PAPÉIS AVULSOS

A Times Square é aqui

Queremos fazer a distribuição global de ações como fazemos com os derivativos

EDEMIR PINTO,
presidente da BM&FBovespa

Painéis luminosos gigantes fazem da Times Square a praça mais famosa de Nova York. Diante deles, a praça Antônio Prado, no centro de São Paulo, com coreto e engraxates, lembra mais uma pacata cidade do interior. Mas não se engane: ambas abrigam duas das maiores bolsas do mundo, a Nasdaq e a BM&FBovespa. Uma nasceu sem pregão viva voz e a outra encerrou o seu há pouco tempo. Fortes no silencioso mundo das negociações eletrônicas, elas concorrem com as bolsas de Nova York e de Londres. Enquanto os executivos destas últimas viajam com frequência ao Brasil para seduzir companhias brasileiras a listar suas ações por lá, a Nasdaq e a BM&FBovespa buscam um caminho alternativo. Segundo fato relevante divulgado na quarta-feira 26, elas abriram conversações sobre uma possível parceria estratégica, comercial e tecnológica. As conversas devem durar 60 dias e não há garantia de acordo. Se ocorrer, brasileiros poderão comprar ações negociadas na Nasdaq e os americanos terão acesso à BM&FBovespa. A internacionalização começou em 2008. Um acordo com a Bolsa de Chicago (CME) ampliou a distribuição de derivativos brasileiros para 80 países. As ordens diretas de lá para cá só crescem. “O fluxo norte-sul aumentou nos últimos três meses”, diz André Demarco, diretor de Operações da BM&FBOVESPA. Já são mais de 1,2 milhão de contratos por mês. Daqui para lá, no entanto, as ordens não decolaram ainda.

DESTAQUE NO PREGÃO

Shopping de ações

Prova inegável da recuperação do setor imobiliário, a Multiplan protocolou na quarta-feira 26 na Anbid um pedido de oferta primária estimado em R$ 650 milhões em ações ordinárias. Nada mal para uma empresa cujos papéis fecharam 2008 em queda de 41%. Uma das maiores do ramo de shopping centers, a empresa presidida por José Isaac Peres dará prioridade aos acionistas na reserva dos papéis e, em comunicado ao mercado, afirmou que a captação poderá ficar fora da faixa estimada, dependendo das condições de mercado na data da precificação da oferta. Sua concorrente BR Malls fez uma operação parecida em julho e captou R$ 835 milhões, dos quais R$ 454 milhões foram para o caixa da empresa. A captação, no entanto, não animou o mercado e os papéis ON da Multiplan caíram 2,3% na quinta-feira 27. A rentabilidade em 2009 continua bastante elevada: 104%.

PALAVRA DE ANALISTA

Entre as ações de empresas do setor imobiliário, a Multiplan foi uma das que menos sofreram em 2008. Relatório da Brascan Corretora em maio ressaltou que a liderança dos shoppings da empresa serviam como blindagem contra a queda de faturamento. Por outro lado, a Brascan alertou para os elevados desembolsos de caixa que poderiam ocorrer durante as construções. O analista Leonardo Benzecry, do portal Onde Investir, da corretora Lopes Filho, divulgou uma recomendação de compra para o papel no início do mês, ressaltando “a segurança e a previsibilidade operacional do negócio no momento de crise e o valor de mercado do portfólio da empresa”.

REDECARD
A bronca continua

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negou, na quarta-feira 26, recurso apresentado pela Redecard contra medida preventiva adotada pela Secretaria de Direito Econômico em julho. A empresa, acusada de abuso de poder contra os facilitadores de pagamento via internet, continua proibida de exigir desses intermediários a lista de clientes e seu credenciamento, de impor que as transações sejam liquidadas e processadas pelo sistema próprio da Redecard, e de descredenciar ou desconectar facilitadores que decidam não aderir ao novo modelo contratual. A decisão não impede que as partes continuem negociando as bases dos novos contratos. As ações ordinárias da empresa caíram 1,69% no dia da decisão, para R$ 26,25 (leia mais sobre o setor na página 96)

QUEM VEM LÁ
Gol e Multiplan voltam à bolsa

A pista de lançamento de ações da BM&FBovespa recebeu na semana passada duas novas candidatas a decolagem: a Gol Linhas Aéreas e a Multiplan. A empresa de Constantino Júnior quer levantar recursos no Brasil e nos Estados Unidos e comenta-se no mercado que poderá captar até R$ 1 bilhão. No caso da Multiplan, a intenção é atrair R$ 650 milhões (leia Destaque no Pregão). O interessante na pretensão da Gol, que ainda precisa registrar a operação na CVM, é que a oferta de ações ordinárias e preferenciais será primária, ou seja, colocará dinheiro novo no caixa da empresa, que poderá reduzir seu endividamento. Nos Estados Unidos, a aérea pediu registro para fazer distribuição primária e secundária de ações preferenciais, por meio de recibos (ADS).

FIQUE DE OLHO: As preferenciais da Gol subiram 85% no ano até a quinta-feira 27, ante queda de 77% em 2008. O lucro líquido foi de R$ 395 milhões até junho.

TOURO X URSO

                                                                                                                                                                                            

As atenções desta semana voltam-se para a divulgação das regras do présal, previstas para a segunda-feira 31. A Petrobras, maior estrela do Ibovespa, deve ter um papel fundamental na exploração da nova fronteira do petróleo brasileiro (leia a reportagem à pág. 40). As decisões do govervo podem elevar os lucros da Petrobras e alterar as projeções de receitas e fluxo de caixa da empresa em longo prazo.

A alta da bolsa brasileira nas últimas semanas pode resultar em correções de curto prazo, caso o otimismo que a embala seja afetado por notícias negativas na economia. Na semana passada, por exemplo, o Ipea previu que a produção industrial brasileira deve registrar queda de 10,7% em julho, na comparação com o mesmo mês de 2008. A produção de veículos, que cresceu dois meses seguidos, recuou 1% em julho.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A XP Educação, dirigida por Gabriel Leal, ministrará palestras gratuitas sobre o investimento em fundos de índice, também conhecidos como ETFs. Os eventos terão duração de uma hora e ocorrerão nos dias 31 de agosto, 8, 9, 22 e 28 de setembro, em São Paulo. Haverá também palestras em outras cidades, como Brasília, Maringá, Caxias do Sul e Belo Horizonte. Os interessados podem obter mais informações no site www.xpe.com.br.

MERCADO EM NÚMEROS

PETROBRAS
R$ 100 bilhões
é o investimento que a União poderá fazer para capitalizar a companhia. Se concretizado, o valor transformará a União em detentora de 65% a 70% das ações ordinárias da Petrobras.

BRASIL ECODIESEL
R$ 2,3 mil
foi o preço médio do metro cúbico de biodiesel que a companhia vendeu no leilão feito pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). A empresa vendeu 57 mil metros cúbicos.

LLX
600 hectares
é o tamanho do pátio logístico que a companhia construirá em Porto Açu, ao norte do Rio de Janeiro. A licença para a construção foi obtida na quinta-feira 27 e fez as ações da LLX subir 5%..

VALE
US$ 91 milhões
foi o valor que a mineradora faturou com a venda de sua participação na PT International Nickel Indonésia (PTI), a maior produtora de níquel do Sudeste Asiático

GERDAU
500 mil ações
é o que a Gerdau pretende recomprar de seus papéis PN em circulação. Pela cotação da quinta-feira 27, a operação pode ser estimada em R$ 11 milhões.

KLABIN SEGAL
14%
foi a porcentagem vendida pela Boeta Participações, controladora da Klabin Segall. O número representa cerca de 20,3 milhões de ações ordinárias da empresa. A Boeta é a companhia pela qual a Agra e o espanhol Enrique Bañuelos controlam a Klabin Segall.

PERSONAGEM


Saraiva cresce na sala de aula

Filha única do setor editorial com capital aberto, a Saraiva fechou um novo acordo com o Ministério da Educação que a fará embolsar uma receita de R$ 87 milhões com vendas. Trata-se de sua participação no Programa Nacional do Livro Didático 2010, no qual a empresa venderá mais de 14 milhões de livros para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que fornece material didático às escolas públicas. A Saraiva, dona das livrarias Siciliano, está no programa há mais de 30 anos, mas nunca sua participação foi tão forte. A companhia fornece 29% dos livros do ensino médio. Para os livros do 1º ao 5 º ano do ensino fundamental, ela vende 11,4% dessa fatia. O acordo superou as expectativas até do presidente da Editora Saraiva, José Luiz Machado Alvim de Próspero. “Esperávamos que o negócio chegasse a R$ 80 milhões, mas acabou sendo superior”, disse à DINHEIRO.

A crise afetou os livros de forma mais branda

JOSÉ LUIZ PRÓSPERO, presidente da Editora Saraiva

DINHEIRO – Qual é a importância do programa para a editora?
PRÓSPERO – Enorme. Só em 2009, o governo comprou mais de 114 milhões de livros. A concorrência entre as editoras é forte.

DINHEIRO – A que atribui o aumento da participação da empresa?
PRÓSPERO – A um trabalho muito forte que fizemos no setor de didáticos. Há um grande esforço de custo, já que vendemos ao programa a um preço abaixo do mercado, devido à quantidade de livros que são comprados. Mas o esforço compensa.

DINHEIRO – O papel PN da Saraiva acumula alta de 81% no ano e a receita bruta aumentou 20% em relação ao primeiro semestre de 2008. A crise não afetou os livros?
PRÓSPERO – Sim, mas de uma forma mais branda. Quando o cenário estava ruim e as perspectivas ruins, a Saraiva entrou nessa queda, embora a empresa estivesse caminhando muito bem. Os livros didáticos, universitários e jurídicos têm uma importância muito grande em nossos resultados, e as vendas desses produtos não caíram. Tivemos inclusive um crescimento de 15% nas vendas do semestre no mercado particular.

DINHEIRO – Ser a única do setor editorial na bolsa é positivo?
PRÓSPERO – Somos vistos também como uma empresa de varejo e o fato de ser a única editora não influencia. Temos feito investimentos tanto no varejo quanto na editora, e o mercado percebe isso. Além disso, prezamos muito a transparência em todos os sentidos e colhemos os resultados disso. Se houvesse outra editora na bolsa, o mercado beneficiaria ou penalizaria a ação de acordo com os resultados. Então, se surgir uma concorrente, não há o que temer.

PELO MUNDO

Lucro no carrinho


A rede varejista francesa Casino apresentou lucro de E 231 milhões no primeiro semestre do ano. O valor é estável em comparação aos E 229 milhões registrados no mesmo período de 2008. Os resultados ficaram dentro das expectativas dos analistas. No entanto, as ações da companhia caíram 3,6% na bolsa de Paris, na quinta-feira 27.

Voo alto
As ações da Air China subiram 5% na bolsa de Shangai, na quinta-feira 27, após a empresa divulgar seu lucro líquido de US$ 424 milhões no primeiro semestre. O valor foi 150% superior ao registrado no mesmo período de 2008.

WPP desacelera


Maior grupo de publicidade do mundo, o WPP registrou um lucro semestral de 108,4 libras esterlinas, valor 48% inferior ao do mesmo período de 2008. Martin Sorrell, CEO do grupo, disse que a melhora virá somente a partir de 2010, graças a eventos mundiais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de Inverno.

Menos aço
A Tata Steel, oitavo maior grupo siderúrgico do mundo, surpreendeu o mercado na quinta-feira 27, ao anunciar um prejuízo trimestral de US$ 461 milhões, causado pela queda da demanda dos EUA. A empresa afirmou que a recuperação global ainda é fraca e suas ações recuaram mais de 5% na bolsa indiana.

RATING
A tartaruga da Moody’s

Com mais de um ano de atraso em relação às suas principais concorrentes, a agência de classificação de riscos de crédito Moody’s Investor Service prepara-se para elevar a nota do Brasil para grau de investimento. Espera-se que a decisão seja tomada em setembro. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, teria sido avisado pelo vice-presidente da Moody’s Mauro Leos, em recente reunião em Nova York. Isso significa que os títulos do Brasil deixarão de ser considerados investimentos de risco, algo que a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings já perceberam há muito tempo. Antes tarde do que nunca? Com certeza. Num momento em que a economia mundial começa a sair do buraco, a notícia só reforça a percepção externa de que o Brasil sai da crise mundial de maneira privilegiada. Em julho, a bolsa recebeu US$ 6,7 bilhões dos estrangeiros, lembra Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. “A crise global continua a fortalecer o Brasil como destino dos investimentos. Pode não ser uma tendência permanente, mas parece natural que ela persista enquanto o Brasil crescer mais do que seus pares. Tudo indica que este será o caso em 2009 e 2010”, argumenta.