PAPÉIS AVULSOS
Doce vitória do Pão de Açúcar
No início da semana passada, o Grupo Pão de Açúcar venceu uma batalha jurídica milionária com Arthur Sendas, um dos donos da rede carioca Sendas. Um tribunal de arbitragem rejeitou a reivindicação de Sendas. Este queria receber R$ 700 milhões do Pão de Açúcar pela participação de 43% que ainda detém nas lojas Sendas, parcialmente adquiridas pelo empresário Abílio Diniz em 2004. Não foi desta vez. A boa notícia foi ofuscada parcialmente pela divulgação do balanço da rede varejista. Os resultados da reestruturação do Pão de Açúcar, iniciada pelo “médico de empresas” Cláudio Galeazzi em dezembro passado, ainda não surtiram os efeitos desejados. No primeiro trimestre do ano, o lucro líquido foi de R$ 36 milhões, praticamente idêntico ao do mesmo período de 2007. Galeazzi demitiu 300 funcionários (dentre eles 20 diretores) e cortou custos. Os benefícios financeiros do enxugamento só devem aparecer nos próximos meses. “O resultado está melhorando. A empresa parece que está entrando em uma era melhor, implementando mais eficiência”, diz Ricardo Fernandez, analista da Itaú Corretora. Ele não recomenda a compra das ações da empresa no momento, mas aconselha os atuais acionistas a manterem suas posições no papel. O mercado já incorporou a alta prevista, mas precisa de tempo para avaliar as perspectivas de longo prazo. “Quero analisar o plano estratégico e ver se o crescimento pode ser sustentável com bons números”, diz Fernandez.

 

DESTAQUE NO PREGÃO
A multiplicação da Gafisa

Em abril, a Gafisa foi a estrela da Bovespa, com alta de 26,6%. A empresa tem dois bons motivos para comemorar. O primeiro é o grau de investimento obtido pelo Brasil, que abre ao setor imobiliário a possibilidade de captar recursos mais baratos no Exterior. O segundo foram os resultados do primeiro trimestre. O lucro líquido de R$ 41,6 milhões é o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. O desempenho deixou o presidente Wilson Amaral satisfeito e confiante em cumprir a meta de lançamento de R$ 3 bilhões em valor geral de vendas em novos empreendimentos neste ano. De janeiro a março, foram anunciados R$ 577,9 milhões desse total, crescimento de 91% sobre 2007. Este ano, as ações ordinárias da companhia acumulam alta modesta, de 6%.

AMBEV
Chope encorpado

As especulações começaram em fevereiro. Inbev e Anheuser-Busch, as duas maiores fabricantes de cerveja do mundo, estavam se preparando para uma fusão. Quando se imaginava que jogariam água nesse chope, os papéis da Anheuser registraram uma forte alta. Na opinião de analistas, essa parece ser uma antecipação a uma potencial negociação. Caso o negócio se confirme, Jorge Paulo Lehman só terá motivos para celebrar. Na semana passada, a Ambev divulgou os resultados do primeiro trimestre. O lucro líquido de R$ 743,8 milhões foi 15,2% maior que o registrado no mesmo período de 2007. A cerveja só não desceu mais redonda porque as chuvas atrapalharam: o volume de vendas da bebida caiu 1,9% no período.

PALAVRA DE ANALISTA
O setor imobiliário está cheio de papéis desvalorizados e merece a atenção dos investidores. A Banif Securities afirma que não há nenhum fator excepcional que diferencie os resultados da construtora Gafisa do desempenho das outras empresas do setor. Dessa maneira, o Banif mantém sua posição neutra para o papel. De acordo com a corretora, a ação Gafisa já atingiu o preço justo, diferentemente de outras ações, cujas cotações estão abaixo do valor de lançamento e podem ser mais atrativas para o investidor. “A Gafisa teve uma das melhores performances no ano passado”, aponta o relatório.

QUEM VEM LÁ
A emissão do Fibra

Os bancos pequenos e médios querem aproveitar a obtenção do grau de investimento pelo País para captar barato lá fora e emprestar mais caro por aqui. Antes, esse mercado estava praticamente fechado. “Os pequenos bancos vão se favorecer com a queda no spread da captação externa e o crescimento dos juros internos”, diz Fausto Gouvêa, analista da Win Home Broker. O Banco Fibra aproveitou o momento e tratou de fazer o registro preliminar de emissão de ações preferenciais na Comissão de Valores Mobiliários, na quinta-feira 8, para integrar o Nível 1 da Bovespa. Os valores da oferta ainda não estão definidos. O banco comandado por Ricardo Steinbruch pode captar até R$ 1 bilhão. O Fibra foi constituído em 1987 como banco múltiplo pela família Steinbruch para apoiar o investimento de recursos da Vicunha. O prospecto preliminar está disponível no site www.cvm.gov.br.
FIQUE DE OLHO: A partir da página 101 do prospecto estão listados os fatores de risco. Juros mais altos podem reduzir o apetite dos clientes-alvo da classe C.

TOURO X URSO
O touro vai passar a semana acuado. Não se espera a divulgação de indicadores importantes nos próximos dias no mercado interno que possam mexer com o humor dos investidores e favorecer ainda mais a tendência de alta das ações. Na semana passada, o Ibovespa ultrapassou os 70 mil pontos, depois recuou diante da realização de lucros dos investidores. Antes de bater novo recorde de pontuação, deve continuar com alta volatilidade.

O mercado externo é o aliado do urso. Muitos indicadores importantes serão apresentados nos EUA ao longo da semana. Todos vão mostrar se as nuvens negras da crise começaram a se dissipar. A balança comercial americana e o estoque das empresas serão conhecidos na terça 13. Mais importante, porém, são os dados relativos ao setor imobiliário, como o índice de refinanciamento de hipotecas e o desempenho da construção civil.

MERCADO EM NÚMEROS
GRADIENTE
25% de alta

Foi a reação das ações ordinárias da Gradiente na terça-feira 6, depois que o presidente Lula afirmou que fará tudo o que estiver ao seu alcance para a ajudar a empresa a sair da crise. Em 12 meses, o papel da companhia já derreteu 80%.

BOLSAS
80% do caixa

de R$ 1,5 bilhão da BM&F serão gastos no processo de fusão com a Bovespa. Os acionistas das duas companhias aprovaram na quintafeira a criação da nova bolsa, que terá o pouco criativo nome de BM&FBovespa SA.

REDECARD
R$ 440 milhões

Foi a receita líquida operacional atingida pela Redecard no primeiro trimestre. O lucro líquido do período ficou em R$ 278,6 milhões, mais que o dobro do resultado do primeiro trimestre de 2007.

CSN
1,4 milhão

de toneladas de aço foram vendidas pela Companhia Siderúrgica Nacional no primeiro trimestre. Esse desempenho contribuiu com a receita líquida recorde, de R$ 3,03 bilhões.

ANHANGUERA
R$ 3,5 milhões

Foi o valor pago pela Anhanguera Educacional pela Faculdade Regional de Itapecerica da Serra. Com essa aquisição, a holding de educação passa a ter seis campi na região metropolitana de São Paulo.

ABN REAL
5% de alta

Foi quanto cresceu o lucro líquido do Banco Real no primeiro trimestre, para R$ 652 milhões. O do Itaú subiu 7,5%, para R$ 2 bilhões.

PERSONAGEM
Na onda do grau de investimento

A Totvs, empresa de desenvolvimento de software, apresentou os resultados trimestrais na quinta-feira 7. Pelo 13º trimestre consecutivo, a companhia aumentou o volume de vendas. A receita líquida, de R$ 121 milhões, cresceu de 19,7% em relação ao mesmo período do ano passado. José Rogério Luiz, vicepresidente executivo e financeiro e diretor de relações com investidores, falou à DINHEIRO.

DINHEIRO – Como o grau de investimento pode beneficiar a empresa?
LUIZ – A nova classificação do País abre a possibilidade para todo o setor de tecnologia expandir suas vendas. A queda nos custos de captação de recursos cria um novo ambiente para os empresários fazerem investimentos adicionais. Como as empresas são nosso mercadoalvo, é positivo para nós.

DINHEIRO – Quais são os mercados potenciais?
LUIZ – Somos beneficiados por qualquer movimento, de qualquer mercado. Estamos na cadeia produtiva de quase todos os setores, seja as que atuam no mercado externo ou interno. Nossa característica é ser a parte cervical de todas as indústrias. Quanto mais os mercados crescem, mais setores precisam de softwares de gestão.

DINHEIRO – Como está o apetite tecnológico na América Latina?
LUIZ – Bastante forte. Está ocorrendo uma mudança estrutural juntamente com a mudança conjuntural. Há um aumento na venda de software em todos os países. Na Bolívia, a venda de gás aumentou, a renda adicional começou a circular e as empresas foram buscar programas de gestão como os nossos. Isso se repete na Argentina, na Colômbia.

DINHEIRO – A Totvs pagou R$ 30 milhões para ficar com a BCS. Há espaço para mais aquisições?
LUIZ – Sim. Esse processo está no nosso DNA. Queremos crescer organicamente e também por aquisição.

DINHEIRO – O investidor em ações já compreende o seu mercado de atuação?
LUIZ – Ainda não completamente. O nível de conhecimento é maior no Exterior. Empresas de software de gestão são um grupo pequeno. Diferente, por exemplo, do setor imobiliário, que tem 23 empresas listadas.

DINHEIRO – Entre os novos projetos destacados por vocês está a chegada da tevê digital. Como vocês vão se beneficiar?
LUIZ – A convergência digital trará novas combinações de tecnologia. Estamos falando de um comércio que poderá ser através da televisão, onde a compra ocorrerá ao se apertar um botão. Portanto, todas as frentes vão se beneficiar e criar um novo mercado de desenvolvimento de softwares.

PELO MUNDO
BOTÍN NA FILADÉLFIA

O grupo Santander irá injetar mais dinheiro no Sovereign Bancorp, banco da Filadélfia do qual Emílio Botín possui 24% das ações. O capital investido pelo espanhol pode variar entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões, e alçará a participação do grupo cada vez mais próxima da majoritária. As ações do grupo fecharam com alta de 1,77% em Nova York

YAHOO NA BERLINDA
A Microsoft abandonou sua oferta pelo Yahoo. Mesmo após aumentar seu lance para US$ 47 bilhões, o equivalente a US$ 33 por ação, o Yahoo não aceitou o preço proposto pela companhia de Bill Gates. Com isso, a Microsoft desistiu terminantemente da compra e agora sonda o Facebook. As ações do Yahoo caíram 10,5% desde 5 de maio, dia da desistência.

BUFFETT PERDE
O lucro do Berkshire Hathaway, instituição de Warren Buffett, caiu 64% no primeiro trimestre, chegando a US$ 940 milhões. A causa foi a perda de US$ 1,6 bilhão em contratos de derivativos. Suas ações estão em queda desde 3 de maio, dia do anúncio. Acumulam 5% no vermelho.

NA ONDA DO VAREJO
Terceiro maior grupo de bens de varejo do mundo, a Unilever não tem do que reclamar. Apesar de a crise atingir em cheio os consumidores, o faturamento da empresa subiu 7,2% no primeiro trimestre, chegando a US$ 2,18 bilhões e superando as expectativas. Suas ações subiram 4,55% na quinta-feira 8.

AVISO – Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. O autor é investidor em ações e detém papéis das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, Bovespa, BM&F, Bradesco e Itaú.