PAPÉIS AVULSOS
A oferta da supertele

Na quinta 19, a Oi finalmente publicou o edital de compra das ações da Brasil Telecom que pertencem a acionistas minoritários. A companhia marcou a data para o leilão na BM&F Bovespa: 22 de julho. A Oi irá pagar R$ 23,42 pelas ações preferenciais da Brasil Telecom (BRTO4), a empresa operacional, e R$ 30,47 pelas preferenciais da holding Brasil Telecom Participações (BRTP4). O curioso é que, embora a Oi tenha anunciado há dois meses que iria realizar a oferta e pagar estes valores, as ações da Brasil Telecom continuaram a ser negociadas por menos. Na quarta 18, a BRTO4 fechou a R$ 18,51 e a BRTP4, a R$ 24,57. O normal quando ocorre um negócio desse tipo é que o mercado ajuste para cima os preços dos papéis, já que tem alguém disposto a pagar mais por eles. E por que isso não aconteceu? Basicamente, por duas razões. Primeiro, a Oi não vai comprar a totalidade das ações preferenciais da Brasil Telecom em circulação, mas somente o equivalente a um terço delas. Segundo, a própria fusão depende de mudanças regulatórias. O novo Plano Geral de Outorga (PGO), divulgado na terça 17 pela Anatel e colocado em audiência pública por 30 dias, abre caminho para a criação da supertele. De todo modo, os papéis da Brasil Telecom não devem disparar, pois a oferta será limitada. A Brascan estima que a Oi só precisa comprar 10% das preferenciais. “O restante foi adquirido nas últimas semanas diretamente no mercado”, diz o analista Felipe Cunha. Sua recomendação para os papéis preferenciais da Oi (TNLP4) é de compra.

DESTAQUE NO PREGÃO
O lobo mau da Vale

O ministro das Minas e Energia Edison Lobão estremeceu as empresas do setor de mineração ao afirmar que o governo está estudando uma maneira de aumentar a tributação da exploração de minérios no País. Segundo Lobão, tirando petróleo e gás, a tributação média do setor é de 14%. Em um recado que parecia endereçado à Vale, o ministro afirmou que a Petrobras paga 65% de impostos. “Essa situação não pode prosseguir. O País tem de participar dessa riqueza no setor mineral”, afirmou. Pior momento, impossível. Há duas semanas, a Vale anunciou que pretende fazer uma emissão de ações ordinárias e preferenciais de até US$ 15 bilhões para viabilizar o crescimento orgânico e as aquisições.

PALAVRA DE ANALISTA

Ainda não está claro qual será o impacto da proposta de aumentar a tributação das mineradoras sobre suas ações. “A informação, até agora, é pouca”, diz Roberto Knoepfelmacher, da GAS Investimentos. Antes que qualquer mudança seja anunciada deverá ocorrer muita discussão e, principalmente, questionamentos com a mudança das regras no decorrer do jogo. “Os papéis das empresas do setor estão sofrendo por outros motivos. É preciso discernir o que impacta um e o que impacta outro. Mas não tem ligação com relação à tributação”, diz Rodney Melhados, analista da Planner Corretora. O recado para o investidor é ficar de olho porque a luz ainda não está vermelha para o setor.

AVIAÇÃO
Em defesa da imagem

O urubu que ronda o setor aéreo diante das acusações de ilegalidade na venda da VarigLog para a Volo do Brasil, em 2006, incomoda a atual dona da Varig, a Gol. A empresa de Constantino Oliveira Jr. publicou anúncio na quarta 18, no qual afirma que “a aquisição da Varig foi conduzida com ética, transparência e dentro da legalidade”. Segundo a Gol, que pagou US$ 320 milhões pela “estrela brasileira”, a frota foi aumentada de 19 para 34 aeronaves, os funcionários passaram de dois mil para 3,7 mil e a participação de mercado no País cresceu para 7,97%. Este mês, as ações da Gol caíram 14%. Hora de comprar? Poucos analistas indicam o papel, principalmente por conta da crise do petróleo e seus impactos no setor. “É muito arriscado, pois se o petróleo for a US$ 200 as ações vão cair mais”, diz Caio Dias, analista da Santander Corretora.

 

QUEM VEM LÁ
A Paranapanema voltou

Essa é das antigas. A mineradora Paranapanema já foi uma das blue chips da Bolsa de Valores, a ponto de ter sua cotação divulgada diariamente nos telejornais em horário nobre. Mas ela perdeu o trono com o boom das telecomunicações nos anos 90 do século passado, passou por dificuldades financeiras e andava esquecida dos investidores. Nos últimos 21 dias, segundo a Economática, o volume médio diário com as ações preferenciais foi inferior a R$ 200 mil. Agora, a Paranapanema do presidente Geraldo Haenel volta aos holofotes ao registrar na CVM um pedido de emissão de debêntures conversíveis em ações. Há tempos que ninguém utiliza esse instrumento no Brasil. Serão 1.900 debêntures a um preço unitário de R$ 500 mil, ou seja, a operação poderá chegar a R$ 950 milhões. Acionistas minoritários poderão exercer direito de preferência. Em um ano, as PNs caíram 63%. Quem vai se arriscar?

FIQUE DE OLHO: Uma teleconferência sobre a reestruturação financeira da Paranapanema pode ser ouvida no site da empresa na internet.

TOURO X URSO

O touro anda meio amarrado na Bolsa de Valores. As perdas no mês chegavam a 8% até a quintafeira, reduzindo a 5% os ganhos do Ibovespa no ano. O mercado de ações deve continuar volátil nesta semana, conforme saem os indicadores de inflação no Brasil e decisões sobre os juros nos EUA. Atenção aos números da balança comercial e à reunião do comitê de política monetária do banco central americano, o FED.

Sai na quinta 26 o IGPM de junho. Se vier acima das expectativas do mercado (1,83%), ponto para o urso: as ações podem sofrer as conseqüências de altas mais fortes dos juros pelo Banco Central, o guardião da moeda. Como o BC adiantou em um dia, para a quarta, a divulgação do relatório de inflação, há quem espere notícias boas nesse front. A próxima reunião do Copom, que define a Selic, está marcada para 22 de julho.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Aprender, poupar e só depois investir. Estes são os três passos que o economista Victor Hohl indica para quem pretende alcançar a independência financeira. Primeiro é preciso aproveitar a quantidade de informações disponíveis sobre investimentos. Segundo, formar uma reserva para as emergências. “Uma poupança com seis vezes o valor das suas despesas mensais é suficiente”, diz Hohl. Só então deve-se investir em ações.

 

MERCADO EM NÚMEROS

INTRA

R$ 800 mil
Foi o valor máximo que a Intra Corretora deixou de ganhar ao ficar de fora do IPO da OGX, o maior da história do País. A corretora, recém-vendida ao Citibank, foi punida por divulgar prospecto de venda não aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários. Para esclarecer malentendidos e não perder negócios futuros, seus executivos preparam visita à CVM.

PÃO DE AÇÚCAR

15,4% de alta
Foi o desempenho das vendas líquidas do Pão de Açúcar em maio, quando comparadas a igual mês de 2007. No ano, a alta foi de 7,9%. Para analistas, pode ser sinal de que a reestruturação no grupo varejista começa a surtir efeito. Em 2008, as ações preferenciais da rede subiram 9,3%.

TELECOMUNICAÇÕES

R$ 250 bilhões
Deve ser o volume de investimentos que o setor de telecomunicações pode receber em 10 anos, segundo estimativas da Anatel. A conta inclui praticamente tudo: investimentos em compras de outorgas, em crescimento orgânico, em ampliação de redes e na melhoria dos serviços.

IGUATEMI

106% de alta
É o valor da multa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ao Shopping Iguatemi de São Paulo. A punição refere-se ao faturamento de 2006, quando a empresa foi condenada por práticas abusivas ao exigir exclusividade dos lojistas. O TRF da 1ª Região, de Brasília, manteve a punição. Este ano, as ações do Iguatemi estão em queda de 27% na Bolsa de Valores

PERSONAGEM
A música da RedeCard

Os 500 milhões de cartões de crédito, débito e de loja movimentaram uma fortuna de R$ 310 bilhões em 2007. Das empresas listadas na Bovespa, apenas duas trabalham diretamente com esse setor: a CSU, que faz o processamento de transações, e a Redecard, responsável pela captura de dados e credenciamento de estabelecimentos para as bandeiras MasterCard e Diners. O avanço da classe C anima Roberto Medeiros, presidente da Redecard. Ele falou à DINHEIRO:

 

Historicamente, a empresa sempre cresceu nos anos de crises mundiais
ROBERTO MEDEIROS, presidente da Redecard

 

DINHEIRO – As ações da Redecard caíram após a crise do subprime no ano passado, mas depois se recuperaram. Como explica esse desempenho?
ROBERTO MEDEIROS – A Redecard fica no meio de três setores: tecnologia, varejo e financeiro. Dificilmente os três vão mal ao mesmo tempo. Historicamente, a empresa sempre cresceu nos anos de crises mundiais.

DINHEIRO – Quais riscos podem prejudicar o desempenho da empresa?
MEDEIROS – Sou suspeito para falar. Só vejo oportunidades em setores em que não estamos como gostaríamos, como o de saúde. Precisamos avançar em outras regiões, como o Centrooeste. Só vejo up side.

DINHEIRO – Citibank, Itaú e Unibanco, os três controladores da Redecard, fizeram uma emissão secundária de ações no início do ano. Pode ocorrer uma nova emissão?
MEDEIROS – Eles nunca mencionaram isso nesses cinco meses que estou à frente da Redecard, nem como objeto de especulação. Mas é uma decisão que cabe aos bancos. Eles diminuíram a participação de cada um de 23% para 17%.

DINHEIRO – A provável abertura de capital da Visanet assusta?
MEDEIROS – Não. O que faz o mercado crescer é a competição. Todos conhecem os nossos números e vai ser bom termos mais informação deste concorrente.

DINHEIRO – O Bradesco utiliza a rede da American Express e o Unibanco, a do Hipercard. São concorrentes da Redecard?
MEDEIROS – Claro, são concorrentes sérios. E monitoramos todos eles. Regionalmente e em alguns segmentos, eles crescem mais que a média de mercado.

DINHEIRO – A empresa tem receitas alternativas?
MEDEIROS – Cerca de 20% das nossas receitas vêm da antecipação de pagamentos aos estabelecimentos que não utilizam os bancos para esse serviço.

DINHEIRO – As pessoas estão utilizando mais o cartão?
MEDEIROS – A classe C passou a ter acesso ao crédito e está utilizando mais o cartão. O parcelado sem juros é um sucesso. Em Belém, 65% das transações de crédito são assim. Em Campinas, acima de 50%. É música para nós.

 

PELO MUNDO

GOLDMAN EM ALTA

O desempenho do Goldman Sachs foi melhor do que o esperado em seu segundo trimestre fiscal. O lucro foi de US$ 2 bilhões, 10% a menos do que o mesmo período de 2007. No primeiro trimestre, o lucro não passou de US$ 1,5 bilhão. Lloyd Blankfein, presidente do Goldman, afirmou estar satisfeito com o resultado. As ações do banco subiram 9% em sete dias.

MORGAN EM BAIXA

O Morgan Stanley também divulgou seus resultados, mas não foram animadores. O segundo maior banco de investimento dos EUA teve lucro líquido de US$ 1 bilhão no segundo trimestre. Um ano antes, o resultado havia sido de US$ 2,6 bilhões. Analistas já aguardavam a queda, mas o banco admitiu estar desapontado. As ações do Morgan caíram 4% na quarta-feira 18.

RIO TINTO INVESTE

A mineradora inglesa anunciou que investirá US$ 667 milhões na australiana Pilbara, a principal operação da Rio Tinto no mundo. Os investimentos aumentarão a capacidade de produção da Pilbara em 320 milhões de toneladas por ano. Tom Albanese, CEO da Rio Tinto, afirmou a necessidade de entregar rapidamente mais aço ao mercado. As ações da companhia subiram 3% após o anúncio, na terça-feira 17.

BLACKSTONE VAI ÀS COMPRAS

O gigante de private equity Blackstone anunciou que comprará a Apria, empresa norte-americana de seguros de saúde, por US$ 1,6 bilhão. Em tempos de vacas magras, essa será a primeira grande compra do grupo em 2008. As ações da Apria subiram 26% em Nova York, na quinta-feira 19.

 

Colaboraram: Ana Clara Costa e Márcio Kroehn