PAPÉIS AVULSOS

A decisão do governo de taxar os ADRs com IOF de 1,5%, anunciada na quarta-feira 18, dá um alívio para a BM&FBovespa, que estava perdendo receitas com a migração de negócios para a Bolsa de Nova York. Os ADRs são instrumentos financeiros (depositary receipts) que permitem a negociação indireta de ações de companhias brasileiras. Como não tem jurisdição sobre Nova York, o governo Lula aplicou o IOF na fonte dos ADRs. Cada vez que uma empresa reservar ações para esse fim, o comprador interessado pagará 1,5%.

Portanto, a medida só vale para programas novos, não incide sobre o estoque de ADRs. Embora a nova alíquota seja menor que os 2% do IOF cobrado na compra de ações na Bovespa pelos estrangeiros, na prática ela elimina a vantagem da Bolsa de Nova York sobre a bolsa brasileira. A migração forçada da liquidez para fora, que estava acontecendo, agora acaba. ?A arbitragem com os ADRs deixa de ser chefe do banco de atacado do Santander Brasil. Para Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, a Fazenda acertou ao equalizar a competição. ?Foi uma demonstração de que o governo está comprometido com o mercado de capitais?, avalia. O bode engordou, mas continua na sala.

A bolsa solicitou o fim do IOF sobre as aberturas de capital e espera ser atendida ainda este ano. ?Não faz sentido penalizar o investimento estrangeiro em atividades que vão gerar emprego no País?, sustenta Edemir. Ele tem razão: IPO traz dinheiro novo, dinheiro bom.

DESTAQUE NO PREGÃO

A corrida da Alpargatas

As ações da Alpargatas tiveram alta de mais de 20% desde que os resultados da companhia foram anunciados no dia 13 de novembro, colocando os papéis entre as vedetes da semana. A empresa presidida por Márcio Utsch investiu no controle das contas, que contribuiu para a geração de caixa, e na redução do endividamento, em busca de maior solidez financeira. A dona da Havaianas viu seu lucro líquido crescer 20,8%, para R$ 53,5 milhões no terceiro trimestre de 2009, na comparação com o mesmo período do ano passado. O ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), que mostra a capacidade de geração de caixa da empresa, cresceu 16,4%, para R$ 101,7 milhões.

PALAVRA DE ANALISTA

O forte resultado da Alpargatas ficou acima das expectativas do analista Renato Prado, da Fator Corretora. Na expectativa de que as ações teriam forte valorização, mudou a sua recomendação de ?não atraente? para ?manutenção? dos papéis. A diluição de custos fixos da empresa, com foco na maior produtividade na fabricação de sandálias e menores custos de aquisição de matéria-prima, é fator que irá beneficiar a Alpargatas, segundo relatório do analista. O mercado interno também deverá continuar a impulsionar os resultados da empresa. No terceiro trimestre, representou 89,7% do volume total vendido.

BM&FBOVESPA
Soros e a
bolha na Bovespa

O megainvestidor George Soros deve estar com dor nas costas. Este é o sinal que utiliza para se desfazer de posições acionárias ou financeiras que o deixam desconfortável. Segundo informou à SEC, a CVM americana, na semana passada, o Soros Fund Management reduziu a participação em Petrobras entre junho e setembro, vendendo 2,4 milhões de suas 9,8 milhões de ações da companhia. Ao todo, manteve US$ 572 milhões. Ele também zerou a posição na Vale. Recentemente, Soros disse que sempre entra comprando quando detecta uma bolha de ativos, na esperança de vender antes que ela estoure. Será que está antevendo uma bolha na Bovespa?

QUEM VEM LÁ

 

Repsol quer vir ao Brasil

Mais um gigante espanhol pode ingressar no mercado acionário brasileiro. Depois do IPO do banco Santander, realizado no final de setembro, a petroleira Repsol estuda a possibilidade de abrir o capital da sua subsidiária Argentina, a YPF, na BM&FBovespa. Presente no Brasil na semana passada, o presidente da empresa, Antonio Brufau, também não descarta a hipótese de entrar na bolsa de Nova York ou procurar novos sócios. É que a empresa necessita de US$ 15 bilhões em investimentos para suas operações na América Latina, em especial para o pré-sal, no qual possui participação de 25% em um dos sete blocos de exploração. A Repsol já vendeu 15% da YPF ao grupo Petersen, em 2007. Naquele mesmo ano, anunciou a intenção de abrir 20% da YPF em bolsa, mas a operação foi suspensa.

FIQUE DE OLHO: Oo lucro líquido do grupo caiu 55,4% nos nove primeiros meses de 2009, para 1,257 bilhão de euros, em consequência da redução dos preços internacionais.

TOURO X URSO

O bullish market continua rondando o mercado de ações brasileiro. Na última semana, o Ibovespa subiu 15,3%, acumulando alta de 7,7% em novembro e de 76,64% em 2009. A valorização de ações da Petrobras (73,2% no ano) e da Vale (135%) são um exemplo do apetite do investidor. O saldo de investimento estrangeiro também mostra o bom humor dos estrangeiros: está positivo em R$ 941 milhões em novembro.

Dados pouco animadores sobre o desemprego nos Estados Unidos foram motivo de preocupação na última semana. Esses indicadores de atividade econômica continuarão pressionando o desempenho dos principais índices em Nova York nesta semana. Os agentes no mercado no Brasil também continuarão observando. Na quarta-feira 25, o índice de venda de novas casas também será mais um termômetro para medir a recuperação da economia americana.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA
O escritor Gil Ari Deschatre ensina no livro ?Investimento em Ações ? para momento de crise e de crescimento? como lidar tanto com os momentos de euforia quanto com os de crise, como aquela vivida pelo mercado em 2008. O autor dá sugestões de aplicações para cada um dos perfis de investidor. Editado pela Thomas Nelson Brasil, o livro está à venda por R$ 29,90.

 

MERCADO EM NÚMEROS

 

GERDAU
US$ 1,25 bilhão
É quanto a Gerdau captou no Exterior na quarta 18, com a emissão de bônus com dez anos de prazo e rendimento de 7,25% ao ano. O rendimento ficou 390 pontos básicos acima do título americano de mesmo prazo.

VALE
US$ 4,1 bilhões
É quanto a Vale do Rio Doce vai investir na Argentina, a partir de 2010, na exploração de potássio às margens do rio Colorado, na província de Mendoza.

JBS
US$ 2,5 bilhões
É o valor previsto da captação privada do grupo JBS, o maior processador mundial de carnes. A empresa deve divulgar os termos da operação no próximo mês.

AÇÚCAR GUARANI
R$ 31 MILHÕES
É quanto a Açúcar Guarani pretende investir na produção de açúcar para a próxima safra 2010/11. A empresa também prevê um aporte de R$ 22 milhões na construção de uma nova fábrica.

PETROBRAS
US$ 215 mi
É o valor que a estatal investirá na ampliação da Refinaria Potiguar Clara Camarão, no Rio Grande do Norte. Desde a sua implantação, a Petrobras já aplicou US$ 1,65 bilhão no projeto.

BANCO DO BRASIL
15 anos
de tempo de trabalho na Nossa Caixa ou 50 anos de idade. Este é o perfil dos funcionários de altos salários que o Banco do Brasil quer atrair para o novo plano de demissão voluntária.

PERSONAGEM
Marcopolo reage ao câmbio duro

A apreciação do real nos últimos meses fez a Marcopolo mudar radicalmente o modelo de negócios de suas fábricas no Exterior. Em vez de serem importadoras de peças brasileiras, elas devem buscar a autossuficiência no mercado local. ?Virou o jogo?, diz o diretor-geral, José Rubens de la Rosa. Ele falou à DINHEIRO.

DINHEIRO – O sr. está animado com as perspectivas em 2009 e 2010?
JOSÉ RUBENS DE LA ROSA – Existem dois mundos, o mercado interno e o externo. A situação é diferente. Com a apreciação cambial, o custo Brasil e tudo o que se relaciona a isso, os negócios ficam mais difíceis [internamente]. E o ambiente de negócios está mais difícil lá fora porque o mundo não acompanhou o Brasil, a Índia, a China. Poucos países sinalizam um desempenho melhor e outros vão acompanhar de forma mais lenta e talvez mais atrelada com Estados Unidos e Europa.

DINHEIRO ? Como isso está afetando o negócio da Marcopolo?
DE LA ROSA ? Hoje, o Brasil é um exportador caro. As empresas Marcopolo no Exterior eram bons clientes da Marcopolo Brasil. Com o aumento do câmbio, sou obrigado a aumentar a quantidade de dólares por peça. As empresas no Exterior não conseguem repassar esse aumento no preço final. há uma perda de competitividade nestas unidades e a única alternativa para elas é o desenvolvimento local das peças. Fazemos um movimento intenso de nacionalização das operações no Exterior.

DINHEIRO ? Como está este processo?
DE LA ROSA ? A fábrica da Argentina já é 100% independente. A da Colômbia está na faixa de 80% de nacionalização. O México está em 70% e precisa atingir 90%. A África do Sul está mais ou menos em 40% e precisa subir pelo menos para uns 75%. A Índia já é 100%. No início, o movimento é de que elas fossem grandes compradoras do Brasil.

DINHEIRO ? Mudou a estratégia de negócios?
DE LA ROSA ? Exatamente.

DINHEIRO ? Isso é bom para o acionista? Qual é o efeito para a empresa?
DE LA ROSA ? Tem vários efeitos. A única forma de manutenção dos clientes no Exterior é entregar o produto Marcopolo feito localmente para que seja competitivo. Isso atende o cliente e, em resumo, atende o acionista também. Isso é mais difícil, custoso e traz maiores riscos.

DINHEIRO ? Como ficou o mix de receitas?
DE LA ROSA ? Antes, era 55% no Exterior e 45% no Brasil. Já estamos em 40%-60%. Virou o jogo.
 

AVISO ? Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investi-mento tomadas por seus leitores. O autor detém ações das seguintes empresas: Banco do Brasil, BM&FBovespa, Bradesco, Itaú Unibanco, Pão de Açúcar, Petrobras, Santander Brasil, Usiminas e Vale.

PELO MUNDO

HOME DEPOT

Mesmo no azul, o resultado trimestral da Home Depot derrubou as ações da companhia em 2,38% na terça-feira 16, em Nova York. O lucro ficou em US$ 689 milhões, 8,9% menor na comparação com o terceiro trimestre fiscal de 2008. O motivo? Demanda ainda fraca. O presidente da empresa, Franke Blake, espera queda de 9% nas vendas em 2009.

 

MGM BUSCA NOVO DONO

O estúdio cinematográfico Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) anunciou na segunda-feira 16 que está à procura de um comprador. Entre os potenciais novos donos estão a Time Warner, News Corporation e Lions Gate Entertainment Corporation. Os credores da empresa concordaram em conceder à empresa mais um adiamento, até 31 de janeiro, do pagamento de juros sobre quase US$ 4 bilhões em dívida.

DEMISSÕES NA AOL

A AOL informou na quinta-feira 19 que deverá demitir 2.500 empregados, um terço do total, para economizar US$ 300 milhões ao ano. Dois dias antes, o grupo Time Warner anunciara a separação da AOL, a partir de 9 de dezembro. Nesse dia, os acionistas receberão uma ação ordinária da AOL para cada lote de 411 ações da Time Warner.

 

 

BUFFETT ESTIMULA PEQUENAS EMPRESAS
O Goldman Sachs anunciou na terça 17 um programa, em parceria com o megainvestidor Warren Buffett. Eles investirão US$ 500 milhões na assistência a pequenas empresas. ?As pequenas empresas criarão os empregos que os EUA precisam?, disse Buffett.