema é o extremo excesso de curiosidade. Existem remunerações estratégicas que precisam ser preservadas da concorrência.

DINHEIRO – Qual é a posição do Ibri nessa questão?
BATISTA – O Ibri defende a divulgação da remuneração por grupos, conselho e diretoria, por exemplo; a divisão entre remuneração fixa e variável; e a política de remuneração. Esses três são mais importantes para o investidor do que saber quanto cada um recebe.

DINHEIRO – De que maneira as poison pills podem ser letais para o mercado?
BATISTA – Elas foram fruto do oba-oba e da novidade do mercado de capitais. Muitas retratam o controle familiar em empresas que foram convencidas a introduzir essas poison pills para bloquear uma aquisição via mercado de capitais. Essa série de proteções foi um tiro no pé. Muitos controladores perderam oportunidade de venda em razão desses mecanismos complicados, com multas e prêmios absurdos.

DINHEIRO – Qual é a saída?
BATISTA – O caminho vai em direção aos mercados mais maduros. Quem compra mais de 30% precisa realizar uma oferta pública para os demais acionistas.

DINHEIRO – Qual é a reestruturação que se discute para o Novo Mercado?
BATISTA – Parte da revisão do Novo Mercado passa pelas poison pills e avanços adicionais na governança corporativa. Não é nenhuma mudança radical. Mas um ponto importante é a melhoria no Nível 1, que deixou de ser uma novidade. É preciso avançar. Mas todas as propostas ainda precisam passar pelo Conselho da bolsa e pela audiência com as empresas.

DINHEIRO – E o que o mercado de capitais pode ter de novidade?
BATISTA – As empresas já estão falando em emissões primárias e secundárias. Essa volta das emissões acontece antes do que se poderia imaginar. O segundo semestre pode ser mais animado.

 

MERCADO DE CAPITAIS

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Mudança de paradigma

O mercado de capitais poderá ganhar muito espaço do mercado de dívida quando a crise econômica mundial arrefecer. Está em curso uma mudança radical de paradigma, dessas que acontecem só de vez em quando. Se antes da crise as empresas eram avaliadas conforme sua capacidade de endividamento e alavancagem, agora o potencial de crescimento mais valorizado pelos analistas é a geração de caixa e o capital próprio. ?A noção de que o capital de terceiros é mais barato ficou para trás. A crise mostrou que a prova de competência está na capacidade de crescer de forma sustentável?, diz o consultor Celso Ienaga, sócio da Dextron Management Consulting. ?Em quatro ou cinco meses, tudo mudou.? Se antes as boas empresas eram aquelas capazes de alavancar em até três vezes o patrimônio líquido com dívida, agora as preferidas são as com endividamento de até 80% da geração de caixa. Isso tem implicações fortes não só na avaliação das empresas ? e no custo de captação ? como também dos seus executivos.

 

PELO MUNDO

 

INTEL VAI ÀS COMPRAS
INTEL VAI ÀS COMPRAS A Intel anunciou que comprará a empresa de informática Wind River Systems por US$ 884 milhões. O anúncio foi feito na quinta-feira 4 e fez as ações da Intel subirem 1,2% na Nasdaq, enquanto as da Wind River subiram 43,75%. O preço pago pela Intel será de US$ 11,50 por ação. É a primeira grande aquisição da gestão do CEO Paul Otellini.

PALM SE RECUPERA

Após o lançamento do BlackBerry e do iPhone, a Palm enfrentou dias difíceis. Agora, quer recuperar o tempo perdido e lançará o Palm Pre, seu novo smartphone. A expectativa em torno do lançamento fez as ações da companhia subirem 22% entre 27 de maio e 4 junho.

CHINALCO DESISTE

A Chinalco, maior produtora de alumínio da China, desistiu do acordo de US$ 19,5 bilhões que estava sendo negociado com a anglo-australiana Rio Tinto. O valor seria investido pela chinesa em troca de títulos conversíveis em ações. As ações da Rio Tinto caíram 3,6% na NYSE após a desistência.

 

ABERCROMBIE DECEPCIONA

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A marca norte-americana de roupas Abercrombie & Fitch anunciou queda de 28% nas vendas em maio, resultado bem abaixo do esperado. 23 dos 26 analistas que cobrem a empresa reduziram suas recomendações. As ações da empresa fecharam em queda de 12% na NYSE na quarta-feira 4.