23/04/2008 - 7:00
PAPÉIS AVULSOS
Petróleo no Pão de Açúcar
Onde há fumaça, há fogo. Se o boquirroto diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, estiver certo, a Petrobras descobriu o terceiro maior campo de petróleo do mundo. Como a notícia não saiu da Petrobras, mas da ANP, a Comissão de Valores Mobiliários ficou de mãos atadas e nada pôde fazer (leia reportagem à página 34). Maria Helena Santana, presidente da CVM, cogitou suspender as negociações com o papel ? o mais negociado na Bovespa ?, mas desistiu.
?Quando o pregão está chegando ao fim, a última coisa que se pode fazer é uma suspensão das ações?, afirmou. O tempo vai dizer se o megacampo, batizado de Pão de Açúcar, irá colocar o presidente Lula entre os sheiks árabes do petróleo. Mas desde já a especulação com as ações da petrolífera brasileira corre solta. O volume de negócios diários com as preferenciais triplicou e a cotação disparou, chegando a R$ 85,10 na quinta-feira. Os analistas que acompanham a empresa dizem que a notícia é boa, mas é cedo para comemorar as possíveis descobertas e seus impactos nos ganhos da Petrobras. Se confirmadas, as novas reservas levarão cerca de dez anos para se transformar em produção, escreveram os pesquisadores do Credit Suisse, em relatório divulgado na segunda-feira. ?O investidor deve olhar com cautela?, diz Luiz Otávio Broad, da Ágora. ?No curto prazo, os resultados da empresa estão abaixo do esperado.? Ele manteve a recomendação de compra de Petrobras PN, com preço-alvo de R$ 110 em dezembro próximo.
DESTAQUE NO PREGÃO A nova planta da Aracruz PALAVRA DE ANALISTA |
SIDERURGIA
Gerdau quer o seu dinheiro
Prepare o bolso. O Grupo Gerdau está de olho no seu dinheiro. Para fisgá- lo, irá realizar duas ofertas públicas de ações ordinárias e preferenciais. A primeira envolve papéis da Metalúrgica Gerdau, no valor de até R$ 1,2 bilhão. A segunda, da siderúrgica Gerdau S.A., pode chegar a R$2,8 bilhões. A analista Cristiane Viana, da Ágora, vê a empresa de Jorge Gerdau Johannpeter com muito otimismo. ?Continua forte a demanda interna e externa por aço?, justifica. Aqui, o mercado é puxado pelo setor imobiliário, principalmente nos materiais leves. Nos EUA, a companhia atua mais na área de infra-estrutura, que não foi abalada pela crise do subprime. ?Apesar da volatilidade, o grupo tem um nome forte e os fundamentos das duas empresas são muito bons?, diz.
QUEM VEM LÁ
A emissão da Copasa
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) retomou seu plano de emissão secundária, interrompido em janeiro, sem alterar as condições do prospecto inicial. Serão distribuídos 16,3 milhões de ações. Uma parte será vendida pela Codemig e a outra, pela Prefeitura de Belo Horizonte. Se houver demanda, a oferta poderá crescer 15%. O total, conforme a aceitação, poderá ficar entre R$ 400 milhões e R$ 470 milhões. A analista Cristina Garcia, da Lopes Filho, diz que o setor é muito promissor e precisa de muito investimento. ?A Copasa é uma ótima empresa, com bons indicadores de qualidade e baixo nível de perda?, afirma. A inadimplência dos clientes é menor que nas outras do setor, o abastecimento é satisfatório e a população mineira vê qualidade na água da Copasa, presidida por Márcio Augusto Nunes. Mas a ação ordinária caiu 19,91% este ano. ?Infelizmente o papel não deslanchou. A concorrência com empresas de energia tem muito a ver com isso?, diz.
FIQUE DE OLHO O prospecto da operação pode ser baixado no site www.copasa.com.br/ri. Atenção aos fatores de risco, como o impacto da nova lei do setor (11.445/07) sobre a empresa.
TOURO X URSO
A semana promete ser tranqüila para a bolsa de valores. Todas as energias do mercado interno estavam voltadas para a decisão do Copom na semana passada. Com a tensão dissipada, a expectativa é que a bolsa continue com os fatores de alta mais fortalecidos. O touro só perderá para o urso nesta semana se a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira 24, trouxer um fato que possa surpreender.
Dois indicadores nos Estados Unidos podem ser decisivos para os fatores de baixa predominarem ao longo da semana. Serão divulgados os dados sobre as vendas de imóveis novos e usados durante o mês de março. Ainda sob a pressão da crise de hipotecas, os resultados podem provocar uma nova corrida dos investidores americanos para ativos de menor risco. Investimentos em mercados emergentes podem ser penalizados.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Paciência e horizonte de longo prazo são essenciais para se investir em ações. ?Nunca vi pequeno investidor vencer na bolsa investindo em curto prazo?, diz Maurício Hissa, criador do site Bastter.com e autor de livros de educação financeira. No início do mês, ele lançou Sobreviva na Bolsa de Valores (Campus/Elsevier, R$ 49), como parte da coleção Expo Money. ?Só arrisque em ações o dinheiro que pode perder?, aconselha.
DINHEIRO ? Que conselho o sr. dá para o investidor?
ROVAI ? Que antes de reclamar com a Bovespa entre em contato com a corretora. Ela é a prestadora de serviço e muitas vezes consegue resolver o problema sem a necessidade de passar por mim.
DINHEIRO ? Por que o sr. sugere a gravação das conversas entre corretoras e clientes?
ROVAI ? A gravação aumenta a governança corporativa entre bolsa, corretoras e investidores. As principais bolsas do mundo exigem isso. Se ocorrer uma execução infiel de ordem, é possível recuperar o diálogo. É impensável operar com um investidor internacional sem essa gravação. Mas no Brasil não há obrigatoriedade.
PELO MUNDO WACHOVIA PEDE ÁGUA MERRILL LYNCH DEMITE NYT NO VERMELHO REFRATÁRIOS |
Colaboraram: Ana Clara Costa e Márcio Kroehn
AVISO ? Esta seção tem caráter meramente informativo e seu conteúdo não deve ser interpretado como recomendação de investimentos. A revista DINHEIRO não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas por seus leitores. O autor é investidor em ações e detém papéis das seguintes empresas: Vale, Petrobras, Usiminas, Bovespa, BM&F, Bradesco e Itaú.
MERCADO EM NÚMEROS FUSÃO CONSTRUÇÃO ESTRÉIA REFRATÁRIOS LATICÍNIOS |
PERSONAGEM
Reclamação na bolsa é com ele
Oombudsman da Bovespa, Joubert Rovai, foi procurado 2.729 vezes em 2007 pelos investidores em ações. O aumento foi de 75,6% em relação ao ano anterior, refletindo o crescimento do número de investidores pessoa física, que atingiu 456.557 CPFs. Depois de divulgar o balanço, ele falou à DINHEIRO.
DINHEIRO ? O que muda na função do ombudsman com a fusão da Bovespa e da BM&F?
JOUBERT ROVAI ? Ninguém sabe nada ainda. Pelo que eu sei, não existe essa figura na BM&F.
DINHEIRO ? Como o sr. avalia as declarações do diretor da ANP, Haroldo Lima, sobre as descobertas da Petrobras?
ROVAI ? Muito infelizes, para dizer o mínimo. É o desconhecimento sobre a relevância das palavras que afetam a empresa de maior liquidez da bolsa. É um assunto preocupante.
DINHEIRO ? Os investidores foram lesados?
ROVAI ? Lesados é uma palavra muito forte. Mas, se soubesse, quem vendeu antes dessa declaração não teria vendido. Alguns perderam e outros ganharam com o fato. Essas pessoas podem querer ser ressarcidas dessas perdas, mas não sei com quem. Talvez com a União.
DINHEIRO ? O que dá mais trabalho ao ombudsman?
ROVAI ? Os casos em que o investidor reclama que perdeu dinheiro. Há necessidade de reunião na bolsa, auditoria, comprovações das partes.
DINHEIRO ? Alguns investidores reclamam da queda de preços das ações?
ROVAI ? Não se queixam de preço, não. O máximo é um comentário. Quando chega uma reclamação sobre comportamento indevido, atos ou decisões das companhias listadas, encaminho para a CVM. As decisões sobre empresas ocorrem lá. Posso, no máximo, dar minha percepção do caso. Mas o nível de desinformação é grande. Poucos leram a Lei das S/A.